segunda-feira, 31 de agosto de 2015


A espetacular arte de enxergar o invisível





Acreditar no que nos mostram os olhos, obviamente, é fácil. Ato simplista até para os de pouca imaginação. No entanto, acreditar no intangível e apostar no que ainda não chegou – creia – é poder para poucos!

Assim é que o oposto do dito teorema metafísico do apóstolo Tomé ou a filosofia de Parmênides se tornam desafios dos mais propiciadores. Que ampla potencialidade não será esta de garantirmos condição ao que ainda inexiste?!... Ora, antecipar-se ao fato é sinal de intelecção; porém, conceber uma essência que ainda não se mostra (delineada, de todo) é dom próprio de vates ou magos... Nada como a presunção do preconcebido, do permitido, do imaginado!

Pautada nesse (pre)sentir, creio mesmo – ao longo da vida – andar a vislumbrar o invisível. Sou fã autêntica do imponderável e – acredite – não vejo anomalia psíquica alguma em se enxergar Pegasus e dar cores a unicórnios! Excesso de imaginação? Não; talvez uma mescla ousada de Poética e Metafísica, com pitadas de Filosofia e Hermenêutica de quem o faz... E, aportando de volta no terreno presente do concreto, permito-me especular o seguinte: o abstrato é aquela força que você não vê, mas sente! Como se tal lhe tocasse os pulsos na medida em que lhe invade o sentimento e a percepção (sobre)humana. Quer um exemplo? O amor... ou a paixão, se preferir. Imagino que você, leitor, já tenha se apaixonado. Como não?! Minimamente uma vez (com raríssimas exceções entre humanos), você já se apaixonou. Então: como podia você, naquele momento, deixar de crer naquela sensação de absurdo tamanho, a tomar-lhe palavras, silêncios, pernas e sentidos? Você sentia a presença (até mesmo) quando distante, nutria vácuos de saudade e fazia se apossar de uma ternura tal o seu comboio de cordas que, mesmo não podendo ver ou tocar o tal sentimento, sabia concretamente de sua existência. Pois essa é a contraprova do teorema imperfeito da concepção racionalista de Parmênides: a garantia de existência do invisível.



Mas, sem tantas filosofias, o leitor de hoje – imerso num mundo sobremaneira pragmático – pode se indagar para que tanta divagação como a que aqui se propõe, afinal... Simples: já há uns tempos estou vendo tomar forma algo que claramente ainda não existe, não se consumando ainda no plano do concreto.  Não estou falando de amores; não é isso. A respeito, há cerca de três anos ouvi de uma catedrática da Miami University que minha literatura se diferencia do convencionado – no approach característico de minhas crônicas – por não falar de amores e dores (que bom!)... E tal a minha genuína proposta literária não aborda mesmo a amorosidade, em cerne ou preponderância. 
E não é isso, de modo absoluto, que a minha lauda eletrônica propõe hoje. Falo de sentimento, sim, mas de algo mais, de um sentir que se faz pré-ciência, talvez um relance de avanço de intelecção pré(sentida), por assim dizer.

Parece-me mesmo que tais coisas  preexistem, completando  no Cosmo um (pré)espaço que já é só delas: o terreno do particularmente tangível (por anterioridade), aquele âmago de um objeto ou ser que é só dele, que se consubstancia naquele domínio. Ok, você deve estar pensando que “vejo coisas”, que enxergo espectros que não existem... Sim, verdade: penso já enxergar, ora, coisas que ainda não se configuram como reais, mas que se encontram por aí em ebulição prévia, borbulhando os ares de sua complexa e apoteótica existência!... A comprovar! Isso, então, é matéria para um próximo post... 



Por Sayonara Salvioli

O DANADO DO MEDO...


Nasci no interior do Estado do Rio de Janeiro. Lá, alguns dos modismos linguísticos (de contexto), proferidos popularmente, apontam para formas coloquiais como o adjetivo danado, que quer dizer, num de seus significados mais empregados:
“Diz-se de pessoa que está zangada, furiosa; IRADO”

Ou  (completo): malquisto, indesejado, desqualificado e coisa que o valha (em conotação popularmente aplicada).  

Volto para o danado do medo (em sua concepção semântica primária): esse sujeito ruim, pérfido, mau conselheiro e traiçoeiro! Não, não acredito nele! E, decididamente, não tenho medo do medo! Não costumo sucumbir a seus presságios mentirosos e a seus risinhos de escárnio de canto de lábio... Prefiro acreditar na sua opositora de base: a guerreira, impávida e verdadeira coragem!

Isso é verdade mesmo: cada vez que o medo se me apresenta, fecho a cara para ele e mostro que tenho uma carapaça como a de uma tartaruga de 300 anos, de tão resistente a agruras selvagens!

Pois é assim que lido com o medo: exibo-lhe carapaça, elmo, armadura e redomas ultraprotetoras de longa distância. Ai dele se tentar me atingir; terá seus raios infravermelhos devolvidos a seu olho de furacão!...

Brincadeiras à parte, é claro que há outros modos de desvencilhamento da adversidade (leia-se do oponente, do inimigo) e, nestes casos, usar disfarces na hora da rebatida pode ser um caminho inteligente. A propósito, Sun Tzu nos ensina logo no início de sua atemporal obra A arte da guerra: "Toda luta é baseada em algum truque". Assim, estratégias como simulação ou planejamento tático de oclusão são funcionais para medo e/ou reação ante inevitáveis batalhas cotidianas. 

