Publico aqui sinopse de minha autoria da telenovela CIDADE DO AMOR, que escrevi a partir do meu romance PERFUMES DE PARIS (São Paulo: Primavera Editorial, 2016).
Esta novela, notadamente REGISTRADA no EDA/Fundação Biblioteca Nacional, foi enviada, a pedido, para o Diretor Geral do núcleo de Dramaturgia de importante emissora deste país, mas ainda não foi negociada comigo. Portanto, não está autorizada a utilização de sua story line, de seu enredo ou de suas tramas-vertentes nem de qualquer de seus 62 personagens constituídos. Assim é que qualquer produção contendo seus elementos dramatúrgicos estará constituindo crime, visto que tal uso não permitido de obra intelectual estaria atentando cabalmente contra a LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998, legislação que regula o Direito Autoral no Brasil.
A seguir, a apresentação sinóptica:
CENÁRIO: Depois de toda a saga de CHARLOTTE na Paris dos anos 1890, a perfumista e herdeira francesa vem para o Rio de Janeiro da Belle Époque e convive com os grandes ícones do seu tempo, como Machado de Assis, Lima Barreto e João do Rio, integrando o contexto efervescente da modernosa sociedade carioca dos começos do século XX.
E, abaixo, a integralidade da trama e seus elementos constituintes, do modo como foi entregue, ipsis litteris, à referida direção de Teledramaturgia:
SINOPSE DE TRABALHO
CIDADE DO AMOR
de
SAYONARA SALVIOLI
Proposta para novela
A partir do romance da autora
[Perfumes de Paris.
São Paulo/Rio de Janeiro: Primavera
Editorial, 2016]
Primeira fase da novela:
NA FRANÇA (1894-1906)
Se, na
juventude, você teve a sorte de viver na cidade de Paris, ela o acompanhará sempre
até o fim da sua vida, vá você aonde for, porque Paris é uma festa móvel.
Ernest
Hemingway
FRANÇA,
1894
Paris é o centro do mundo!
A Cidade-Luz dita a moda, os costumes, embasa a
melhor gastronomia e exibe sua arquitetura como modelo de influência mundial.
Culturalmente, seus cafés reúnem intelectuais, inauguram performances e fazem
da capital francesa o lugar dos sonhos!... Também sua noite em Montmartre, sua
arte em Montparnasse e o invencível charme do 6º arrondissement são o palco cotidiano da cidade mais bela e mais
charmosa que já se viu!
E, para encantar ainda mais o telespectador,
estamos na Belle Époque! Como pano de fundo da telenovela, um mundo novo se
apresenta à civilização ocidental. Época de transformações, algumas das mais
intensas da história, quando chegam para a humanidade o automóvel, o telefone,
o avião e o cinema! E mais: a fotografia, o fonógrafo, o gramofone, o telégrafo
sem fio, os trens e os bondes elétricos. Tudo de uma só vez!... Euforia total
com a novidade empolgante do progresso científico! Está inaugurada a
modernidade; dá-se o advento da tecnologia. Além desse background da indústria,
também é o tempo inovador da ciência higienista de Pasteur e da microbiologia.
Nessa esteira de renovação do comportamento e da percepção humana, surge a nova
escola de artes plásticas, nos painéis peculiares do Impressionismo e do
Expressionismo!... São revolucionados o transporte, a comunicação, a estética, o
pensamento e o modo de viver do homem.
E é nesse contexto extraordinário que a nossa protagonista
é testemunha do tempo. Charlotte Emanuelle Grasse de Chermont é uma perfumista
de 20 anos que, diferentemente das mocinhas de sua época, não almeja
simplesmente um casamento; ao contrário disso, vivencia e reverencia a
liberdade, combinando autenticidade e aventura em seu modo de vida. Ela se abre
a esse novo tempo que chega – para a França e para o mundo – e começa a
interagir com a efervescência da época... Uma época que trazia, todos os dias,
a manchete do novo e do exuberante!...
CHARLOTTE EMANUELLE, corajosa e vestida de homem,
DÁ A LARGADA no Concours des Voitures sans Chevaux, a primeira
corrida de carros da história da humanidade!
Nossa história começa com a protagonista mostrando
que é mesmo de vanguarda! Que tal uma heroína de telenovela que se veste de
homem e pilota um automóvel na primeira corrida de carros da história? Pois
assim foi! Era o domingo 22 de junho de 1894, uma data que ficaria
registrada... Abre-se a cena com a largada do Concours des Voitures sans Chevaux... E é, literalmente, a
França quem sai na frente! Vemos Charlotte Emanuelle de Chermont, com os cabelos presos debaixo de um chapéu
masculino, saindo em seu Peugeot 3hp sem medo algum e com total espírito de
aventura! Vemos os 21 autos estacionados em ponto estipulado de Porte
Maillot em direção a Rouen, cidade que dista mais ou menos cento e trinta
quilômetros de Paris.
Logo
num dos primeiros carros da pole position
de fim de século (XIX), avistamos CHARLOTTE, a largar, levantando poeira,
entre a adrenalina do momento e o medo de se soltarem seus cabelos ao vento,
denunciando sua participação ilícita no concurso... Sim, mulheres não podiam
participar de uma corrida de autos no ano de 1894! Por isso, CHARLOTTE corre
com a temperatura da emoção bem mais aquecida que os motores dos automóveis que
não fazem mais do que 30 quilômetros por hora. O carro da nossa corredora quase
tomba (isso mesmo!) ao ser interceptado, muito bruscamente, por um outro
Peugeot e um Panhard. Este dá uma cortada tal no auto de CHARLOTTE, que – do
ponto de vista do telespectador – parecerá até que ela cortou a orelha esquerda!
No entanto, nossa heroína segue ilesa, apenas com aquele temido probleminha
começando a se manifestar: sim, seus cabelos começam a se soltar... e os fios
ruivos da moça podem desprender-se do chapéu a qualquer momento.... Que medo! Mon Dieu! Mas CHARLOTTE logo se esquece do detalhe e
se espanta ao ver o colega próximo – quase emparelhado com ela – com as
mãos pintadas de fuligem e transpirando muito, com o rosto e o pescoço cobertos
de suor. E, quando – por um instante – a moça se distrai, quase afunda com o
carro num buraco enorme!
Entre buracos e solavancos de uma estrada de
chão, parece aproximar-se, cada vez mais, a linha de chegada para os poucos
autos que ainda restam. E, uns trezentos metros depois, vemos quatro autos
parados na estrada! O que terá acontecido, afinal? O carro que acaba de ultrapassar
o de CHARLOTTE sai da corrida! Vemos rasgada a borracha dos pneus finos das
rodas de ferro dos automóveis... CHARLOTTE tem medo de ser eliminada também.
Além do foco na protagonista em seu Peugeot,
vemos também as belezas naturais da paisagem da França nesse trajeto
Paris-Rouen, quando de repente um clarão reluzente em pleno dia toma conta da
tela: a caldeira no vagão de vapor do concorrente Monsieur Scotte, carro 17,
explode! CHARLOTTE não consegue deixar de olhar, preocupada se o oponente
morreu ou não, e – ao ver o homem machucado, sangue escorrendo na testa, braços
muito feridos... a moça fica nervosa, tira as mãos do volante, perde seu ângulo
de visão, sai do controle... e o seu Peugeot
3hp bate numa grande pedra, que lhe arranca uma roda dianteira e outra
traseira, de uma só vez! O carro se desgoverna e sai da estrada! Era uma vez
uma corrida…
Ao verem que mais um automóvel saiu da corrida,
dois homens da organização vêm em direção ao carro de CHARLOTTE. Ela poderá ser
apanhada! Mas a moça consegue se sair da abordagem e correr dali, meio
camuflada, tal como entrou....
Cenas seguintes mostrando points emblemáticos da Cidade-Luz, e
logo vemos CHARLOTTE novamente, agora numa banheira na enorme e requintada sala
de banho de um apartamento master do
Hotel Hilton. Emergindo da água, a moça ergue o braço para a direita e deposita
uma taça sobre o piso de mármore do superbanheiro. Depois, mira no cristal da
taça as borbulhas do champanhe… e põe-se a pensar que a vida não tem graça
nenhuma se não for feita de surpresa, ousadia e aventura. CHARLOTTE termina o
banho e se ergue da banheira. Podemos vê-la a se secar e vestir um robe de
chambre enquanto morde uma maçã e se senta à mesa do café, a folhear um
exemplar do Le Petit e outro da revista britânica The Engineer,
ambos ilustrando com destaque a corrida da véspera. CHARLOTTE passa os olhos
com curiosidade nas fotografias das reportagens e, em seguida, se alivia ao ver
que não aparece em nenhuma das fotos, o que conclui ser melhor. Afinal, ela
infringiu regras. Pensando nisso, a moça se dá conta de que naquele dia, ainda,
deverá deixar o hotel (seu refúgio quando quer fugir de ARMAND DE CHERMONT),
voltando para a sua casa requintada... e monótona!
Abre-se para o telespectador a imagem
grandiosa da grande mansão dos Chermont – localizada bem perto da Ópera de
Paris, no 9o arrondissement –, na
charmosa rua de la Chaussée-d’Antin. O telespectador irá se encantar com uma
construção típica da aristocracia napoleônica, erguida com a estrutura e o
conceito de um hôtel particulier, o modelo
europeu de residência dos nobres dessa época... E é no interior de um típico palácio
da nobreza francesa que vemos CHARLOTTE adentrar um grande salão e ser repreendida
pelo avô por “desaparecer sem motivo e sem deixar rastro” e passar a noite
fora, “como se fosse uma das mulheres sem nome e sem porte da agitada Paris
destes tempos”...
Realmente,
uma protagonista de vanguarda!
Bom, logo os telespectadores
saberão que a heroína desta telenovela está bem longe de ser uma moça sem porte
ou valores; muito pelo contrário; à medida que a forem conhecendo, verão mais e
mais o quão elegante e ética ela é, apenas sendo – para o espanto de todos na
sociedade da Belle Époque – uma pessoa de pensamento avançado e independente. E
a mocinha da história se apresenta ao telespectador...
