segunda-feira, 31 de agosto de 2015


A espetacular arte de enxergar o invisível





Acreditar no que nos mostram os olhos, obviamente, é fácil. Ato simplista até para os de pouca imaginação. No entanto, acreditar no intangível e apostar no que ainda não chegou – creia – é poder para poucos!

Assim é que o oposto do dito teorema metafísico do apóstolo Tomé ou a filosofia de Parmênides se tornam desafios dos mais propiciadores. Que ampla potencialidade não será esta de garantirmos condição ao que ainda inexiste?!... Ora, antecipar-se ao fato é sinal de intelecção; porém, conceber uma essência que ainda não se mostra (delineada, de todo) é dom próprio de vates ou magos... Nada como a presunção do preconcebido, do permitido, do imaginado!

Pautada nesse (pre)sentir, creio mesmo – ao longo da vida – andar a vislumbrar o invisível. Sou fã autêntica do imponderável e – acredite – não vejo anomalia psíquica alguma em se enxergar Pegasus e dar cores a unicórnios! Excesso de imaginação? Não; talvez uma mescla ousada de Poética e Metafísica, com pitadas de Filosofia e Hermenêutica de quem o faz... E, aportando de volta no terreno presente do concreto, permito-me especular o seguinte: o abstrato é aquela força que você não vê, mas sente! Como se tal lhe tocasse os pulsos na medida em que lhe invade o sentimento e a percepção (sobre)humana. Quer um exemplo? O amor... ou a paixão, se preferir. Imagino que você, leitor, já tenha se apaixonado. Como não?! Minimamente uma vez (com raríssimas exceções entre humanos), você já se apaixonou. Então: como podia você, naquele momento, deixar de crer naquela sensação de absurdo tamanho, a tomar-lhe palavras, silêncios, pernas e sentidos? Você sentia a presença (até mesmo) quando distante, nutria vácuos de saudade e fazia se apossar de uma ternura tal o seu comboio de cordas que, mesmo não podendo ver ou tocar o tal sentimento, sabia concretamente de sua existência. Pois essa é a contraprova do teorema imperfeito da concepção racionalista de Parmênides: a garantia de existência do invisível.



Mas, sem tantas filosofias, o leitor de hoje – imerso num mundo sobremaneira pragmático – pode se indagar para que tanta divagação como a que aqui se propõe, afinal... Simples: já há uns tempos estou vendo tomar forma algo que claramente ainda não existe, não se consumando ainda no plano do concreto.  Não estou falando de amores; não é isso. A respeito, há cerca de três anos ouvi de uma catedrática da Miami University que minha literatura se diferencia do convencionado – no approach característico de minhas crônicas – por não falar de amores e dores (que bom!)... E tal a minha genuína proposta literária não aborda mesmo a amorosidade, em cerne ou preponderância. 
E não é isso, de modo absoluto, que a minha lauda eletrônica propõe hoje. Falo de sentimento, sim, mas de algo mais, de um sentir que se faz pré-ciência, talvez um relance de avanço de intelecção pré(sentida), por assim dizer.

Parece-me mesmo que tais coisas  preexistem, completando  no Cosmo um (pré)espaço que já é só delas: o terreno do particularmente tangível (por anterioridade), aquele âmago de um objeto ou ser que é só dele, que se consubstancia naquele domínio. Ok, você deve estar pensando que “vejo coisas”, que enxergo espectros que não existem... Sim, verdade: penso já enxergar, ora, coisas que ainda não se configuram como reais, mas que se encontram por aí em ebulição prévia, borbulhando os ares de sua complexa e apoteótica existência!... A comprovar! Isso, então, é matéria para um próximo post... 



Por Sayonara Salvioli

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