Falando sem metáforas ou simbologias, acho mesmo que a melhor maneira de lidar com esse inimigo (invisível, mitas vezes), independentemente de adversários ou armações, se pauta em algumas atitudes – uma vez diante de suas ameaças (variadas) – sempre tendo em mente que você pode dominar o danado do medo, até mesmo aquele inconsciente, arraigado, tão pessoal (reitero, sem considerarmos apenas as ameaças ou as intimidações externas). Isso também vale para o medo de coisas boas (esse medo também existe!). Portanto, creio que seja oportuno: 

... NÃO FUGIR DELE, NUNCA! Encare-o e:

– Se é  medo de um olhar pretensamente fulminante, não desvie seus olhos; mire-o bem de frente!
– Se é de um resultado de exame: abra-o!
– Se é da proximidade de uma data, como a de uma cirurgia, não proscrastine a sua chegada com mente indutora de prévio perigo;
– Se é de um problema que não acaba com o tempo, antecipe o seu enfrentamento e, a partir disso, sua solução;
– Se é medo de injeção, não se entregue ao nervosismo: temos cápsulas, homeopatia (acupuntura não vale... rs) e até hipnose para tentarmos vencer aquela sua amigdalite bacteriana (sem Bezentacil!);


– Se é medo de avião, leia sobre aerodinâmica e, quando estiver sobrevoando o Atlântico ou o Pacífico, lembre-se dos princípios científicos que abalizam a sustentação da aeronave no ar (risos sem turbulências);
– Se é uma fobia infundada, tente destruí-la, antes que ela o faça com a sua psique. A propósito, eu combati quase completamente a minha acrofobia (e, se você não tem, não pode imaginar como é quase orgânico, uma reação biológica o tal medo de altura!);
– Se é medo de declarar o seu amor, mostre-o, revele-se! Afinal, como vocês poderão ficar juntos se o outro não souber que você também o quer?
– Se é um inimigo dissimulado e cruel, mostre a ele que a verdade e a grandeza triunfam, não importa quando! Mas se lembre do mencionado acima: planeje, dissimule se preciso for e, só então, mostre a sua face de resistência;
– Se é medo de fantasma, não se assuste de antemão! A respeito garanto: só vi uma vez – e o espectro nada me fez!... Brincadeiras à parte, já pensou se tais seres (com todo o seu intrínseco-poder-de-alémmm) influíssem na vida dos humanos? Ninguém mais conseguiria sobreviver aos fantasminhas – onipotentes, oinipresentes, invisíveis, intocáveis, “imortais”... Ahahahah!





– Se é medo de investir seu dinheiro ante riscos calculados, lembre-se de que, como dizia o Rei do Café no Brasil, Joaquim José de Souza Breves, a (original) moeda já é redonda porque precisa circular, ir e vir, e que o que vai – se segue em livre fluxo – volta... retornará ao seu bolso;
– Se é dos maus olhos do invejoso, tranquilize-se, pois o que ele possui em abundância é fraqueza; portanto, assim como ele não pode com suas qualidades, também não pode com a sua retaguarda! 
– Se é medo do tempo, console-se comigo, que cultivo ante este uma espécie de reverência, pois sei que ele anda sempre à espreita... e, em fúrias ocasionais, a galope! E alcançá-lo é missão quase inglória... Então, contra ele acirre sua produtividade e durma menos!
– Se é medo da morte, cultive amplamente uma arte, se a tiver pujante em seu espírito... Afinal, a maior adversária da morte é a posteridade, e esta chega principalmente pelos caminhos da arte, que é eterna! Mas, se seu espírito não é artístico, apenas reforce sua saúde, viaje e vivencie a amplitude do presente;
– Se é medo do novo, do desconhecido, esqueça: nada pode ser melhor que renovar a vida, que ter outras experiências,  multifacetadas pessoas e distantes mundos!
– Se é medo de E.T. tranquilize-se...que – ainda que eles existam (é bem provável) não irão atrás de você nem de atacar... Pelo visto, não são nada bélicos; povo de paz. Quer uma prova? Cansei de pedir para ser abduzida e nunca – nenhum deles –, em tempo algum, se dignou a vir me buscar para uma (sequer curta) temporada em sua nave sideral;
–  Se é medo de ser feliz (sim, isso existe!), não seja tão sensato sempre, desista de ser precavido e pare de seguir fórmulas de contenção; solte-se para a liberdade da vida e pare de procrastinar a felicidade!
– Se é medo simples, como o de dirigir (veículos automotores) e você mora no Rio de Janeiro, procure aquela autoescola de Botafogo com preparação emocional no pacote... Ih! Terminou a lista, então, porque tenho esse medo, moro na dita cidade (e nada faço a respeito)... e agora perdi a  para falar sobre o tema (risos pálidos, que ora me lembram as flores “amarelas e medrosas” de Drummond)...­­­­­­­­­­
– Se é medo de dentista... Pronto, agora mesmo que acabou a enumeração dos medos! (mais risos amarelos, sem flúor).




Mas... para que o temor? Nada de medos. Afinal, isso aqui não é manual professoral de autoajuda e, sim, uma descontraída crônica, da categoria das lúdico-reflexivas, tão somente.
NÃO AO MEDO, de qualquer tipo! Viva a sua grande antagonista, a coragem! Ela, mais que uma crônica, vale um livro inteiro de receitas (bem-afortunadas) de vida! 


Prazos, cadências e etapas... ou engrenagens universais


                                        Estágios evolutivos da divisão celular do desmid (Micrasterias thomasiana) – uma alga verde encontrada em pântanos


Prazo no trabalho precisa obedecer a etapas rápidas, dinâmicas e providentes. É preciso resolver, fabricar, entregar o objeto profissional e ponto. Não se admitem esperas ou postergações em detrimento da eficiência.

Porém, nos objetivos de vida – na aplicação do sonho de prazo médio ou longo –,  assim  como na natureza, o universo ensina, infelizmente, que tudo é constituído por segmentações temporais – as ditas etapas –, com raras exceções. Mas talvez tal se justifique com sabedoria e base. A maior parte dos acontecimentos parece consumar-se aos poucos, bem cadenciadamente, obedecendo a níveis paulatinos de ações. As coisas vão se construindo, os tais degraus se sobrepondo, até que se possa, afinal, fincar a bandeira no topo da montanha azul. Essa construção de todos os dias parece mesmo ser uma lei.

Filosofias e religiões nos lembram isso, a seu particular modo. Da Bíblia por exemplo, temos os registros (lições) desde o Gênesis – sobre a (simbólica?) construção gradual do universo nos tais 7 dias – até o ensinamento essencialmente filosófico “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”.[Eclesiastes 3:1]. 

Parece-me que realmente assim é. Os anos insistem em me dizer que desejos e objetivos para sua consumação, por vezes, precisam esperar semanas, meses, anos, por vezes até décadas.




No entanto, minha natureza claramente impetuosa sempre se debateu contra isso, refutando tal suposta verdade. Lembro-me de, ainda bem pequena, dizer a meu pai:

– Mas isso vai ser feito agora, não é?