CHARLOTTE
por CHARLOTTE:
Estou sempre a passear, lépida e festiva, por aí... Há duas
noites estive em meio ao alvoroço do Chat Noir, um dos clubes noturnos mais
badalados de Paris. E ontem, fiquei horas no Lapile Agile – em meio a
acrobatas, cantoras e dançarinos, entre meus amigos na plateia – escritores,
pintores e músicos! A boa sociedade, austera e hipócrita, critica-me por isso:
por frequentar a boemia da noite parisiense. As más línguas me chamam de louca,
libertina, desregrada. Mas se esquecem do sentido da liberdade, essa faculdade
do pensamento que permite a uma pessoa ser mais ou menos feliz...
De minha parte, sou apenas autêntica:
cultivo sonhos, tenho vontades! Como fingir que a atmosfera dessa Paris noturna
não me atrai? Como eu poderia não me deixar contaminar por essa alegria de quem
é livre? Falam de imoralidade, de indecência, como se muitas de nós, mulheres,
não desejássemos também dançar o can-can,
alguma vez, com o charme e a beleza daquelas saias cheias de frou-frous que lotam o Moulin Rouge...
Como não?! Aposto minha pele e minhas peles de raposa como muitas das damas da
fina sociedade parisiense desejariam – de verdade! – incorporar uma dançarina
numa noite qualquer, suspendendo as saias e remexendo os quadris, a ostentarem
aquelas sensuais meias de renda, aqueles corpetes sedutores, penachos
exuberantes e aquelas botas de salto alto! Duvido que não o quisessem pelo
menos por uma noite! É... Mas fingem que não querem o que mais desejam. Na
Paris de hoje e no Egito ou na Roma de Cleópatra, é mania da humanidade essa
história de fingir ser o que não é...
Sim, o livro em que se baseia esta trama televisiva, em sua adaptação,
apresenta uma jovem
parisiense de família nobre que frequenta a noite dos desafortunados, faz
amigos no Moulin Rouge e não segue regras. Uma habitué charmosa de cafés e teatros
nos tempos efervescentes de uma Paris festiva e extasiante! Tudo em nome da
liberdade e da busca da autossatisfação. E o telespectador verá que isso não é
simples nesses tempos (o fato de uma
mulher posicionar-se com sua profissão – Charlotte é perfumista):
Sou uma jovem parisiense que possui um
ofício: o de fabricar perfumes. Não me contento com a minha condição de
herdeira. Ainda que morando num palacete e usufruindo muitas regalias, para mim
é fundamental ter liberdade e a autonomia de mulher independente. Isso, num
mundo de homens... Então, faço a minha parte!
E os
telespectadores poderão se encantar com o espírito de luta (de trabalho, de livre
arbítrio para traçar a própria rota) da protagonista, bem como a sua ousadia em
contrariar a sociedade e criar as suas próprias regras:
Ah, essa minha rotina inconsequente de fazer girar,
loucamente, a roda da vida!... Afinal, nesta estação europeia do Oitocentos, o
que o mundo me traz é a festa dançante e vaporosa das noites regadas a vinho e
polca, assistindo no Moulin Rouge à apresentação de números variados de dança,
canto e equilibrismo! A me divertir
com meus amigos, enquanto me esquivo daqueles olhares masculinos de
lobos prontos para atacarem a presa! Sim, julgam-me também dançarina, atriz e
cortesã. Ah, se eles soubessem quem sou e como sou, na verdade!... Só que,
sarcástica como sempre, me esbaldo com o seu engano machista e abusivo. Faço
ironias e mostro-lhes toda a minha repulsa, como vingança. Mas isso não impede
o meu prazer de perambular alegre e saltitante entre os salões na minha rotina
escolhida. Para meu prazer e para o escândalo do Conde de Grasse, eu sou a
menina rica que frequenta cabarés e reuniões de intelectuais, vivenciando a
Paris dos perdidos, dos iluminados e dos artistas!
Charlotte
e a lembrança do pai: memória afetiva e aprendizagem com o mentor Eugéne
Mas a nossa protagonista nem
sempre foi tão extrovertida e “despachada” assim... Em seus anos de infância
(ao perder a mãe) e de adolescência – quando ainda tinha EUGÉNE e com quem
vivia – não passava de uma menina meiga e doce... E aprendera com o pai lições
preciosas que carregaria vida afora...
Novo voo de câmeras pela encantadora Paris,
quando – de repente, numa nuvem de flashback – vemos a pequena Charlotte, agora
apenas uma mocinha, passeando com seu pai pelos Jardins de Luxemburgo. Uma cena
comovente e que poderá deslumbrar o telespectador neste capítulo de apresentação
de novela. Vemos os dois – pai e filha – diante da Fontaine Medicis...
EUGÉNE passa
lições de vida à menina, usando alegorias para explicar os sentimentos. Nas próprias palavras da protagonista na narração
de seu diário:
(...) Pressenti ali que aquelas
palavras eram para depois de sua partida. E perguntei:
— Você estará sempre por perto para
me ensinar as verdades da vida?
Eugène olhou-me fixamente com aqueles
seus olhos redondos cor de folha e falou:
— Sim, sempre estarei por perto, como
o ar.
Entendi ali, para sempre, que o
amor pode ser como o ar: nós não o vemos, ele não nos responde com clareza, mas
se renova em nosso resfolegar de vida, que se repõe sempre que alguém nos ama
de verdade. E é esse ar que mantém Eugéne comigo a vida toda. Sua presença é a
minha respiração sempre que escapo do perigo.
Charlotte
segue o seu caminho
E Charlotte
prova que aprendeu bastante com o pai. Depois da partida de Eugéne, à medida
que vai crescendo, passando a morar com o seu avô, a moça começa a mostrar que,
mesmo sendo a rica herdeira dos Chermont, traz uma resposta aos dilemas sociais
de seu tempo. Ainda que com a (tentativa de) opressão de seu avô, o
aristocrático ARMAND DE CHERMONT – Conde de Grasse e Marquês du Broc –, ela
luta por uma postura independente, num pensamento livre que a faz misturar-se à
Paris fervilhante e democrática desses tempos, independentemente de gênero e
posição socioeconômica. Em pleno fin-de-siècle (o
finalzinho do séc. XIX), a personagem principal desta novela se mostra uma
mulher com mentalidade de mundo.
E é uma jovem assim, charmosa e autônoma, que
veremos nas primeiras cenas caminhando debaixo de seu vison de 10 cm de
espessura em meio aos ares gelados de Paris... Très chic!...
LINHAS
GERAIS DO DESENROLAR DAS DUAS FASES DA NOVELA
O foco da novela alterna o cenário,
ilustrativamente, quando deixamos de focar apenas CHARLOTTE para conhecermos um
pouco do cotidiano da cidade. E veremos colorirem a tela as primeiras e
multivariadas cenas, trazendo ao telespectador uma história envolvente –
repleta de amor, ideal, luta e êxtase – que começa na França e depois se desenvolve
no Rio de Janeiro. Esta será a segunda fase, quando CHARLOTTE – apresentada à
linda cidade tropical pela também francesa AMÉLIE DE BEAUMONT, condessa e modista
– ficará conhecida dos cariocas. Será amiga de muitos de seus habitantes:
artistas de circo, escritores, músicos, pintores, banqueiros, empresários,
educadores, marinheiros, boticários e malandros, tipos populares... E a adorável
francesinha se integra ao Rio de todos!...
Esta segunda fase no Rio de Janeiro da Belle Époque
– na qual se passará a maior parte da novela – concentrará tipicamente a vida
carioca ao tempo da reforma urbanística de Pereira Passos, no tal momento
embalado pelo slogan “O Rio civiliza-se”... Pois será na Rua do Ouvidor,
predominantemente, e nos bairros Catete/Laranjeiras/Cosme Velho, com pequeno
núcleo também no Morro de Santo Antônio e na Praça Onze, que veremos a história
do Rio passar na TV!... CHARLOTTE conhecerá Machado de Assis e Lima Barreto e
frequentará cafés e cinematógrafos, à medida que for interagindo com todo o
universo do Rio da Belle Époque, cujo cenário apresentará ao público uma
Ouvidor com direito a todos os points
da época: uma casa de modas – o ATELIER CONDESSA D’ALENÇÓN, a botica CLOROFILA,
a CONFEITARIA BRASIL, o BANCO LAFAYETTE, a joalheria e relojoaria TOPÁZIO, o
HOTEL FARAONE e a CHERMONT PARFUMERIE, de CHARLOTTE. No Cosme Velho, o colégio
de freiras SAGRADO CORAÇÃO. Diametralmente, na Praça Tiradentes o rendez-vous PAPILLON. E, no Morro de Santo Antônio, o chopps-berrante do popularíssimo JOÃO DO
TIFO.
Na verdade, haverá muito mais nesse Rio encantador,
mas por enquanto, no início da novela, estamos em Paris!... Antes, pois, de
seguir para o Rio e lá “viver” todo o resto da trama, nossa protagonista
apresenta seu trabalho, sua rotina e suas raízes... até que prevê a chegada de
seu amor na Cidade-Luz! ...
A
protagonista e a rotina na Paris da Belle Époque
Em seu dia a dia feliz e movimentado, a nossa
heroína é transeunte de um cenário que é o maior modelo da civilização
ocidental de então (nunca é demais realçar): a vida parisiense. E o
telespectador se depara na tela com os largos e bem-planejados boulevards de Paris, enfeitados com os
tipos humanos e a paisagem urbanística da época (1894-1906), retratos cênicos
que mais parecem uma tela de Béraud. Nas primeiras cenas, vemos CHARLOTTE e
seus contemporâneos, todos muito bem-vestidos, passeando, flanando... Observamos,
do ponto de vista de CHARLOTTE, um casal típico vindo na calçada, em direção
contrária à sua... Luxo puro é o que se vê neste momento nas ruas
de Paris... Do ponto de vista da câmera, temos uma noção geral da vida
cotidiana da cidade: vemos – entre outros elementos – letreiros,
estabelecimentos, bancos com pessoas sentadas, jornaleiros, bancas de jornal,
fontes com espelhos d’água e carruagens percorrendo a place d’Opera.
Charlotte
vê nascer o cinema
Na continuidade, vemos quando
CHARLOTTE – convidada por um amigo, Léon Bouly – comparece a um evento diferente
(e fascinante, inaugural mesmo!) no anexo do número 104 do Boulevard Voltaire.
Junto de vinte outros convidados, ela assiste a uma fita. Todos pensam, à
primeira vista, tratar-se da lanterna mágica: aquela geringonça que faz passar na parede uns
desenhos, umas chamadas projeções, em cima de uma lâmina de vidro. Mas, não...
