segunda-feira, 31 de agosto de 2015


O DANADO DO MEDO...


Nasci no interior do Estado do Rio de Janeiro. Lá, alguns dos modismos linguísticos (de contexto), proferidos popularmente, apontam para formas coloquiais como o adjetivo danado, que quer dizer, num de seus significados mais empregados:
“Diz-se de pessoa que está zangada, furiosa; IRADO”

Ou  (completo): malquisto, indesejado, desqualificado e coisa que o valha (em conotação popularmente aplicada).  

Volto para o danado do medo (em sua concepção semântica primária): esse sujeito ruim, pérfido, mau conselheiro e traiçoeiro! Não, não acredito nele! E, decididamente, não tenho medo do medo! Não costumo sucumbir a seus presságios mentirosos e a seus risinhos de escárnio de canto de lábio... Prefiro acreditar na sua opositora de base: a guerreira, impávida e verdadeira coragem!

Isso é verdade mesmo: cada vez que o medo se me apresenta, fecho a cara para ele e mostro que tenho uma carapaça como a de uma tartaruga de 300 anos, de tão resistente a agruras selvagens!

Pois é assim que lido com o medo: exibo-lhe carapaça, elmo, armadura e redomas ultraprotetoras de longa distância. Ai dele se tentar me atingir; terá seus raios infravermelhos devolvidos a seu olho de furacão!...

Brincadeiras à parte, é claro que há outros modos de desvencilhamento da adversidade (leia-se do oponente, do inimigo) e, nestes casos, usar disfarces na hora da rebatida pode ser um caminho inteligente. A propósito, Sun Tzu nos ensina logo no início de sua atemporal obra A arte da guerra: "Toda luta é baseada em algum truque". Assim, estratégias como simulação ou planejamento tático de oclusão são funcionais para medo e/ou reação ante inevitáveis batalhas cotidianas. 

Falando sem metáforas ou simbologias, acho mesmo que a melhor maneira de lidar com esse inimigo (invisível, mitas vezes), independentemente de adversários ou armações, se pauta em algumas atitudes – uma vez diante de suas ameaças (variadas) – sempre tendo em mente que você pode dominar o danado do medo, até mesmo aquele inconsciente, arraigado, tão pessoal (reitero, sem considerarmos apenas as ameaças ou as intimidações externas). Isso também vale para o medo de coisas boas (esse medo também existe!). Portanto, creio que seja oportuno: 

... NÃO FUGIR DELE, NUNCA! Encare-o e:

– Se é  medo de um olhar pretensamente fulminante, não desvie seus olhos; mire-o bem de frente!
– Se é de um resultado de exame: abra-o!
– Se é da proximidade de uma data, como a de uma cirurgia, não proscrastine a sua chegada com mente indutora de prévio perigo;
– Se é de um problema que não acaba com o tempo, antecipe o seu enfrentamento e, a partir disso, sua solução;
– Se é medo de injeção, não se entregue ao nervosismo: temos cápsulas, homeopatia (acupuntura não vale... rs) e até hipnose para tentarmos vencer aquela sua amigdalite bacteriana (sem Bezentacil!);


– Se é medo de avião, leia sobre aerodinâmica e, quando estiver sobrevoando o Atlântico ou o Pacífico, lembre-se dos princípios científicos que abalizam a sustentação da aeronave no ar (risos sem turbulências);
– Se é uma fobia infundada, tente destruí-la, antes que ela o faça com a sua psique. A propósito, eu combati quase completamente a minha acrofobia (e, se você não tem, não pode imaginar como é quase orgânico, uma reação biológica o tal medo de altura!);
– Se é medo de declarar o seu amor, mostre-o, revele-se! Afinal, como vocês poderão ficar juntos se o outro não souber que você também o quer?
– Se é um inimigo dissimulado e cruel, mostre a ele que a verdade e a grandeza triunfam, não importa quando! Mas se lembre do mencionado acima: planeje, dissimule se preciso for e, só então, mostre a sua face de resistência;
– Se é medo de fantasma, não se assuste de antemão! A respeito garanto: só vi uma vez – e o espectro nada me fez!... Brincadeiras à parte, já pensou se tais seres (com todo o seu intrínseco-poder-de-alémmm) influíssem na vida dos humanos? Ninguém mais conseguiria sobreviver aos fantasminhas – onipotentes, oinipresentes, invisíveis, intocáveis, “imortais”... Ahahahah!





– Se é medo de investir seu dinheiro ante riscos calculados, lembre-se de que, como dizia o Rei do Café no Brasil, Joaquim José de Souza Breves, a (original) moeda já é redonda porque precisa circular, ir e vir, e que o que vai – se segue em livre fluxo – volta... retornará ao seu bolso;
– Se é dos maus olhos do invejoso, tranquilize-se, pois o que ele possui em abundância é fraqueza; portanto, assim como ele não pode com suas qualidades, também não pode com a sua retaguarda! 
– Se é medo do tempo, console-se comigo, que cultivo ante este uma espécie de reverência, pois sei que ele anda sempre à espreita... e, em fúrias ocasionais, a galope! E alcançá-lo é missão quase inglória... Então, contra ele acirre sua produtividade e durma menos!
– Se é medo da morte, cultive amplamente uma arte, se a tiver pujante em seu espírito... Afinal, a maior adversária da morte é a posteridade, e esta chega principalmente pelos caminhos da arte, que é eterna! Mas, se seu espírito não é artístico, apenas reforce sua saúde, viaje e vivencie a amplitude do presente;
– Se é medo do novo, do desconhecido, esqueça: nada pode ser melhor que renovar a vida, que ter outras experiências,  multifacetadas pessoas e distantes mundos!
– Se é medo de E.T. tranquilize-se...que – ainda que eles existam (é bem provável) não irão atrás de você nem de atacar... Pelo visto, não são nada bélicos; povo de paz. Quer uma prova? Cansei de pedir para ser abduzida e nunca – nenhum deles –, em tempo algum, se dignou a vir me buscar para uma (sequer curta) temporada em sua nave sideral;
–  Se é medo de ser feliz (sim, isso existe!), não seja tão sensato sempre, desista de ser precavido e pare de seguir fórmulas de contenção; solte-se para a liberdade da vida e pare de procrastinar a felicidade!
– Se é medo simples, como o de dirigir (veículos automotores) e você mora no Rio de Janeiro, procure aquela autoescola de Botafogo com preparação emocional no pacote... Ih! Terminou a lista, então, porque tenho esse medo, moro na dita cidade (e nada faço a respeito)... e agora perdi a  para falar sobre o tema (risos pálidos, que ora me lembram as flores “amarelas e medrosas” de Drummond)...­­­­­­­­­­
– Se é medo de dentista... Pronto, agora mesmo que acabou a enumeração dos medos! (mais risos amarelos, sem flúor).




Mas... para que o temor? Nada de medos. Afinal, isso aqui não é manual professoral de autoajuda e, sim, uma descontraída crônica, da categoria das lúdico-reflexivas, tão somente.
NÃO AO MEDO, de qualquer tipo! Viva a sua grande antagonista, a coragem! Ela, mais que uma crônica, vale um livro inteiro de receitas (bem-afortunadas) de vida! 


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