Ao que ele não assentia, explicando que “as coisas não se resolvem assim de uma hora para outra”. Mais tarde escutei isso de outras pessoas, na dinâmica normal da convivência social. Nunca concordei muito e, para ser justa e condizente com o meu pensar, sempre agi (e ajo) de modo a acelerar os processos. A questão, no entanto, é que o clima das circunstâncias não é uma questão pessoal; de nós independe a velocidade dos ventos. Podemos, com pensamentos e ações adequadas, direcionar a até acelerar a chegada do fato, mas um agendamento preciso e a conclusão – efetiva, final – não podem ser desencadeados pelo desejo pessoal. Perseverantemente, podemos ter nas mãos a completude, quase podemos prover os objetivos. Quase...

E é nesse quase – na possibilidade anunciada, na prerrogativa que se abre, na opção desbravada, na ação começada e continuada – que pauto minha crença no acontecimento. E me dedico mesmo a forjá-lo, não a meu bel-prazer meramente, mas com a intencionalidade aguda de minhas ações mais efetivas. 

Mas voltemos ao consumar (depois do querer):  nem sempre podemos consumar o idealizado, por forças e motivos vários. Nesse ritmo, as tais (poucas, breves) 24 horas do calendário de Gregório não ajudam, decididamente.  

Bom, esse é o universo das engrenagens concretas, solenemente diuturnas, as quais – em conjuntura universal – movem o mundo físico e o fazer material. Disso me conscientizei e às vezes digo, olhando o topete do prazo do Cosmo: O.K., o tempo é seu. Meio inconformada em alguns episódios, é claro, mas com a consciência de aceitar o que é inconteste. É claro que sem deixar de adestrar o meu pensamento face aos desejos... Entro com a minha pequena parcela nessa soma, claro! Mas me imponho velocidade (e ao mundo) em algumas situações, ao passo que em outras espero, quieta – com olhos fitos, mas intenção e coração amainados... Por um tempo, apenas. Acredite: ainda que numa pequena hibernação de vida, quando se alcança esse nirvana da introspecção programada, silente, é magneticamente acionada a tal chave da hora anunciada pela perspectiva!... Aí, é aguardar o mover em si das engrenagens do universo.

E pelo aspecto metafísico – mesmo fugindo à minha natureza exacerbada –, estou cada vez mais convicta da verdade do (tão professado) pensamento religioso: “o nosso tempo não é o mesmo tempo de Deus”. Sim, meu leitor, a Providência – se não rápida, pode mesmo ser efetiva e grandiosa quando vier, a ponto de suplantar nossos desejos mais ousados! Você faz a sua parte: sonha, planeja, age. Contudo, em alguns casos, espera; cultiva a sabedoria da perspectiva aplicada. Afinal, em Sua justiça, o Benfeitor-mor pode conceder asas de mais sustentação ao seu almejado voo.




E aí, em viés cadencial, você pode chegar a próximo/futuro acordo feliz com Mestre Tempo: O.K., você me surpreendeu, Mr. Chronos!



domingo, 30 de agosto de 2015

Um sonho novo a cada dia




Por que mudam tanto as demandas e as urgências na pauta dos desejos pessoais? Novas assertivas para antigas questões... O universo como um caleidoscópio infinito: perspectivas e planos novos, diferenciados... a cada dia! Eis a tônica desses tempos: uma vida real de hiperlinks: uma coisa o remete a outra; um desejo desencadeia uma demanda sucessiva, e assim gira a roda.

Ora, por que se modificam nossos interesses e necessidades em nível existencial? Nada permanece estático ou incólume às transformações que, dia a dia, se operam no humano. Atire a primeira ironia quem nunca mudou de ideia, sonho, partido, endereço, curso, amor ou causa!...

É assim mesmo: as intenções humanas são variáveis, oscilantes; trocam de face com a mesma instabilidade da rotação da Terra. E isso não é uma crítica a outrem, pois nessa categoria me incluo, com todas as minhas instabilidades e gradações do tempo.

Mas a mudança, a repaginação e o salto do trapézio são eficazes bálsamos para o marasmo da vida, concorda? Quando a monotonia ou a deslembrança motivam a sua evasão, tudo mais é motivo para uma franca expansão do espírito... É como se você pegasse suas asas de estepe (aquelas suplentes que você guarda para horas mais extensas de voo) e as elastizasse rumo à atmosfera nova! Sim, pode haver algo mais estimulante do que plainar por aí em ares inteiramente novos?

Apesar da minha franca abertura ao novo, creio não ser muito instável, mas se até eu – em meu autojulgamento – observo que, a cada dia, estabeleço metas e interesses novos, fico pensando que isso é mesmo um atributo comum ao ente humano: a possibilidade de apresentar multifaces, mil intenções, um sonho cintilando a cada dia! Realmente tal não se pode negar: muitas vezes, aquela demanda pessoal com a qual você vai dormir simplesmente deixa de existir quando você acorda no dia seguinte... Em seu lugar, um novo apelo, uma sedução diferente, um passo adiante. Amanhã você já terá um sonho novo: mudará totalmente seu objeto de amores!

Acredito mesmo que não só os ditos volúveis sejam assim (não sou volúvel), mas minha expectativa está sempre de cara nova e com vontade de (re)ver e correr mundo! E a vontade da vez é sempre altaneira: imponente, suplanta a anterior e, mesmo, se esquece do imperativo que a comandava ontem... Meu cérebro alado é um permanente hospedeiro de ideias, sensações e buscas! É uma questão de ir descascando a vida, que tem muitas camadas... E como não ser suscetível a isso? Não é meramente aquela história de mudar de ideia a cada minuto, não! Tenho mesmo a mania de revirar, na véspera, as tais bugigangas do próximo futuro, saudando por antecipação o dia que está nascendo... Quando cai a noite e se levanta o dia – na metáfora e na realidade – estou acordada, vivíssima, saltitante, com os olhos bem abertos para o dourado do sol nascente... E o mais incrível é exatamente o seguinte: percebo novas nuances, matizes degradé, tons diferenciados a cada horizonte das viradas contínuas da Terra... Sem apegos e manietações, mesmo.