O telespectador de hoje nem pode imaginar a emoção daqueles primeiros
telespectadores da história, boquiabertos ao verem – em imagens meio gigantes
numa tela – umas sombras luminosas em forma de pessoas, em seu tamanho original
e... movimentos!
E,
se o amigo-gênio de Charlotte Emanuelle acaba de inventar o cinema (Sim, não
foram os irmãos Lumiére! Esta novela “denuncia” levemente isto), CHARLOTTE é
capaz também de enxergar o próprio futuro...
Charlotte vislumbra o amor
Nos espelhos do Deux Magots
Ora,
profecia ou Física Quântica (já) nesses tempos de Belle Époque? Bom, numa noite
– depois de deixar o Moulin Rouge, onde estivera com o também amigo Toulouse-Lautrec
(este um emblemático artista do espaço, só que da pintura e da litografia) e
das atrizes e dançarinas Jane Avril e Cléo de Mérode – Charlotte vai passar
umas horas em seu restaurante predileto, o Deux Magots... E aí tem lugar algo
que começa a esboçar todo o resto da história: a parte do amor – o lado romântico
da nossa heroína. Já sabemos bem que CHARLOTTE não vive à sombra de homens;
como dona de um ofício – perfumista –, ela fabrica essências em seu atelier e
as comercializa. Porém, mesmo independente e com espírito de liberdade, seu
coração também pulsa – claro! Só que pulsa por antecedência: nesta noite, a
mocinha enxerga (prevê; antevê) algo surpreendente na confluência dos espelhos
do restaurante... É incrível, mas ela profetiza o próprio destino de amor!...
Vejamos a cena:
Foi assim que, numa noite de agosto do
ano passado, eu tive um relance mental que era como miragem no deserto: meu
coração vazio, mas comprimido, pareceu dilatar-se quando olhei para os espelhos
nas paredes e vi uma espécie de reflexo... Vislumbrei – numa alucinação do
coração, acho – a imagem de um homem alto, forte, muito bonito, rosto
harmonioso, de cabelos lisos e um tanto compridos, sem corte, e ares meios
largados... Enfim, totalmente sedutor!
Pois vou relatar mais do meu
acompanhante imaginário... Sim, agora é como se eu tivesse me transportado para
junto dele na morada do espelho!... Tenho-o ao meu lado e o contemplo: ele traz
o mar da Córsega no olhar e usa uma boina marrom. O mais incrível é que –
embora eu o veja num relance de noite escura – vislumbro na imagem um clarão de
dia primaveril!... Nessa visão em minha mente, vejo quando o rapaz me segura
com força pela cintura, praticamente carregando minha leve figura pela Place
Contrascape; em seguida, em novo vislumbre, nos vejo, abraçadinhos e apertados
na rue Mouffetard, em relances intermitentes, em verdadeiro emaranhado de
gentes (e coisas e itens de mercado e objetos de arte) até estarmos diante da
igreja de Saint-Médard. Andamos meio que misturados a toda aquela confusão –
sobre o calçamento escorregadio, aqueles paralelepípedos deslizantes –, quase a
cair, entre carrinhos de flores, artistas, vendedores e boêmios do dia. Depois,
em sucessivos quadros mentais, já estávamos com outras roupas e em outro
cenário: agora nos beijávamos diante das estátuas e dos espelhos d’água do
Jardin des Tuileries... Que visões antecipadas de momentos com feições de
realidade! Acho que eram premonições mesmo! Parecíamos namorados de folhetim...
No outro dia, ainda encantada
com a visão que tivera, CHARLOTTE sai às ruas, contemplativa, agora apreciando
ainda mais a cena cotidiana parisiense... A certa altura, observa atravessando
a rua uma madame de certa idade
– toda rendas-e-babados com
chapéu vermelho... Aquilo é como um relance do passado para as suas vistas...
e, numa bruma, somos transportados ao passado da família Chermont, no interior
sul da França. Aqui, até mesmo os telespectadores estarão se teletransportando,
se vendo na belíssima região de Provence...
PROVENCE
1845:
O passado manda lembranças...
A
história da família
É assim que CHARLOTTE
Emanuelle Dubois Grasse de Chermont – em novo flashback na trama – leva o telespectador a passear por outra
dimensão do tempo... e do espaço também: pelas aventuras de seus antepassados
no interior-sul da França, na belíssima região de Provence...
Paralelamente,
numa trama dentro da outra, CHARLOTTE dá voz – nas cenas apresentadas – à
narrativa de vida do avô. Num instante, a moça esfrega os olhos, quando as
imagens da narração de ARMAND DE CHERMONT veem à sua mente e ele começa a
contar como era a vida de seus antepassados na terra de origem dos Chermont – seu
clã:
Na Capital Mundial do Perfume
A
nossa história agora se passa em Grasse, que é uma cidadezinha medieval
francesa, com construções características e repleta de campos e canteiros
floridos. Por isso – pelo cultivo de uma grande gama de flores, no investimento
dos Chermont num negócio de essências – se tornou um destacado centro de
cultivo da perfumaria. A cidade é conhecida como “a Capital Mundial do
Perfume”. Fica na Riviera Francesa, na região dos Alpes Marítimos, a pouco mais
de dez quilômetros de Cannes, em plena costa do Mediterrâneo...
Os
antepassados de CHARLOTTE precursores do negócio de perfumes (que acabou se
ampliando e chegando ao atual patamar da poderosa Chermont Parfumerie) foram os
pais de ARMAND (o avô de Charlotte): os nobres MARCEL e JUSTINE de Chermont.
A
infância dos meninos foi um período feliz, quando – dentro das muradas de um
castelo, o Chatêu du Chermont, datado
do séc. XVIII, erigido sobre uma bastide do terceiro século – a matriarca e o
patriarca do clã lhes ensinavam sobre as coisas da vida. Armand, de modo
especial, treinava os meninos na arte cavalheiresca da esgrima. Porém, MARCEL
de Chermont não deixou de prevenir os filhos – como se num lampejo de sabedoria
– sobre os perigos das estações seguintes àquelas... Estações essas que se
encarregariam de trazer o perigo e o dano para os campos de Grasse!...
Ora,
a história da base familiar da nossa protagonista Charlotte – que, por sua vez,
iria embasar a sua própria história – não poderia ter um destino mais
inventivo... E narrá-la agora, ainda que seja numa narração um tanto en passant, possibilitará o entendimento
do futuro de Charlotte no Rio da Belle Époque, onde a nossa novela se
desenvolverá de maneira plena.
Duas gerações antes de CHARLOTTE
E
os antepassados da nossa perfumista começaram a brincar de destino quando, ao
meio-dia de um sol escaldante na Côte d’Azur, Armand conhecera a moça por quem
viria a se apaixonar... e por todo o sempre. Era DIANE – uma linda loura
trigueira – uma camponesa que tinha o ofício de colher flores...
Depois
daquela manhã de início de verão nos campos de jasmim-de-espanha, dois
casamentos tiveram lugar no Chatêu du
Chermont: o de DIANE com ARMAND (como se pode deduzir) e o de GABRIELLE com
APOLLON. Gabrielle era uma filha da nobreza das redondezas, habitante e
herdeira do Chatêu Chevalier de la Croix.
O casamento entre os nobres realizou-se com esmerada pompa e muito gosto de
parte dos dois clãs franceses. Porém, o de DIANE com ARMAND – a plebeia e o
nobre – foi como um soco no estômago de
MARCEL DE CHERMONT. Isso porque os nobres não queriam ver entrar na família uma
donzela de tão “vazios dotes sociais”. A moça era filha de um cavalariço da
estrebaria vizinha e, tendo perdido a mãe ainda menina, trabalhava desde
mocinha nas plantações dos administradores naturais da propriedade. Assim foi
que seus encantos – apesar de tanta beleza na face, no olhar e na silhueta –,
não puderam ser acolhidos pelos sogros ricos e nobres. E ARMAND teve que lutar
muito para se casar com a sua escolhida – jovem alheia aos círculos de
aristocracia da França.
Pois bem, de novo – após dois anos dos
casamentos dos filhos Chermont –, nasceu o primogênito de Apollon e Gabrielle, que não resistiu à semana posterior... Gabrielle
teve eclâmpsia à hora do parto e faleceu, deixando órfão o pequeno Antoine. E,
havendo ficado o bebê de dias só e indefeso, a solução encontrada pelo
patriarca dos Chermont foi mandar a outra jovem nora – a pobre, porém saudável
e cheia de vida Diane Dubois – para
ajudar a cuidar do recém-nascido. Enviada para uma propriedade nos domínios da
zona de Provence, a deusa caçadora da família dos Chermont foi, até bastante
feliz, cumprir o papel de salvadora-mãe da Pátria, inclusive com o socorro do
leite materno, já que tivera Eugéne
(o futuro pai de Charlotte) havia pouco tempo, e o amamentava ainda. Portanto,
ela poderia nutrir o pequeno bebê órfão!
Foram os dois: mãe e filho – Diane e Eugène (o futuro pai de CHARLOTTE).
Um amor proibido: a paixão de dois irmãos pela
mesma mulher
No entanto, surpresas ruins seriam parte do
conteúdo dos pergaminhos daquela história entre castelos. Em cotidiano
compartilhado, mulher de um irmão virou o amor proibido do outro... DIANE,
recém-chegada ao Chatêu Chevalier de la Croix, ao encontrar o cunhado viúvo, causou
nele um interesse novo, que acabou por gerar um amor intenso e proibido, um
sentimento vulcânico!... E a heroína loura com cara (e nome) de deusa grega
protagonizou com APOLLON – numa tarde quente, nos campos lilases de lavandas – uma
cena de paixão e ardor que simplesmente lhes fez esquecer quem eram!...
Tudo se dera quando, decepcionada com a recusa
do jovem esposo de vir visitá-la durante a sua estadia em casa do cunhado, DIANE
– que já se sentia atraída por APOLLON – fica triste e sai correndo, desolada,
pelos campos... APOLLON percebe e vai atrás. Vale a pena ver esta cena em suas
minúcias, até porque a sensualidade do momento deverá atrair fortemente o
telespectador (aqui, naturalmente, o crivo da Casa e a futura direção do
produto dariam o melhor tom para o horário)...
Diane
sai correndo como o vento frouxo do litoral... Suas saias de tecido farto e
pomposo quase não podem sustentar a pressa de seu passo estouvado e impaciente.
