Bolo de aniversário
Não importam o tamanho, a cor, o sabor e o formato. Nem se
são tradicionais, inovadores ou artísticos. Naked cakes, bolos esculpidos, uma
reunião de cupcakes ou tortas. Importa tão somente que nele se afundem velinhas
comemorativas, a fagulharem votos de muitas felicidades e muitos anos de vida
para alguém!
Sempre soube que os primeiros foram feitos e cortados no
âmago das tradições greco-romanas. Sim, dizem que os bolos de aniversário
originais eram, antes de tudo, oferendas aos deuses em forma de guloseimas
desenhadas e doces!... Olhe, cá entre nós, Ártemis – a primeira deusa homenageada, a
chamada “mãe da fertilidade” – devia ser uma tremenda glutona! Pois foi com todas
as honras a ela que gregos antigos, em Éfeso, fizeram um “preparado de pão e
mel”, com direito ao formato místico de uma lua. Verdade: o primeiro bolo já
foi esculpido: a forma lunar dava à guloseima ares de presente sagrado para
autoridades do plano do Céu... Se a deusa gostou não se sabe (Ártemis existiu
mesmo?!...rs), mas as massas sucessivas em forma de bolo, essas ganharam para
sempre a mesa do Parabéns! Que
criança, adolescente, adulto ou idoso nunca teve a momentânea felicidade
suprema de soprar velinhas?
Aliás, as velinhas também existem por culpa dos tais (e
considerados) deuses antigos. Mas será mesmo que (e)levar até o céu os eflúvios
de desejos pela fumaça pode garantir alguma coisa? Será verdadeira essa crença
de que os pedidos podem ser atendidos através da emanação das chamas?
Dúvidas conceituais e metafísicas à parte, o fato é que bolo
e velinhas fazem parte mesmo de um ritual tão milenar quanto atual. E não falo
aqui do simples fato de os romanos já, há tempos imemoriais, terem eleito um dies sollemnis natalis – a festa de
aniversário já presente no calendário deles... Enfim, o
calendário de Gregório sempre privilegiou as datas de aniversário, desde há
muito! Certo é, então, que o bolo da tradição que permaneceu é, como o
conhecemos, um símbolo feliz de rito-passagem, de vida que se renova e sonhos
que se concretizam com o correr dos anos...
E, a meu ver, um dos aspectos mais importantes no símbolo
comestível é a alegria em torno da mesa: o bolo e a velinha representando a
permanência do bem maior – a dádiva dos céus que é a vida continuada, trazendo
novas chances e sonhos. Em torno do Parabéns, as expectativas e os bons desejos
dos familiares e amigos que ali se reuniram para festejar e agradecer pela vida
de alguém que se ama!... História que continua, portal que se abre, energia que
se revitaliza. Alegria, cor, expectativa, surpresa, saúde, uma quase
perpetuação da juventude, uma ilusória, mas feliz crença de eternidade...
Afinal, mais que trigo, amido de milho, leite condensado, chocolate ou coco,
todos esses itens de vida são ingredientes do velho e bom bolo de aniversário –
com direito à chama brilhante na esperança da vida!
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