E você? Já apanhou suas antigas vontades saindo correndo por aí? Penso que não devemos resgatá-las e manietá-las à mesmice de um sol pálido... Nada de mormaços e astros debaixo de nuvens! É preciso ter coragem e vontade de se postar sob sol colorido e forte, sentindo na pele um ardor de alma, a vibração do sonho que morre e renasce sob o signo das (mais de trezentas) frações da translação existencial.


É desse renovar de aspirações que se alimenta a alma humana, na busca das grandes conquistas da vida – da felicidade, tal como a mensurou e classificou Aristóteles. Então, a renovada ordem do(s) dia(s) é: seja aristotelicamente feliz! De minha parte, insisto nessa ideia rizomática de sorrir novos sorrisos... e, assim, vou me munindo de novas ideias, indumentárias e fantasias para a alma todos os dias! Troco de sapatos, customizo sedas e reciclo os modelos das antigas estações. Assim é constantemente sortida minha loja pessoal de pequenas felicidades! Que tal sortir também a casa de suas vivências?... 




sábado, 29 de agosto de 2015




Pensar colorido


Ninguém duvida do poder do pensamento. E – ainda que não apreciemos o nicho –, as estatísticas de vendas dos livros de autoajuda aí estão para provar isso. Mas você não precisa seguir dicas de linguistas especialistas em Neurociência para dar um rumo positivo à sua vida. Obviamente que não. Para alcançar estágios graduais de desenvolvimento e felicidade, a questão é: você – e mais ninguém – precisa saber controlar o seu pensamento. Sem conselhos e regras, sem as tais páginas de autoajuda, sem estimulantes humanos, químicos ou psíquicos. Quem deve alicerçar a base da sua vida é a força de sua própria vontade; o resto é elemento acessório. No fim – e no início – das contas, você necessita mesmo cultivar o seu próprio pensamento colorido. A dica da vez é não pensar em preto e branco – nada de pensamentos cor-de-cinza!

Antes de começar a desbravá-lo, no entanto, é preciso entender por que e como funciona essa tal e propalada força do pensamento. Ora, existem máximas e definições que versam sobre o assunto. Porém, a verdade é uma só: você puxa para si aquilo que emite e emana. Em outras palavras, sua mente pode ser indiscutível base de atração para as condições e características de sua vida – saúde, bem-estar, trabalho, amor e perspectivas podem estar diretamente ligados ao que determina seu próprio eu – uma espécie de senhor (quase) absoluto dos acontecimentos. Mas, então, você pode perguntar: meu pensamento – seja de que cor(es) for – e meu arbítrio são únicos na determinação das circunstâncias? Em minha opinião, não, porque acredito na força direta da Divindade, da Criação, de Deus (aí entramos em Metafísica e Teologia) mas – mesmo considerando tal viés –, é passível de se pensar: ora, se refletimos uma deidade, claro deve estar que também trazemos em nós fagulhas do divino. Seriam, pois, tais pontos de luz e combustão capazes de eclodir as circunstâncias...

Eu acredito firmemente nesse poder, quer pela sugestão, quer por mecanismos outros ainda que não-explicados, quer por fé, embasamentos míticos, filosóficos ou religIosos. Em suma: creio no alcance extraordinário do pensamento positivo, aqui dito colorido! A respeito, já tive provas.

Sem filosofar tanto, passemos primeiro pela Ciência: especialistas os mais diversos e pesquisadores tarimbados do assunto buscam, continuamente, as reais relações entre “pensar colorido” e obter sucesso no que se deseja. Tais estudos e experiências querem, objetivamente, delinear o verdadeiro raio de ação do pensamento na vida, na saúde e na felicidade de uma pessoa.

Conceitos de Parapsicologia, Física Quântica, Lei da Atração... Sem adentrarmos esses terrenos – de tênues camadas palpáveis –, podemos, sim, discorrer (e divagar um pouco) sobre o tema a partir de fundamentos científicos já registrados. Um exemplo de paralelismo: assim como um grande estresse pode acelerar as batidas cardíacas, trazendo um aumento da pressão arterial e, com isso, um indesejável aceleramento com probabilidade de infarto, o contrário também parece ser máxima perfeita. Já li e vi depoimentos de ícones mundiais da Medicina que afirmam: emoções e pensamentos positivos podem contribuir grandemente para a saúde. Bom, não sou cientista, mas me lembro bem de tais leituras e experiências de apreensão de conhecimento. Delas me ficaram a seguinte memória: pessoas que possuem maior autocontrole (pensamentos e consequentes ações) estão menos suscetíveis a sofrerem um ataque do coração ou, mesmo, de desenvolverem doenças cardiovasculares. Na esteira dessa constatação, aqueles incapazes de controlarem sua mente – com mais precisão e firmeza – simplesmente estão no grupo dos que sucumbem a um infarto.

Também me lembro, en passant, de relatos científicos de experiências dando conta de memorável situação: grupos de pessoas entrevistadas – com base nessa questão de domínio da mente e exercício do otimismo – mais de uma década depois tiveram “seu futuro” estudado e... resultado: os de pensamento positivo sobreviveram mais às agruras da vida, com maior expectativa de longevidade e qualidade vital. Ou seja: o grupo dos que acreditavam mais em possibilidades boas superou, claramente – em teor de vida e saúde – o grupo dos que olhavam a vida com menos cor. Um aparte literário: as lentes cinzentas do pessimismo não cabem nem mesmo na visão nostálgica do poeta... Sobre isso, Fernando Pessoa constatou e alertou: “Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incómodo”. Sim, sem tragédias. E, mesmo, sem o tragicômico para o coração, a mente, os sentidos.

Falando em sentidos, outra coisa: além do coração, a visão de uma pessoa também está diretamente ligada ao seu pensamento. Já soube a respeito? Verdade. Sob um prisma de visão de cores, a visão de mundo de uma pessoa é literalmente alterada, pois o estado emocional/mental (bom humor, frequências energéticas, astral leve) pode influenciar funcionalidades do córtex visual, que é nada menos que a parte do cérebro designada a processar informações e indícios da visão. Isso é científico. A coisa é tal que pessoas bem-humoradas e decididas a enxergar o mundo colorido conseguem, de fato, ver melhor uma figura, visualizando com perfeição detalhes de seu segundo plano. Opostamente, aqueles de humor cinzento simplesmente não enxergam imagéticas de planos de fundo. Alerta plus: também já constatei isso pessoalmente, acredite! Os dotados de tal pensamento dominarem as particularidades de um mosaico!... E tal não se trata de achismo ou impressão. Há, muito além disso, os resultados de aprofundadas pesquisas no âmbito. Assim é que podemos afirmar que um humor feliz pode mesmo trazer uma matizada visão de mundo (risos em caleidoscópio)!... Por isso é que, amplamente, se pode dizer que o pensamento colorido abre uma janela para um mais amplo horizonte da existência.