Com o avançar dos espaços, já ganhando distância campos de lavanda adentro – a
madame vira camponesa de novo e arranca as pesadas anáguas de sua vestimenta,
deixando-as pelo caminho, como se fosse uma moleca dos verdes anos da
adolescência modesta, passada sem luxo, mas com liberdade.
À
medida que corre, suas saias de voal se levantam, deixando à mostra as pernas
alvas e lisas como porcelana e torneadas como as da estátua da divindade grega
de seu nome. Diane é muito sensual, mas parece não saber disso. Só que agora,
no galope desenfreado e no ardor que lhe percorre o corpo nervoso, agitado,
aflora seu lado selvagem de mulher na natureza...
Corre
que corre como se pudesse acompanhar – em velocidade e imensidão – aqueles
extensos campos cor de violeta se arrastando por terra e céu como um oceano
lilás que não tem fim!... De repente, a mulher se cansa e se joga sobre os
arbustos de lavanda, os quais cortam levemente as suas pernas, que a saia levantada
deixa vazar, em fricção dos ramos que a arranham a ponto de fazerem-na sangrar
um pouco, dado o atrito dos pedúnculos na pele fina, na velocidade de sua
desvairada corrida, como se fugindo do mundo...
Ao
ver Diane sair, desabalada, Apollon – num ímpeto de macho protetor – mandou
preparar seu cavalo para segui-la e, porventura, guardá-la de algum mal nos
campos. Naquele momento, montando o seu corcel, seu tronco forte e suas pernas
muito musculosas são puro vigor sobre o dorso do animal galopante. Apollon não
está sabendo o que pensar, mas deixa de ser o parente, naquele
instante-instinto, para ser o homem que galopa em seu puro-sangue atrás da femme – Senhora da Terra! Sim, Diane
agora lhe causa confusão: de humana e aparentada passa a uma espécie de
encarnação de divindade: da deusa grega caçadora...
Apollon
leva a mão acima das vistas, querendo enxergar melhor, apesar do sol – e tentar
avistar a linda mulher ao longe. É quando, dando vazão ao desejo que o inflama
e o faz querê-la perto de si –, um sorriso brota em seus lábios grossos e
vermelhos como sangue! E ele consegue enxergá-la voejante, tal como uma ave
branca em meio àquele infinito de flores lilases... Precisa ardentemente
alcançá-la e enlaçá-la, prendê-la em seus braços!
Apollon
firma as vistas e, já mais perto, vê algo que tanto deseja, mas que talvez
conscientemente preferisse não descobrir: as pernas marmóreas de Diane – suas
desnudadas coxas redondas e altas – soltas ao vento, libertas do pano que subia
mais e mais com o vento, deixando à mostra suas peças íntimas do vestuário, sua
delicadeza e sua transparência... E tanto mais vê quanto mais seu cavalo, alvoroçado
como o dono, se aproxima de seu objeto de caça – ou sua Diana caçadora!
Mais
que bruscamente, no instante seguinte, Apollon se assusta ao ver a linda mulher
afundando no mar de lavanda, desaparecendo mais e mais de suas vistas... Ele
nada entende, mas ela parece haver caído ou se jogado sobre os campos violeta!
O homem já não pode se segurar e bate no dorso negro de seu animal árabe, a
este ordenando que o leve bem rápido para junto da mulher nos campos!... A
fúria é tanta que ele prefere apear, deixar o cavalo na estrada e seguir
correndo plantação adentro em busca da deusa loura de seus desejos!
Diane
avança sem olhar para trás, como se naquela corrida abandonasse qualquer
compromisso de não ser livre. Volta a ser camponesa, transforma-se com vitalidade
e volúpia na deusa humana da caça e, quando dá por si, está arrancando mais
volumes do vestido, desta vez da parte de cima, deixando seus seios quase se
soltarem completamente, saltando sobre o colo de fêmea selvagem... Mulher ou
deusa?! Apollon não sabe responder quando, já a poucos metros daquele lindo
corpo feminino, o vê mergulhar de vez na relva lilás, com os cabelos
inteiramente soltos, caídos fartamente nos ombros, seios arfantes, pululantes,
como se folguedos fossem de um Olimpo terreno de delícias! Diane olha com
quentura para o corpo de Apollon, que cai sobre o seu na corrida desabalada que
este também fazia em busca de chocar-se com ela... Caem os dois exaustos, um
sobre o outro, loucamente! Diane o fita nos olhos. Apollon a aperta contra o
peito e confessa que, nas noites anteriores, desejara vê-la “nua debaixo da
lua”...
Os
dois estão com a respiração ofegante, corações ritmados, temperatura ardente
debaixo do sol da Côte D’Azur!... Mas Diane tem medo e fala a Apollon que não
podem se entregar um ao outro, que aquele era “um amor proibido”... E a resistência
da deusa, porém, excita ainda mais Apollon e os dois sucumbem à tentação sob o
céu ardente da Riviera...
E
já não há volta naqueles caminhos de amor banhado de lavanda! Apolo não resiste
à caçadora Diana dos bosques: contempla seus olhos, dá-lhe um beijo impetuoso e
profundo, abaixa a gola de seu vestido e se extasia com seu colo nu à mostra...
Morde-lhe o ombro direito, rasga-lhe o resto das vestes e contempla a alvura de
suas formas!... Beija-a e ama-a. O pecado estava consumado.
E o triângulo do
amor de dois irmãos pela mesma mulher não tem a pausa da tranquilidade. Nas
histórias mais extraordinárias dos humanos que vivem um amor de pecado, até
campos ermos parecem ter olhos... Neste caso, tinham mesmo: um tal CONDE DE
PROVENCE, invejoso dos irmãos Chermont e antigo apaixonado de DIANE, segue os
cunhados e os apanha em pleno ato sexual na relva de lavanda... E o malvado
conde faz chegar a ARMAND, lá em Paris, a notícia de que DIANE o traía com o
próprio irmão! E o marido vem desabalado para o castelo de APOLLON, onde se
daria encontro emblemático entre os três:
É
noite dentro das paredes rochosas do Chatêu de La Croix. E os amantes acham um
jeito de se encontrarem na sedutora madrugada.
Diana e Apolo,
então, passam a sua primeira noite numa câmara secreta no castelo, no piso de
serviço. Um lance simples de escada, contígua a uma sala de refeições autônoma
– que, por sinal, está desativada, e portanto abandonada – leva até essa
câmara...
E
parece que o diabo vai, por vezes, buscar o inimigo para assistir ao mal ao
vivo(!)... E foi por isso que, no dia seguinte à primeira e última noite de
amor de Diane e Apollon, quando o sol entrou pela fresta da câmara secreta do
castelo dos Chevalier, incidindo direto sobre a alvura do corpo nu de Diane
sobre a cama, queimou também – no mesmo cômodo, em frente ao estrado – a mão morena de Armand de Chernont... Sim,
quando amanheceu lá estava ele! O marido chegou ao Châteu de la Croix com a certeza de que iria encontrar os
“traidores” justamente na câmara... Estrategista, adentrou o castelo facilmente
como familiar que era, alcançou sorrateiramente a câmara e se posicionou diante
do ninho dos traidores...
O resto da
história do triângulo amoroso familiar irá continuar a impressionar o
telespectador, que ficará dividido entre a fascinação de DIANE e seu estigma de
culpa, a paixão de APOLLON e a sua condição de irmão arrependido... e a posição
de ARMAND, marido apaixonado e traído. E é por isso que – quando os dois irmãos
se dão conta da tragédia esboçada pela fatalidade – decidem, eles próprios, dar
uma contribuição espontânea ao destino...
Duelo de amor e morte
É um dia triste
a sexta-feira em que os irmãos Chermont vão digladiar entre si... Até a morte?
Parece que não!... Depois dos raios do clímax da tempestade, o Olimpo familiar
experimentou o clima ameno da chuva compassada. Uma breve trégua de diálogo...
e ARMAND e APOLLON optaram por um duelo para decidir quem iria ficar com DIANE.
É claro que a mulher-alvo da disputa foi contra e se sentiu desrespeitada,
vista como um objeto... E apenas concordou com aquela barbaridade porque os
irmãos prometeram que a luta seria travada em
circunstâncias preparadas para se evitar uma fatalidade. Disseram que se trataria
de um duelo moral, com o objetivo apenas de salvar a honra e dar resolução a um
dilema difícil, sem, no entanto, matar o adversário. E este parecia mesmo ser o
caso. Porém, às vezes, o tempo – até mesmo no dia seguinte – sabe ser ainda
mais teimoso ou cruel:
Hoje é 11 de julho de 1845,
uma sexta-feira. Dia tristemente histórico, em que dois irmãos se apresentam à
morte, face a face, mesmo que insistam em dizer que não vieram aqui para estar
com ela. Ora, todo mundo sabe que a esgrima já recebeu as aspas de “esporte da
morte”, pois, dependendo do caso, até mesmo uma guerra mirim com arma branca
pode ferir letalmente a fragilidade humana.
Mas se passou bastante tempo
desde aqueles embates dos meninos de Marcel de Chermont. Hoje, posicionados
para os protocolos iniciais de um duelo, Armand e Apollon treinam para o
imprevisível. Coluna ereta, postura inflexível, dão início ao pré-duelo, quando
se olham de frente, aparentemente sem medo recíproco.
Estão sozinhos, sem
padrinhos ou médicos, que geralmente assessoram duelistas de acordo. Cercam-nos
tão somente o mistério e o silêncio de um desfiladeiro que, de tão belo, é um
convite à morte na natureza...
Do alto do cenário
estonteante do Gorges du Verdon, os irmãos miram – setecentos metros abaixo – a imensa banheira
natural azul-turquesa, produto do degelo dos Alpes, ladeada pelas gigantescas
montanhas de calcário que ornam a paisagem. Ao fitarem-na, provavelmente os
irmãos pensem na finitude, num vácuo de vida, o fim(?) ali diante deles... Eles
estão num daqueles momentos decisivos em que tudo pode acontecer, até mesmo
aquilo em que não acreditam. E aquele monumental despenhadeiro à sua frente
parece colaborar para a reflexão de gran
finalle que, às vezes, até sem necessidade, um acidente geográfico provoca
no observador... Seria aquele grande vácuo – de centenas de metros de
profundidade – um convite para a a morte?...