Voltando a teorias generalizadas – mantidas entre filósofos e religiosos e também por personalidades científicas, reitere-se –, muitos destes creem rigorosamente na existência de duas categorias de pessoas: as que têm pensamento positivo (que prefiro aqui chamar de dotadas de pensamento colorido, já que é aquela maneira da cor do alto astral de olhar o mundo) e, por isso, controlam sua mente; e, no outro polo, as pessoas de pensamento negativo, incapazes de controlarem a própria vida. A estas, o ocaso, o medo, o sofrimento e, muitas vezes, a derrota... Aos primeiros, tudo! Cabe-lhes todas as parcelas do sucesso, da saúde e da felicidade!... Tal parece exagero a você? Pois digo: não é mesmo! As pessoas portadoras de pensamento colorido realmente podem mais, a ponto de controlarem não somente a si como também a muitas das pessoas que as cercam. É fato! São agentes impulsionadores de êxito social, profissional, cultural etc. Como seu viés de visão particular, ajudam a pintar a face do mundo e delinear suas nuances ajustadas a si. São capazes de persuadir a outrem de muitas coisas e ajudarem a transformar tendências e contextos.


Então, meu leitor, a melhor perspectiva é justamente esta de um mundo focalizado a partir do pensar colorido... Concorda? Não pense preto e branco; pinte com cores vivas o seu pensamento e depois observe se não se consumaram, mesmo, diferenças (leiam-se evoluções) em seu plano existencial!... 








sexta-feira, 21 de agosto de 2015


Precisa-se de um táxi em Paris!


Ai, ai.... que Marina e Louise não param de aprontar em Paris! Bom, na verdade quem apronta mesmo é a irmã mais velha, pois ironicamente neste caso a caçula é a própria flor da sensatez!
E detalho: já no dia de voltar para casa, depois de esfuziantes dezesseis dias a flanarem pela capital francesa, as meninas passaram por uma aventura – com voz do céu e tudo! – digna de pintar os matizes da melhor (cotidiana) lenda europeia urbana! Não duvide!




O fato foi que Marina resolveu ir àquele mercado do shopping vizinho ao hotel só para satisfazer um de seus desejos de guloseimas: aquela torta de framboesa (pareceu-lhe que seria melhor até que a da boulangerie Paul)! Teima que teima, e Louise como sempre cedeu aos adoráveis caprichos de Marina-irmã-mais-velha-menina:

– Tá boomm... Quem pode com você, Marina? Mas hoje não é dia. E se perdermos o voo? Temos que estar no Brasil amanhã, impreterivelmente! E isso vale para nós duas, lembra?

Ok, ok, assentiu Marina com lábio retorcido à maturíssima rabugice de Louise:

– Você está certa, Louise, mas... vaaamos!

E lá se foram as duas. Desembocando direto da porta do grande hotel para o buraco do metrô ultrapróximo, aconchegaram-se em seus casacos, a se protegerem do vento soprando gélido... Duas estações... e lá estavam elas dentro do shopping megamoderno e colorido. Marina insistiu em suas incisivas mais que diretas, naquele seu jeito de querer (e conseguir) convencer a outra de qualquer jeito:

– Ah, Louise, deixe de ser estressadinha! Olha só: poucos itens a gente pode passar no caixa automático... Puxa, já pensou se tivéssemos desses caixas no Brasil? Só colocar o cartão e efetuar a compra, pegar a notinha... com a mesma rapidez com que a gente pega dinheiro nos nossos caixas eletrônicos? Não é?... Sem fila!

Louise só arregalou aqueles olhos, às vezes impenetráveis, e balançou o rosto em sinal de negativa.
Mas o problema estava por vir: a eterna e rizomática criatividade de Marina... Como uma cebola, sabe? Uma casca de ideia dentro da outra! Coisas geniais e interessantíssimas, se não gastassem, além de euros, t-e-m-p-o... e num dia em que este não apresentava um de seus melhores humores!

E foi assim que Marina, além da torta de framboesa, resolveu comprar malas (comprou uma pink para Louise, a fim de "amaciá-la" e aliciá-la em suas vontades), vaquinhas malhadas de chocolate, docinhos Chapéu-Napoleão, velas francesas de aniversário, itens de maquiagem, uma cafeteira para Haydée e um pote gigante de Nutella! Louise não resistiu e entrou em crise de riso:



– Não acredito que você está levando isso! Vai comer antes, no aeroporto, ou vai brindar com mimos os alfandegários sortudos? Presentes comprados em euro para estranhos! Tem certeza?    




– Ai, Louise, você não tem jeito! Tudo é absolutamente necessário! Quanto aos comestíveis, não se lembra de que nosso primo Paulo passou ileso, ileso, com um autêntico carregamento de queijos na sua última viagem à Holanda?

Tudo bem. Mas o pior ainda estava por vir, de verdade.

As duas enfiaram-se no túnel do metrô correndo e, em poucos minutos, já estavam de volta ao hotel. Ao chegarem, a prevenidíssima Louise perguntou ao recepcionista sobre o tempo de espera do táxi que as levaria ao aeroporto. E qual não foi o seu estado de desespero quando o francês lhe informou que não havia chamado nenhum táxi, pois não registrara tal pedido seu...

Louise, como de costume, entrou facilmente em pânico (desnecessário como sempre, diria Marina) e voltou-se contra a irmã:

– Viu no que deu a sua voltinha de aquisições supérfluas no supermercado parisiense de shopping?
A moça bonita botava fogo pelas ventas... E Marina – em sua calma otimista de pisciana de segundo decanato – mostrou a leveza de sempre:

– Calma, menina, o táxi já chega! E não precisamos estar lá três horas antes, como você sempre faz questão. Duas horas de antecedência garantem o voo!

Mas Louise ameaçou chorar (não podia se atrasar nem um dia) e, aí, Marina  prometeu providência:
– Fica tranquila, lindinha, que a mana já volta com um táxi pra você!

Nisso, o recepcionista fez um meneio negativo de cabeça e, antipático como sempre (ou espartano, sei lá), informou que em Paris não se pega táxi na rua: a prefeitura não permitia! Só no ponto. E não tinha nenhum perto dali! Foi aí que Louise se lembrou da tal lei da cidade... Só que naquela viagem ela estava com Marina, e, com a sorte que esta tem, em seu tour pela capital francesa pegou táxi umas três vezes fora do ponto. Mas agora havia um choque de realidade: seria impossível conseguir um, assim tão bruscamente!

A moça sensata teve momentânea certeza de próximo voo perdido... Mas Marina se faz de rogada alguma vez ou acredita no infortúnio por mais de três minutos?

– Senta aí que daqui a pouco volto com o táxi mesmo assim!

Não adiantava o recepcionista dizer que o táxi que ele acabara de pedir era de uma eficiente companhia cadastrada no hotel... As meninas acharam que seria como no Brasil: poderia chegar em 40 minutos ou, mesmo, não chegar!

E Louise aumentando sua gradação de desespero:

– Vai pegar um táxi na rua em Paris como?... Se eles não param para passageiro fora do ponto... E usando esse seu Francês turístico?!...

Marina não se dá por vencida:

– Senta e me espera, menina, que falando Português, Inglês, Francês ou um Mandarim baixado de alguma entidade oriental, certo é que voltarei com um táxi pra gente! E outra: você se esqueceu de nossas recentes aventuras na Île-de-France? Foi em ponto que parou pra gente aquela taxista, naquele tremendo Mercedes?

Louise caiu em si, lembrando-se de que estava com Marina… e isso podia significar muita coisa, como sorte, mudança de ventos e… o inimaginável!  E realmente foi inesquecível pegar táxi em Paris naquele automóvel ultraluxo tendo ao volante aquela taxista nigeriana chiquérrima, trajando um tailleur risca-de-giz Versace com direito a lencinho vermelho de seda no pescoço!

Marina, por sua vez – na saída do hotel – ao atravessar a grande porta, soltou um Português plural de segunda pessoa aos Céus, olhando para cima e tudo:

– Meu Deus, mandai-me um táxi!



E saiu em seu passo apertado de botas de couro cor de areia. Caminha que caminha, e Marina movimenta a ampulheta daquela meia-hora disponível... Acredite quem puder – e for esperto –, mas não mais que nove minutos depois chega Marina, já dentro do táxi – no banco do carona – toda prosa, já amiga do velhinho bonachão (risos inacreditáveis)!


Louise se divide entre um riso de nervosa alegria e olhos saltados de perplexidade:

 – Não acredito no que estou vendo! Como você conseguiu?

– Ah, foi simples... bem óbvio mesmo: apelei para o lado paternal dele... Perguntei se tinha uma filha, ele disse que tem duas, e nos comparei a elas: Já pensou se fossem suas duas filhas em terra estranha? Ele até contra-argumentou que poderia levar uma grande multa, mas o convenci com olhos marejados...

Louise entendeu que, como quase todo cidadão parisiense, o taxista falava Inglês. Porque se fosse em Francês como consumar aquela comunicação toda? Mas ainda havia uma dúvida:

– E como conseguiu pará-lo na rua? – Louise ainda não acreditava.

E Marina, com a mais natural expressão do mundo no rosto:

– Ah, dei uma de louca, comecei a gritar e, também como louca, meio que me joguei na frente do carro... Estava em baixa velocidade e vi que não tinha perigo. 

– Ah, você deu uma de louca, jura? – Louise não pôde conter o riso, já aliviada.

Nisso, chega o táxi pedido pelo hotel, e se dá uma cena incrível: os dois taxistas – o encomendado e o arranjado – começaram a brigar pelas passageiras!

Pensando na diferença em relação aos taxistas do Rio – onde os passageiros é que brigam por eles –, Marina começou a gargalhar. E Louise cada vez mais estupefata:

– Não tínhamos nenhum, e agora temos dois disponíveis! Como vamos fazer?

 Agora você escolhe o táxi em que deseja ir... Quer mais? Ahahahahaah! – Marina brinca, vitoriosa, segura de sua sorte mais do que nunca.

E a Providência estava ali para provar, ainda mais, que em terra de Marina sempre será tempo de abundância. De repente, um cantar de pneus e um terceiro táxi posta-se na bifurcação ante o hotel, quase batendo no táxi 2... Desce do carro um chofer no melhor estilo francês, falando sem parar, completamente confuso:

Mon Dieu, comment ai-je arrivé ici? (Meu Deus, como foi que eu vim parar aqui?)...


Dessa vez fora o recepcionista do hotel quem se deixara contaminar pelas gargalhadas das brasileiras, depois do pasmo geral de todos. Afinal, no início daquela aventura era temeroso se conseguir um só táxi! E agora ali estavam nossas meninas-irmãs simplesmente com três táxis à sua disposição!

Enquanto o terceiro taxista explicava para o recepcionista, cada vez mais atordoado, que repentinamente mudou a direção e foi parar ali, exatamente em frente ao hotel, sem entender como nem por quê...

Marina, então, lembrara o quê, o quê?

– Gente, o que foi que eu fiz mesmo ao sair para pegar um táxi? O quê?

Louise lembrou:

– Você pediu um táxi aos Céus!

Pois bem: os Céus, como nas lendas celtas, atenderam ao pedido de Marina... Mas como é mesmo a sentença?

– Cuidado com o que você pedir ao Céu; ele poderá atendê-lo! – disse Marina – Lembra-se? Marion Zimmer Bradley...

E atendeu mesmo! Só que três vezes, gerando taxista de sobra: o do hotel, o que Marina conseguiu no improviso urbano e o que Deus mandou!

Louise, que a essa altura conciliava os dois brigões, optando pelo primeiro a chegar, pensou com sua piscadela de cílios longos:

– Quem tem uma irmã como Marina não morre pagã!