Os dois posicionam-se como
na regra para duelos de arma branca; pronunciam o tradicional “allez” e começam
a atritar as espadas... Esquivam-se dos golpes um do outro com a frieza e o
domínio aprendidos desde a infância. Os dois têm movimentos igualmente hábeis e
cada qual se move – a cada minuto – como esgrimista campeão de um torneio. Dali
não parece que sairá vencedor.
Mas, num instante rápido
como um relâmpago, Apollon vence a monotonia do equilíbrio inicial e desfere um
golpe ligeiramente dolorido no rosto de
Armand, que não se desequilibra, mas se descontrola de leve e dá dois passos
para trás, voltando aos movimentos seguros só um minuto depois. E as espadas,
nos instantes que se seguem, raspam-se, trocam ruídos e se roçam, já mais
agressivas, quando Armand tira sangue no rosto do irmão! Sem parar de
defender-se, o mais novo passa a mão pela face, chupa o sangue e cospe... E,
meio que numa reação instintiva, investe novo golpe aflito, agora na direção do
crânio de Armand, que, em ato inesperado – de pronto reflexo – fere Apollon no
braço, na altura do cotovelo, na parte interna, e imediatamente o ferimento
sangra muito... Desesperado de dor, o irmão mais novo – já machucado em seus
sentimentos – reage de modo tão abrupto e agressivo que facilmente vence a
retaguarda de Armand, numa fração de segundo perfurando-o profundamente, abaixo
da axila esquerda, como se num momentâneo requinte de crueldade (seus olhos
chispam!)... Na fração de segundo seguinte, porém, como se voltando a si,
Apollon – percebendo o que houve –, apavorado, embainha a sua espada e faz um
recuo, num salto, para a posição inicial. Mas parece que já é tarde!
Armand cai com braço e tórax
banhados de sangue, um sangue vivo... escorrem litros do rio vermelho da
desgraça! Seus olhos, morteiros, procuram os De Apollon, como que querendo
encontrar – num último relance – o doce irmão mais novo... que sempre tivera!
Aperta a sua mão direita com a força desesperada dos que estão morrendo...
Apollon recebe aquele apelo e grita também, só que de dor de alma, autoamaldiçoando-se,
pensando haver matado o próprio irmão, cujo corpo parece lavar-se de sangue,
como se tornado um lago vermelho de rubra água pesada...
Apollon vai se afastando,
anda para trás, cambaleia e tropeça numa pedra. Percebe que está à beira do
despenhadeiro... O laço do demônio está feito: Apollon olha o precipício e olha
o irmão, refaz esse caminho de olhos... e outra e outra vez... e, sem mais
pensar, salta daquela altura absurda!... Enquanto Armand grita com o resto de
voz que a alma lhe rouba!
Simultaneamente, como se num
quadro pictórico de Dante, no instante exato em que o pé esquerdo de Apollon
falseia em direção ao inferno infinito, uma ave passa num relance – um falcão,
um abutre? – quase uma sombra batendo as asas da morte, diante dos olhos
estupefatos de Armand... No momento exato em que parece atacar o alto da cabeça
de Apollon, que cai e escorrega na rocha, rolando e precipitando-se no desfiladeiro
de quase mil metros de altura, em queda livre!...
Dois gritos pavorosos e
simultâneos, brados do inferno, ainda uma vez se ouvem no Céu e na Terra,
enquanto o corpo de Apollon desce o despenhadeiro chocando-se contra as rochas
até alcançar a imensidão azul de águas...
Bem ao contrário, no entanto, do que APOLLON
teve certeza, ARMAND sobrevivera... Embora os dois tivessem decidido não levar
padrinhos ou médicos para o duelo (porque achavam que seria um embate pacífico),
o servo do Chatêu de la Croix que os havia levado – parado que estava na
carruagem a alguns metros, onde estabelecido pelos amos – ouviu os gritos
retumbantes de tão dolorosos, que correu para o resgate. E salvou ARMAND. E
este voltou para Paris ao lado de sua amada e traidora DIANE.
Um amor do
presente
Começa a história de CHARLOTTE
EMANUELLE e PIERRE CHEVALIER
Esta foi a história mais marcante e crucial dos
Chermont até a geração de CHARLOTTE... Contudo, os ventos dos anos formariam
novos ares na atmosfera dos Chermont! Décadas se passaram... E uma história de
amor mais feliz (?) teria lugar na festiva Paris de 1894. É o tempo a que
voltamos agora, trazidos por CHARLOTTE e sua máquina de sonhar, que não conhece
cronologia ou espaço... Assim é que a família Chermont abre uma trégua ao amor:
está na hora, afinal, de vermos CHARLOTTE sorrindo a irradiar não apenas a
animação das noites parisienses, como também o brilho da felicidade! Do sono,
do sonho... direto para a realidade, encontramos o cavalheiro das visões da moça!...
Era o programa do Théâtre National de l'Opéra naquele dezembro de 1894:
o 9º Féte Annualle – Concerto das Músicas da
Guarda Republicana e do 74º Regimento da Infantaria. Toda
a pompa e o mais esplendoroso glamour que podem ostentar duas orquestras de
duzentos músicos num dos teatros mais fabulosos do mundo. Uma exaltação às
Armas e à sociedade de Paris dos anos 1890. E é a própria CHARLOTTE –
protagonista de romance e desta novela – que narra a cena de quando conhece o
seu amor:
Paris, 15 de dezembro
de 1894 – data marcante...
Estou saindo para o grand bal com o meu avô. Meu traje é de um tom beterraba entre o
esmaecido e o escuro, mas não sóbrio. Tem pedras incrustadas e é todo
cintilante, perfeito para as horas da noite... Debaixo dessa indumentária toda,
ainda há o espartilho rígido, que obviamente me limita um pouco os movimentos.
Essa vestimenta não é nada fácil de se “carregar” por aí! Por cima de tudo,
ainda há estas peles, para protegerem os ombros que, no interior do salão,
ficam nus, destacando as joias do pescoço.
Meu avô – Armand de Chermont, hoje com um pouco mais
de oitenta anos – é todo orgulho quando me olha ao deixarmos a mansão. Minutos
depois, adentramos o luxo ainda maior do Grande Teatro da Ópera de Paris. Não
vou aqui narrar o interior majestoso desse castelo arquitetônico de sonho; não
desta vez. Mas não posso deixar de contemplar o brilho da decoração, com esse
mobiliário aqui instalado, com o ouro típico de L’Arsennal Militaire de
Vincennes!
À minha volta, tudo é puro esplendor! E o fascínio
maior acontece mesmo quando a primeira orquestra começa a tocar e o salão
iluminado ganha vida! Poucas imagens são tão bonitas como o conjunto de
movimentos representado por cavalheiros e damas – com o figurino e o glamour
destes nossos tempos, entre casacas longas, vestidos vaporosos, echarpes e
plumas – a rodopiarem pelo salão ao som de clássicos que inebriam participantes
e plateia, numa harmonia tal que eterniza a cena...
Estou com o coração saltitante e aquela sensação que
antecede os grandes eventos da vida (tenho uma falta de ar sintomática sempre
que alguma coisa grandiosa está para acontecer!)... E, meio que sem entender a
euforia rítmica de pós-baile, desço as escadas, de braços dados com o Conde de
Grasse – em seu aprumo de membro da nobreza francesa, a conduzir a neta pela
escadaria frontal do teatro –, quando, por uma alucinação real, olho para baixo
à minha direita e avisto, como se numa projeção de Léon
Bouly, um quadro de autêntica pintura realista... Avisto, agora claramente, um
homem de semblante iluminado, olhos azuis de luz ofuscante e um sorriso maior
que a noite! Meus olhos embaçam um pouco, mas os esfrego e abro bem... e
vislumbro o lindo moço que parece aguardar ao sopé da escada! Ele é alto, forte, de cabelos lisos e um tanto
compridos, sem corte, e ares meios largados... Usa uma boina marrom, veste uma
capa renascentista e tem um cavalete com uma grande tela diante de si, pintando
com liberdade em frente à Ópera de Paris! Inusitado momento... Vejo a cena
completa quando meus olhos se anuviam mais fortemente, sinto as pernas tremerem
e... perco a gravidade: rolo as escadas e caio exatamente em cima dele, seu
quadro e suas tintas!
E é dado o grande presente ao
telespectador: os protagonistas CHARLOTTE e PIERRE se conhecem, e é aí que se
instala o cerne da trama principal: o amor entre os mocinhos cuja história irá
emocionar Paris e Rio de Janeiro, em plena efervescência da Belle Époque!...
Por enquanto, a cena é numa tela parisiense de sonhos. É esse basicamente o
estado em que a jovem herdeira e perfumista fica: numa condição meio fora de
si, numa espécie de transe, de encantamento... Tanto que naquela noite não consegue
dormir direito; fecha os olhos lá pelas tantas... E somente no dia seguinte, ao
acordar, que se dá conta: ela avistara bem de perto o cavalheiro das visões,
mas embora a força de seu desejo o tenha trazido da fantasia para a realidade,
na verdade ela não o conhecera de verdade; não fora apresentada formalmente a
ele... e porque não sabia, sequer, o seu nome... e pior, onde morava(!),
dificilmente poderia revê-lo! Mon Dieu!
E agora: como faria para encontrá-lo novamente, naquela Paris cheia de
habitantes e rostos diferentes?... Sim, mas ninguém era como ele! Isso dava à
mística e romântica CHARLOTTE a sensação de que poderia reencontrar, sim, o seu
pintor, já que ele lhe parecia tão diferente de todos os outros rapazes do
mundo!...
Bom, CHARLOTTE procura
raciocinar com alguma lógica e conclui que, se o seu amado recém-chegado era um
pintor, ele... pode estar entre seus pares! A moça decide que vai procurá-lo na
tal Sociedade Anônima dos Artistas
de que já ouvira falar tanto! E a
heroína sai a procurar o seu amado. Primeiro, sai meio que sem noção por Paris,
andando sem rumo mesmo... Caminha pela rua Gluck, saindo já no Boulevard
des Capucines, onde se localiza o tal estúdio onde os artistas se reúnem...
CHARLOTTE adentra o local bem animada, empolgada com a possibilidade de ali
encontrar o seu pintor. Mas eis que, ao ser indagada sobre a obra e o nome do
artista que procurava, percebe que não dispõe de quaisquer pistas para oferecer
na busca pela informação de seu paradeiro. CHARLOTTE entende, afinal, que ali
não pode encontrá-lo. Depois disso, vai direto para o bairro de Montmartre, onde percorre suas vielas e inúmeras
ruas. Ao atravessar aquele casario poético, com suas luminárias e degraus, seu
coração parece saltar, de vez em quando, achando precipitadamente que poderá
encontrar o rapaz a qualquer instante... A moça
tem essa sensação quando, saindo da rua d’Orsel, vira à esquerda
a Trois Frères e logo avista uma boulangerie, a sua predileta no bairro... Rebate falso! Ainda assim, ela não
desiste de encontrá-lo num daqueles caminhos com ressaltos, embora tenha
passado um leve fio de dúvida pela sua cabeça... Ela teme por essa incerteza, mas
segue em seu intento.
A nossa protagonista anda que anda, desce e
sobe – agora, meio sem reconhecer o mapa de suas passadas –, sempre parando,
aqui e ali, para ter de novo a vista de Paris à noite... Um deslumbre! E é assim,
meio extasiada, que CHARLOTTE dobra a rua Saint Éleuthère para
chegar ao seu destino-mor de andança de hoje no bairro: a Place du Tertre. Será que a
perfumista o achará em meio a tantas telas, tintas e rostos de artistas
anônimos? Bom, é ela mesma quem nos narra este momento:
Mesmo depois de tantas buscas e degraus,
meus olhos não se satisfazem. Ele não
está aqui!
Por um instante, chego a pensar numa
alternativa para descobrir o que preciso. Se vi o meu (futuro) amor pela
primeira vez num espelho, quem sabe eu não deveria ir ao Palácio de Versalhes
para procurar a resposta – o endereço do meu cavalheiro da visão – nos cristais
venezianos do Salão dos Espelhos? Mas estou tão cansada, que deixo para
executar a ideia amanhã. Decido ir para a mansão, mesmo, tomar um banho e
tentar relaxar.
E é no banho que – mergulhada
de corpo e alma no desejo de rever seu pintor misterioso – que CHARLOTTE tem um
insight... Oh, mon Dieu ! Será que ele permanece lá, depois de tudo?...
Ela corre para certo endereço: a Place de l’Opéra no exato lugar em que os dois
se viram pela primeira vez. Claro! E ele lá
estava!
E foi assim – em meio a um turbilhão de emoções
– que a heroína e o mocinho da história se (re)encontraram, desta vez pra
valer! A partir daí – incrivelmente como se ele também esperasse por ela –, sua
consonância foi absoluta: um sentia o que o outro sentia; os sonhos de ambos
eram como sortilégios e a sua vida foi tomada por uma onda de poesia sem
fim!... Namoro romântico demais ou demodé?
Bom, estamos falando de um casal apaixonado na Paris da Belle Époque!...
Portanto, o encantamento não poderia ser diferente, ainda mais quando CHARLOTTE
descobre que o cavalheiro de seus sonhos, o pintor da escadaria da Ópera de
Paris se chama PIERRE Chevalier, é doce, gentil ao extremo e tem olhos azuis
como o Mar da Córsega!”...
A vida adquire um novo gosto para a nossa
protagonista, que entende nessa relação o verdadeiro sentido da felicidade.
Na sua nova rotina, a nossa heroína é levada
por PIERRE a passear pelos lugares mais bonitos da Cidade-Luz! E ela fica
embevecida... Os dois vivem, como se miraculosamente, tudo que a mocinha vira com
anterioridade nos espelhos do Deux Magots!... E a coisa é tão forte que, pela
primeira vez na vida, CHARLOTTE se entrega de corpo e alma a um homem. Cenas
extremamente poéticas, mas também sensuais, dão a tônica da relação incomum dos
protagonistas desta telenovela:
Estamos na rua Lacépède, que localizei,
mais ou menos, entre a rua Mouffetard e a rua Cardinal Lemoine.
Pierre para comigo em frente a um
sobrado de uns cinco andares, acho. A primeira imagem que tenho, além do
pórtico de estilo dórico, é de uma alta porta de entrada, cor verde-oliva, com
a pintura bastante descascada, dando a ideia de um lugar descuidado… É um
hotelzinho, desses que aqui em Paris costumam abrigar os que vêm de fora e têm
poucos recursos.
Subimos. Vários são os lances de uma
escada, íngreme, quase interminável, que o meu pintor encantado sobe todos os dias
para aconchegar-se em seu teto.
Chegamos à torre. E mal sabia eu que lá
seria mesmo, para mim, um castelo de princesa… Pierre abre a porta, faz menção
cavalheiresca para que eu entre, eu avanço um passo, vejo algo e… não me lembro
de mais nada!
CHARLOTTE perde os sentidos ao
entrar no quarto de PIERRE! E o telespectador, certamente, entenderá a sua
emoção e não perderá um só lance, pois se encantará com a surpresa que a
protagonista tem ao entrar no quartinho de hotel de seu pauvre amado: ela desmaia porque se depara com nada menos que uma
tela gigante com... o seu retrato! E mais: com a exata roupa com que está
vestida, em todos os seus detalhes e nuances! Charlotte nada entende e, mesmo,
se apavora com uma coincidência... não! Aquilo nem era coincidência: era a
exata representação de sua aparência naquele momento em uma tela que ele havia
pintado antes... Mas como?!... Se a moça havia comprado o vestido havia pouco
(na véspera) numa maison da rua Saint-Honoré?!... Para
explicar isso, só mesmo a Física Quântica, o Céu... ou o Amor!!! E é esse
sentimento único que ela reconhece também em PIERRE quando ele lhe explica que
tinha pintado o seu retrato (sem saber) um ano antes(!) quando a vira em sonho
exatamente como naquele dia, com aquele exato figurino...
Déjà-vu ! Déjà-senti ! Déjà-visité !
E chega a noite, com o programa
anunciado por CHARLOTTE. Os dois vão para o restaurante Deux Magots e lá – em
meio ao esplendor dos espelhos venezianos – CHARLOTTE revela ao seu amado que –
assim como ele sonhara com ela um ano antes – ela também tivera uma revelação
de sua existência: no mês de agosto do ano anterior vira, nos reflexos daqueles
espelhos, a sua imagem... na verdade, a imagem dos dois a passearem juntos por
Paris (como já relatado aqui). Os dois se emocionam.
CHARLOTTE e PIERRE se amam pela primeira vez
A vida de nossos protagonistas
franceses segue em seu apelo sedutor... Chega o dia, depois de muitos passeios
e conversas, em que CHARLOTTE e PIERRE se amam pela primeira vez na pequena
torre...
Ainda
embaixo, por um minuto ele me solta de seus braços,
vasculha-me
o fundo dos olhos e pergunta, quase sem voz de
tanta
emoção:
–
Tem
certeza, Charlotte?
Não digo nada. Apenas assinto com a
cabeça que sim.
Num último fio – quase não saído – de
voz:
–
Verdade?
Ele me enlaça novamente. E subimos
para a torre. Sei que de lá poderei avistar o céu...
Na escada, a cada degrau da longa
subida (hoje ainda mais difícil), arfamos, ofegantes – como se todo o ar
estivesse nos sendo tirado aos poucos, maltratando-nos.
Pergunto:
–
Não
é melhor entrarmos?
Pierre, então, abre a porta. Assim
que entramos, ele diz:
–
Está
frio aqui. Vou alimentar a fogueira. – E corre a apanhar uns feixes de
pinheiro.
Uma vez no quarto, o frio já não
existe mais, como se numa ordem universal a dar-nos calor pelo desejo de toque,
de posse.
(...)
Pierre me mostra, no inverno de
Paris, inverno esse que não existe mais (tudo é calor!), a térmica, a
incandescência e o resplendor das constelações, acima de nós… Meu amor suspende
meu corpo inteiro – todo êxtase, tremulante, em convulsão repetida – até
atingir a altura da lua! Meu pintor mostra-me a sua cena mais colorida, com
todos os matizes do Eldorado!...
Nosso quarto é todo cor e perfume!
No dia seguinte, amanhece o dia mais
feliz que Paris já viu! E CHARLOTTE, mais tarde do que de costume, vai para o
trabalho.
O
laboratório de perfumista de CHARLOTTE
O
prédio que abriga seu estúdio de perfumista fica na rua Scribe – uma charmosa
via sem saída, no mesmo 9o arrondissement, região da Ópera e da maison Chermont) –, a sede
essencial da Parfumerie –, o local
onde a nossa protagonista faz as seleções, os manuseios, as misturas... e cria
os seus perfumes! Aqui há total liberdade de ação para a heroína desta
telenovela – apesar da personalidade autoritária de seu avô –, já que o seu
estúdio de perfumaria fica distante da sede da indústria, sendo apenas uma
pequena ramificação desta. Ainda assim, CHARLOTTE possui certa autonomia
financeira como perfumista fornecedora de produtos para a Chermont Indústria
& Comércio. Embora, claro, o fluxo geral da fábrica exija um bom número de
perfumistas e fornecedores.
O
atelier de CHARLOTTE é um ambiente inspirador. Situa-se num palacete estilo
Napoleão III, século XVII. Ultimamente, a moça tem trabalhado mais em seu
escritório/laboratório, onde ela mantém uma boa variedade de matéria-prima numa
mesa compartimentada, onde deposita pequenos frascos, com as essências de que
necessita. É a mesa/órgão da perfumista,
o seu móvel de trabalho.
CHARLOTTE
conta com uma assistente pessoal. JULIETTE, na verdade, é mais que uma simples
assistente. Ela é mesmo o braço direito da perfumista-proprietária. E, diante
da dedicação da funcionária, CHARLOTTE decide promovê-la de secretária a
auxiliar de perfumista. Assim, naquela manhã, leva-a à dependência que guarda
os tanques de destilaria e os estoques de matéria-prima. Os olhos da auxiliar
se maravilham ao adentrar o ambiente. A chefe apresenta-lhe, então, modos de
feitura dos diferentes produtos. Explica-lhe que a porcentagem de óleos
essenciais e as combinações colocadas em cada criação, em conjunto, definem os
diferentes tipos comerciais dos perfumes. E as duas passam o dia entre frascos
e essências.