Ah, e sobre os comestíveis? Passaram na Alfândega? Todos, com a magnética sorte de certa pessoa, claro! Ainda assim Marina garantira uma guloseima, por via das dúvidas: comera meia torta de framboesa no aeroporto, dividindo o quinhão com a irmã. 

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E foi assim, lambuzadas de alegria, que as duas voltaram ao Brasil. 

Palavras que ficaram velhas



Quizás, quizás, quizás!

Na festa de casamento de Marina, que reuniu mais de seis mil pessoas numa praça antiga, os músicos entoavam o sucesso do cubano Osvaldo Farrés do final dos anos 40. Já era fim da década de oitenta, mas o repertório foi basicamente Anos dourados, seresta e reminiscência... Estava na moda para festas de casamento. E no que se refere às letras, a palavra segue moda? Ora, embora a boa palavra seja eterna e irrecorrível, há os tais modismos linguísticos que vão tirando e (re)alocando vocábulos e significados.

A palavra quiçá (= talvez e outros sentidos que o valham) – assim como o título da música que abre este texto – virou coisa antiga, como muitas outros termos e locuções, que parecem ir esmaecendo com o passar do tempo...

Está certo que a língua não é estática – e nem poderia mesmo. Embora (aqui se destaque) eu não concorde com muitas variações linguísticas de época e contexto. Dessas que poderiam ser chamadas de danosas... Isso: mais uma! Danosa também virou palavra velha, um adjetivo que – embora mostre muito bem o que quer dizer – ficou com cara de prata antiga... Tem mesmo; fazer o quê?
E me vêm à mente vários outros vocábulos que pareceram criar cabelos brancos em passo concomitante (mais uma! As pessoas preferem usar simultâneo (a)] com o tempo...

E assim é que várias palavras vão entrando na tal arca do arcaísmo! Arcadismo, não (este alude à escola literária das arcádias, neoclassicista, a tal dos pastores, da lira, daquele clima bucólico... Lembra-se?). 

No andar da carruagem, então, desfilam termos como:

mocidade: Isso é que é uma palavra velha, não é, não? E justamente designando o contrário! A forma, o som e a emanação desta palavra dão ideia de algo ultrapassado, alguma coisa que não se usa mais! De fato, ninguém diz mais mocidade – nem juventude, na verdade! Juventude também se tornou palavra velha, de tanto não se ouvir dizer... O problema é que não há, praticamente, termo da chamada língua culta que tenha o seu exato significado... Mas problema ainda maior se baseia em uma das prováveis causas disso: por causa de gírias como galera, geral [significando grupo/categoria e (semântica)similar, no caso podendo abranger grupo de jovens, turma/trupe)] se abriu um vácuo nessa semântica... Hoje se ouve falar muito em adolescência, mas claro está que não se trata da mesma coisa, já que as duas designações de períodos da vida abrangem etapas diferentes, diversas mesmo. Ficou uma lacuna para a tal fase jovem, cujo sentido também se mostra hoje algo passadista, pois certo desequilíbrio há que anda até descaracterizando as belezas da fase... Vamos ao proposto:

conforme: Aí está uma ferramenta vocabular tremendamente multigramatical... Hã??? Isso mesmo: o termo se enquadra nas mais diversas classes gramaticais; conforme – conforme a situação – pode ser: preposição, conjunção, adjetivo, advérbio... Exemplos: conforme versão anunciada; conforme me disseram (neste caso, também com o sentido de segundo (me disseram); roupas conformes (= iguais, concordantes (olha outra! Aqui como adjetivo, e em variação de número); e ainda pode expressar: conforme as coisas iam acontecendo... Enfim, um universo de conformes. Até acho o termo muito útil (como não?). Porém, mesmo com tamanha versatilidade, a palavra foi saindo do dicionário do atual e virou peça de museu grafológico. Quer ver uma coisa? Você imagina um adolescente falando conforme a velocidade... Não! Ele vai dizer: de acordo com a velocidade; à medida que a velocidade aumentava... Lamento (e até simpatizo com o termo – e o utilizo), mas é fato que a palavra ficou meio velha.

fotocópia: hoje, linguistas das mais diversas correntes admitem tanto a ortoepia xer(ó)x (com força tônica no o) como x(é)rox (assinalação tônica no e). Mas sabemos que não era o correto em anteriores práticas cultas. Assim, eu optava por chegar numa papelaria e dizer: “Por favor, três fotocópias deste documento”. Explico-me: se eu falasse xer(ó)x, achavam que eu estava falando errado (sabe esses ignaros, que muito desconhecem, e – quando não entendem algo mais apurado, digamos mais sofisticado à sua sensibilidade cognitiva, saem por aí a apregoar verdades falsas por pura falta de entendimento do fato [dois dias depois, lá estão eles cometendo o tal pecado (e este é mesmo!) em circunstâncias notórias e vexatórias]... Mas esse não é o enfoque; voltemos ao caso da xerox... Então... e se eu pronunciasse x(é)rox era eu mesma a incomodada, pois me sentia como se estivesse falando Nóbel... Deus me livre! O recurso restante era o termo fotocópia, que usei, mas – após algum tempo – percebi que parecia vir com cabelos brancos (Gente, nada contra cabelos brancos propriamente!)...

ceroula: esse parece termo de farsa, chanchada ou circo, certo? Cueca grande fora de época... Ahahahah!

pândego: dito assim, o adjetivo fica mais hilário que sua mais forte semântica de engraçado, simplesmente;

formidável: ótimo, magnífico, excelente, adorável, perfeito, impressionante (também quando em referência irônica)... Realmente se torna melhor usar umas dessas variantes sinônimas. Até gosto da palavra formidável, mas parece estar envolvida, mesmo, em ares de sépia!...

camarada: já esta palavra ficou tão antiga que, ao ser entonada, parece que já vem chegando um cara de outros tempos (risos dos anos dourados), como se tal som o trouxesse! Ahahah! A sensação conotativa procede com base: foi mesmo modismo linguístico de geração da metade do século XX, designando colega, companheiro de regimento etc. Na esteira do termo e da época, estão termos como supimpa e broto, gírias que também envelheceram... O termo broto, especialmente, não acompanhou o ritmo lépido do tempo! O broto ficou maduro.