Bom , na Paris de Charlotte – a cidade, a mansão Chermont, o
atelier, as telas de Pierre, o amor incontido do casal de protagonistas – tudo
tem o poder de maravilhar os olhos do telespectador!...Tudo
realmente é muito bonito e sedutor na trama principal desta telenovela, porém a
mais fiel realidade de nossos protagonistas difere da beleza desses cenários e
da leveza de seus sonhos: Pierre é um pobre pintor que vive em condições
difíceis na capital francesa. Morando num hotelzinho de quinta categoria (em
Paris, na época, era comum pessoas de poucos recursos morarem nessas
hospedarias humildes), vivia pintando pelas ruas e, comumente, era visto ao lado
de habitantes de rua, alguns dos quais se tornaram seus amigos. Nenhum problema
nisso se tal não significasse um tremendo obstáculo para o rapaz na conquista
de sua felicidade, já que – apaixonado por uma rica herdeira – ele iria,
inevitavelmente, esbarrar na proibição do romance por parte do avô de CHARLOTTE.
Motivo: o preconceito social. Sem dúvida, o nobre e milionário ARMAND de
Chermont – Conde de Grasse e Marquês du Broc – iria tentar impedir o namoro do
casal apaixonado. Fatos sucessivos dariam conta disso... E talvez tenha sido
por uma certeira intuição que CHARLOTTE evitara apresentar o rapaz ao patriarca
da família, até que chegasse o Natal...
O
Natal dos CHERMONT
A essa
altura, com as cenas de amor e cumplicidade de CHARLOTTE e PIERRE, o
telespectador já estará vivenciando de forma entusiástica a paixão sem limites
do casal de protagonistas. A coisa é tão incomum que a mocinha passa a ideia de
ser este – o sentimento pelo seu pintor – o seu grande acontecimento
existencial, já que nunca antes se sentira tão feliz. A personagem central de PERFUMES DE PARIS está
mais arrebatada a cada dia por Pierre, um recém-conhecido que é como se ela
conhecesse da vida inteira... Além disso, a nossa heroína se vê num tremendo
paradoxo: possui um ofício sofisticado e fortuna de família, mas o seu amado é
um artista muito pobre, que usa roupas velhas e pinta – em condições inóspitas
– debaixo da noite parisiense junto de seus amigos de rua, os clochárds... É por isso que, na noite de
Natal, CHARLOTTE fica perplexa ao ver PIERRE chegar todo arrumado para o Natal
dos Chermont... Ela se mostra tão espantada com o traje novo e requintado de
PIERRE, que seus olhos até se arregalam... a ponto de o rapaz já responder ao
seu silencioso questionamento... PIERRE explica que existem muitas coisas sobre
ele que CHARLOTTE ainda não sabe... Ela, muito curiosa, pergunta claramente,
então, de onde ele teria tirado aquele traje... PIERRE explica que “foi do baú,
literalmente”. Longe de ter suas dúvidas respondidas, CHARLOTTE se surpreende
ainda mais ao ver o namorado tirar do bolso lateral da sobrecasaca uma caixinha
de veludo – que, ao ser aberta, deixa à mostra um anel de diamante! A moça
quase desmaia, ao perceber o que está para acontecer: PIERRE, certamente,
pretende pedi-la em casamento! Porém, o jovem é evasivo e não expõe logo de
antemão o que afirma ter de extraordinário para lhe dizer...
De
braços dados, os dois atravessam o grande portão e percorrem todo o átrio.
Chegando à casa, ao se postarem diante do grande salão, a governanta da mansão
Chermont se apresenta com os criados em formal recepção. CHARLOTTE estranha que
PIERRE não se admire de tão solene ritual, pois geralmente as pessoas se
espantam ante tão numerosa criadagem e seus protocolos... A herdeira do Conde
de Grasse olha para a fisionomia do pintor, que está impassível, quando ambos
adentram o saguão da escada. Minutos depois, no entanto, quando o casal de
namorados passa pelo grande pinheiro – todo iluminado e ornado com frutas,
doces e flores coloridas de papel – o rosto de PIERRE fica transfigurado!
CHARLOTTE acompanha com o olhar a expressão perplexa do rapaz quando este olha para
a armadura munida de sabre que ostenta o local... Ela nota a firme atenção de
PIERRE, com o olhar parado mesmo, na visão das placas na parede da armadura,
onde há inscrições e representações do brasão dos Chermont e das famílias que
compõem a genealogia do clã... O rapaz dirige uma pergunta à namorada, quase
sussurrando (“Charlotte, você é uma Chermont?”), que a moça nem tem tempo de
responder, visto que já avista o avô a descer as escadas...
E foi nesta hora que algo inacreditável se
deu: CHARLOTTE não pôde entender quando viu os olhos de ARMAND chisparem,
enquanto ele bradava (“Voltou do inferno, Apollon?”) – num grito que ecoou pela
casa e pela propriedade inteira! A moça não entende como o avô pode falar assim
com o seu namorado se nem mesmo o conhece!... As criadas JACQUELINE e ELOISE
correm para socorrer ARMAND, visivelmente atordoado, que cambaleia e se segura
num móvel. HERVÉ, o copeiro, também corre para ajudar e senta o patrão numa
poltrona. ARMAND DE CHERMONT continua com os olhos fixos em PIERRE, que agora
não estão mais impassíveis: estranhamente para CHARLOTTE, o rapaz mostra no
semblante que está a entender tudo!... Ela olha para o avô – que parece estar
vendo um fantasma – e para o namorado, agora praticamente petrificado diante de
um quadro que representa os avós da moça, JUSTINE e MARCEL de Chermont, com os
filhos ARMAND e APOLLON... De repente, novo grito: o avô brada a plenos pulmões
que PIERRE se retire! Porém, o rapaz continua parado olhando a grande tela. Há
um intervalo sepulcral de silêncio. Neste instante, CHARLOTTE – em meio à
confusão de seus pensamentos – começa a se dar conta de algumas coisas,
juntando na mente algumas imagens e correlações:... E, como se num insight de
revelação, se lembra da caixinha do anel que PIERRE acabara de lhe dar.
Impetuosamente, pega-a e olha a parte de baixo da embalagem, onde lê o nome
de Gabrielle de la Croix Chevalier de
Chermont e identifica o brasão de família! Mon
Dieu! Será possível que Pierre conheça descendentes de seus antepassados...
ou mesmo (isso seria incrível!) seja um parente seu, alguém da sua família?...
Neste exato momento, ARMAND, como se em complemento à sua dedução, começa a
dizer – com fala parada, mas clara – que aquele moço ali, na frente de todos é
simplesmente... neto de APOLLON, o irmão que, sem querer, ele – ARMAND – matara
em duelo! Sim, o pintor desconhecido e amoroso, por quem a moça se apaixonara,
é seu primo em segundo grau! Ouçamos a narrativa do próprio ARMAND DE CHERMONT,
que explica tudo:
PIERRE é neto do meu irmão Apollon. É o
filho de Antoine; só pode ser! Apenas o sangue pode gerar uma réplica humana
assim! E a idade condiz. Antoine-Pierre de la Croix Chevalier de Chermont foi o
recém-nascido que ficou no castelo quando Diane, Eugène ainda bebê e eu
voltamos a Paris. Sei que ele cresceu normalmente, apesar da falta da mãe, e
teve um filho... Pois bem, este filho aqui está: na nossa frente!
CHARLOTTE, ainda sem acreditar
no espetáculo que se desenrola a seus olhos, pergunta a ARMAND como ele pode
ter tanta certeza de tudo aquilo, e ele lhe responde que a realidade se
apresenta muito clara, já que tem diante de si a figura viva do irmão morto...
Apollon, o irmão caçula que caíra naquela sexta-feira fatídica no precipício!
97
PIERRE se aproxima de
CHARLOTTE e ARMAND. A namorada, sensibilizada, segura em suas mãos. Elas estão
frias, geladas. Seu rosto está lívido. Parece mesmo um fantasma, mas de susto.
É certo que o rapaz foi apanhado de surpresa tanto quanto ela. PIERRE faz
menção de dirigir-se a ARMAND, mas este vira o rosto e, em novo ímpeto, grita
para que PIERRE se vá e nunca mais volte! Por uns lapsos psíquicos, confundindo-o
com o próprio Apollon quando era jovem, desafora-o e o maldiz, reclamando que
ele já havia lhe tirado a mulher e lhe destruído a vida! Então, que se fosse de
vez, que voltasse “para a sua morada perpétua no despenhadeiro”.
PIERRE, então, percebe que não
há o que dizer e retira-se. CHARLOTTE, então, se aproxima do avô, encara-o e
lhe indaga que culpa tem PIERRE de tanta desgraça? Mas o avô apenas lhe
responde que vá se despedir do rapaz, se quiser, e depois o esqueça para
sempre! CHARLOTTE, entretanto, que sempre fora uma boa neta, entende que agora
deve pensar em si e no seu amor, que saiu da mansão cabisbaixo e tristíssimo...
Sim, a moça entende que agora ela tem de seguir.
A virada da protagonista
CHARLOTTE, sem a bênção do
avô, vai morar com PIERRE. Sua intenção, de início, é que habitem um hotel de
médio porte (nada como o Hilton; por outro lado, algo bem melhor que o
hotelzinho pobre, frio e sem estrutura em que o seu amado mora). Porém, a moça
é surpreendida por uma armação do avô, que lhe tira o acesso à sua conta e a
outras benesses de família. Para completar, impede que a produção em perfumes
de seu atelier seja comprada pela
Chermont Parfumerie, o que – apesar de seu trabalho produtivo e dedicado – lhe
deixa quase sem renda. Apertada, precisando prover sustento para si e para
PIERRE, que pouco dinheiro consegue fazer com suas pinturas (mesmo com seu
imenso talento), CHARLOTTE se vê obrigada a vender suas joias e a negociar,
numa espécie de permuta – entre perfumes e joias – com um dos maiores joalheiros
de Paris – Renée LALIQUE.
Fora do trabalho, a rotina de
CHARLOTTE com PIERRE não é fácil.
Viver
nessa pequena torre do hotelzinho modesto da rua Lacépède impõe seus
sacrifícios, como não ter lenha, algumas vezes, para o aquecimento do quarto. A
perfumista, além de trabalhar muito durante o dia, ainda tem de providenciar
tempo e dinheiro para resolver as coisas cotidianas. Mal ou bem, no entanto, os dois vão seguindo
em sua bela e incomum história; seu amor parece tudo superar...
Mensagem de tempestade
Apesar
de os ventos de Eros conspirarem a favor do romance de nossos protagonistas,
nuvens pesadas começam a se formar sobre os céus de Paris...