Observei aqui (acima) que, no contexto – além dos seis exemplos-padrão que ofereci –, destaquei en passant sete outros, e chegaremos abaixo a quase vinte referências vocabulares de expressões lexicais antigas nessa crônica reflexivo-gramatical... Outrossim, não vou cometer aqui a pachorra do continuísmo, deveras... Não serei pirrônica ou gananciosa a ponto de acumular preciosismos nos alforjes de viagem para essa estação linguística...

Ou...

A mulher do alcaide fitou-o com ferocidade por causa dos olhares que ele lançou à sirigaita de saia evasê. Pensou com os seus botões que ele era mesmo da fuzarca! Ele entendeu na hora e abaixou a cabeça, já esperando o safanão que ganharia por causa da “lambisgoia cheia de borogodó”... E ela não parou por aí: deixou-o de ceroula enquanto gritava: "Mas és mesmo um formidável pândego!"...

As duas faces do êxito



Talento + persistência = ÊXITO. Silogismo absoluto?

Há aqueles que se perguntam sobre o atributo mais importante: o talento ou a persistência? Voto plenamente no primeiro atributo. Porém, uma necessidade racional me chama à autoconsciência de admitir: persistir também é abalizada premissa. 

Mas explico por que voto, primeiramente, no talento: porque sem este não se mantém a produtividade – que se funda em três princípios: qualidade, abundância e continuidade. Seja nas artes plásticas, seja nas letras, seja nas ciências – em qualquer campo de estudo, lavra ou atividade humana – nada sobrevive sem a identidade clamejante da criatividade, da recriação, da renovação, a cada dia, sem se necessitar jamais(!) de aditivos externos para a concepção e a realização de tal prática ou ofício.

Por outro lado, voltando à vaca fria (quase estanque, em certos casos... rs) da persistência, por que a necessidade de persistir em luta se – em enfoques como o que manifestei – vem primeiro o lampejo do brilho? Porque as engrenagens pessoais, na maioria das vezes, dependem também das manivelas do mundo. E isso quer dizer, objetivamente, que – por coexistirmos socialmente – precisamos da reciprocidade em relação ao outro, do canal do receptor, do eco do universo. E aqui lembro alguns exemplos de notáveis que se utilizaram da perseverança para empurrar a manivela do contexto e do tempo... Comecemos por Einstein, que – embora em principio achasse que a imaginação é mais importante que o conhecimento – também foi um portador natural de perseverança. Resistiu brava e grandemente quando provou, com os anos, que sua expulsão da escola (por não aprender?!) houvera sido um erro estúpido e inominável de pessoas(?!) que não enxergavam a sua luz simplesmente porque não a tinham seus próprios olhos – ora, ora!  Um aluno expulso por inaptidão (?) vindo a revolucionar a Ciência de seu e de outros tantos tempos?! Nada como o caminhar sensato de Mestre Tempo! E a voz uníssona da posteridade...



O cientista adorável dos cabelos eriçados também agradecera pelos muitos nãos que recebera ao longo da vida, pois a partir de tais negações pôde operar importantes coisas, possibilitar-se – e ao mundo – grandes feitos! Foi ele também o autor da concepção da natural dicotomia entre grandes almas e mentes medíocres. De acordo com esse seu notável pensamento, os elevados de espírito sempre serão perseguidos pelos possuidores de inveja e mediocridade. Isso porque esses últimos, ante a impotência de seu próprio eu, sentem-se obscurecidos pelo brilho ofuscante dos entes verdadeiramente repletos de luz. Pode haver verdade maior? Aqui entra, correlatamente, uma sentença do Padre Antônio Vieira: “Quem tem seis asas e voa só com duas, sempre voa e canta. Quem tem duas asas e quer voar com seis, cansará logo e chorará”. Tal mais parece fazer parte de uma magnífica ode à impotência do invejoso! Afinal, ter asas sobrando (para usá-las em futuras e propícias ocasiões) nunca será problema... Já aquele(a) que deseja alçar céus vastos demais para suas pequenas e poucas penas, nunca terá traquejo suficiente para alcançar alturas reais e destacar-se no firmamento!

Também uma referência semelhante – neste caso, do cancionário nacional 1970 – já mencionei aqui, em lembrete a plagiadores: “Eles são muitos, mas não podem voar!” E complemento: Mesmo que povoem os ares em sua (es)quadrilha, não voam simplesmente porque não sabem!

E, perseverando na ideia da persistência – aqui levemente discutida –, cheguemos ao clássico exemplo de Walt Disney: “Levei 92 nãos até que, um belo dia, alguém falou: ‘Sim, eu financio o projeto desse parque futurista pra você”. Entendeu, meu leitor? Dizem que Disney nem acreditou! Custou mesmo a conceber o sim como verdade... Outro caso típico de gênio de sucesso: a mescla perfeita de fé e autoconfiança! Já pensou se, contrariamente, o grande visionário tivesse se deixado abater por aqueles que não apostaram na sua ideia e, mesmo, reprovaram os seus planos? Porque não acreditou nisso é que ele simplesmente foi Walt Disney! E isso não é de causar espanto: grandes homens sempre sabem de seu tamanho. Tal como... Thomas Alva Edison! 




Sim, este então percorreu 9.999 rizomas da cebola do não, e na milésima tentativa fez surgir a eletricidade! Não se pode deixar de lembrar, também, que suas (ditas) tentativas para alcançar o êxito foram, por si só, sucessos independentes, investida por investida... Isso porque Edison acabou criando 10.000 protótipos distintos de lâmpada! Suas vitórias como inventor foram tantas que os visitantes do Menlo Park Museum / Edison Memorial Tower (Condado de Middlesex – NJ, EUA) ficam impressionados exatamente com a persistência numérica com que o cientista formulou seus princípios e empreendeu seus feitos.


Fica, então, o silogismo possibilitado pelas duas premissas: saber/ser e continuar/acreditar são fórmulas autênticas de sucesso – o que é indiscutível. Lembrando que sucesso não tem tempo para acontecer... 

E o mais importante: sonho de quem sonha grande – naturalmente podendo fazê-lo – está indiscutivelmente fadado ao êxito! Lá no final está o arco-íris... E é quem o enxerga, em véspera, que pode alcançá-lo e vestir-se de suas cores!



Por Sayonara Salvioli