Certo
dia, CHARLOTTE e PIERRE pegam pesada chuva ao caminharem pelo Quai des
Tuileries. Ao chegarem a casa, eles se secam, se agasalham, tomam um chocolate
quente e vão dormir. No meio da noite, Charlotte acorda com os sobressaltos de
Pierre, que se debate muito na cama e pronuncia palavras indefinidas.. Ao
acariciá-lo, Charlotte percebe a sua alta temperatura e vê que ele está a
tiritar de febre... Ela se assusta ainda mais quando o rapaz, num ímpeto, se
levanta da cama com os olhos arregalados, a gritar... Charlotte também se ergue
e se aproxima, abraçando-o. PIERRE olha profundamente a mulher e diz que se sente
atordoado com o pesadelo que teve, no qual via uma figura estranha, uma sombra
de homem, totalmente esquálido, nariz adunco, rosto magro e esticado.
“Tinha uma pá nas mãos… Acho que era um coveiro, isso! Um coveiro, Charlotte!
Parece mau agouro!”… CHARLOTTE consola o seu amor, visivelmente assustado, e o
leva de volta à cama.
No dia
seguinte, a nossa heroína acorda e beija PIERRE suavemente na face, a fim de
não o acordar. Ergue-se, com sua natural confiança e boa expectativa nas
coisas, entendendo que precisa se dirigir ao seu atelier, na rue Scribe – no 9º arrondissement – para continuar a
sua luta... e diz para si mesma que terá vitória (tentando disfarçar para si
mesma a nuvem cor-de-cinza que parece encobrir
os seus ares)... O dia transcorre sem grandes novidades (apenas com os novos dilemas financeiros e de ordem
prática enfrentados pela protagonista), até que chega o momento mais desejado
naquela situação: a hora de voltar para casa e ver como PIERRE se encontra.
Ao
chegar de volta à pequena torre, no momento em que ultrapassa a porta de
entrada, CHARLOTTE sente um forte aperto no peito... Abre a porta e vê PIERRE
caído, aparentemente sem sentidos. E o seu pavor aumenta quando ela vê, próximo
à mão direita de seu amado, um pano branco com uma mancha vermelha... Charlotte
grita de pavor: “Desgraçada!”
Um vácuo no céu
de Paris
O dia
abraça a noite dizendo-lhe: “Eu vou morrer contigo e vais renascer comigo”.
–
Os miseráveis, Victor Hugo
O grito de CHARLOTTE acorda PIERRE. Mas a moça não
poderia, mesmo, evitá-lo, pois um grito maior e interno a deixa visivelmente
desnorteada: “É a tuberculose! Ela voltou! Maldita!”... Sim, infelizmente, a
moça sabe que é este o mal de seu século: a doença dos pulmões que perfaz um
inferno vermelho no caminho de seus acometidos e no de sua família. E assim
fora desde sempre com CHARLOTTE: primeiro, ainda bem pequena, ela perdera a mãe
com essa mensageira da morte.. Depois, fora o pai amadíssimo, o seu EUGÉNE...
e, agora, o seu único amor! A mulher apaixonada quase morre de tristeza ao
ouvir a lamentação de PIERRE, que lhe questiona (filosófico, especulativo) por
que motivo esse “borrão vermelho invadira sua tela”? Foi quando ele narrou que
já tinha passado por algumas coisas desde que chegara a Paris, havia quatro
meses, e “se estabelecera debaixo do céu” (no início, chegara a dormir ao
relento, na impossibilidade de pagar, mesmo, o hotelzinho simples que agora
habitava). E assim foi até que conseguisse encomendas de seus trabalhos. PIERRE
narra a CHARLOTTE que, desde então, somente agora voltara a tossir e a sentir
fraqueza. Tal se dera antes uma vez, quando, sob o intenso frio da noite
parisiense, teve uns surtos da antiga bronquite de infância. CHARLOTTE descobre,
então, que o seu PIERRE já havia sangrado dois meses antes... Ela lamenta que
ele não tenha lhe falado a respeito, pois poderiam já ter procurado um médico.
No
dia seguinte, nossa heroína sai para trabalhar e recomenda a Pierre que se
cuide direitinho até que ela volte. Poucas horas depois, num intervalo,
CHARLOTTE chega à torre com o DOUTOR PHILIPPE, mas se surpreende ao ver que
PIERRE não está em casa... A moça fica aflitíssima e toma uma providência:
localiza o motorista da mansão, GASTÓN, e sai de auto com ele a percorrer as
ruas de Paris em busca de seu querido... Em dado, momento, tem um insight e
pede a GASTÓN que a leve até o Quai des Tuileries. E, logo no princípio do trajeto
à beira do Sena, CHARLOTTE avista o marido e corre até ele: “Pierre, mon amooourrr!” Ele também corre ao seu encontro, e os dois
se abraçam e beijam emocionados. CHARLOTTE faz PIERRE prometer que nunca mais,
em nenhuma circunstância, irá se afastar dela. E comunica ao amado que os dois
irão se mudar da pequena torre para um hotel melhor, com água encanada e
aquecimento, a fim de poderem cuidar melhor da saúde dele. PIERRE fica
preocupado, de início, com o que Charlotte teria que fazer para aquela mudança,
mas a mulher o distrai...
Nos
dias que se seguem, ele leva CHARLOTTE a um passeio especial: a casa de Monet,
seu mestre... O casal vive cenas pra lá de românticas e felizes no inspirador
local. Porém, CHARLOTTE teme que tal passeio possa ter sido uma despedida... E,
realmente, os dois logo depois passam por um grande susto!
PIERRE tem uma febre
incontrolável
PIERRE
amanhece ardendo em febre!
CHARLOTTE
está num dia triste e ruim... Questiona a si e ao mundo: por que teria cabido a
ela o peso duplo de perder a mãe e o pai de tuberculose? E agora... Mon Dieu! Perderia também o seu
namorado, o seu esposo escolhido, o seu adorado Pierre, pela mesma doença
terrível?
Eles
já se encontram no hotelzinho novo, que oferece condições confortáveis para
PIERRE.
Embora
não haja ainda o diagnóstico oficial da doença-mal-do-século, as manchas de
sangue nos panos e a intuição de CHARLOTTE desenham a certeza de sua presença
entre eles. No século XIX, a tuberculose é a cara da morte!
Chega
o DR. PHILIPPE, agora o médico de PIERRE. CHARLOTTE quer saber, precisamente de
tudo... E o médico lhe informa que irá realizar exames específicos, como baciloscopia e
cultura do escarro. Assim, será verificado se é tísica pulmonar.
CHARLOTTE leva PIERRE
para distrair-se no LAPIN AGILE
Em meio a uma atmosfera tão aflitiva
– em que PIERRE padece com a doença e psicologicamente vai ficando sem forças
também – CHARLOTTE resolve dar uma trégua para a preocupação e combina com o
amigo Touluse-Lautrec uma espécie de sessão rápida de pintura (talvez fazerem o
retrato de alguém) no Lapin Agile, outra das casas de show que CHARLOTTE
costumava frequentar. E ela estava certa: PIERRE consegue se distrair muito com
Lautrec, esse artista maravilhoso que ainda consegue enxergar bem além de sua
tela... Além disso, CHARLOTTE aproveitou para dançar também com o seu amor – e
muito!
Por último, a conversa que os dois
tiveram com Lautrec foi animadora... O telespectador poderá achar
inacreditável, mas justo nesta noite o artista falou a CHARLOTTE sobre as
surpresas que a vida nos traz, lembrando-lhe que nunca deve ser tempo de
tristeza no nosso pensamento, afinal quando menos esperamos, de repente, surge
um fato novo que tem o poder de mudar toda a nossa vida! E que esses fatos
novos costumam acontecer, na verdade, quando mais precisamos; que eles vêm como
uma medida de justiça do universo...
Profeta também esse desenhista e
pintor? Bom, o dia seguinte confirmou a predição do amigo. Incrível!
Represália
do tempo
Hoje é 29 de dezembro de 1894, e ARMAND
de Chermont, agora inteiramente só na vida, vai ao Palais Garnier assistir à
ópera Thaïs, de Jules Massenet, que
se apresenta pela segunda vez este ano.
Parece, porém, que ele não está só...
Olhando melhor a cena, vê-se que ele está acompanhado por uma cortesã
sofisticadíssima, rica e exuberantemente vestida! E Armand deixou aquela
sisudez dos anos... Mostra-se até com o semblante leve e alegre! Afinal,
estaria amando... ou deixou-se acompanhar por uma mulher “de conduta duvidosa”
apenas por medo de estar, de ficar sozinho... vida afora?
No
entanto, a morte o esperava nos domínios internos do Palais... E, exatamente ao
atravessar o Grand Foyer, ao lado da bela dama misteriosa, ante os reflexos dos
painéis de cristal veneziano dos muitos espelhos da supersala, ARMAND de
Chermont recebe sobre a sua cabeça o peso do lustre de centenas de quilos! E este o amassagou, deixando-o deformado!
Trata-se
do acerto de contas mais preciso que existe: o do tempo. Apollon caiu de uma
altura de setecentos metros e foi se desintegrando até imergir na profundidade
infinita das águas do lago de Sainte-Croix... E Armand, cinquenta anos depois,
não pudera fugir quando a morte resolveu encher os ares dos salões da Ópera
Garnier, indo encontrá-lo, também vinda de cima!... Enfim, décadas depois, ele
morreu de modo tão trágico quanto Apollon!...
Termina
1894 e começa um novo tempo para CHARLOTTE e PIERRE
Não
é figura de estilo dizer que o pergaminho dos acontecimentos é caprichosamente
dobrado pelo tempo, com’ marcas permanentes... É verdade mesmo! E assim foi que
os fatos foram se desdobrando até que o parente injustiçado dos Chermont
recuperasse a antiga condição da família:
Hoje – 31 de dezembro de 1894 – é uma
noite de glória: um Chermont está entrando em seu lar, uma casa-castelo que lhe
é de direito como também o é para mim! O cavalheiro Pierre-Antoine de la Croix
Chevalier de Chermont adentra a mansão
da família – pelo umbral principal, como dono e senhor desta casa!
Armand de Chermont morreu. E Pierre e
eu viemos morar na grande Maison
Chermont – agora nosso lar natural e
legítimo, de ambas as partes. Vou providenciar para colocar em seu nome a
metade de todos os bens de família – indústrias, propriedades, ações, títulos,
dobrões… tudo, tudo!
Pierre e eu também iremos nos casar –
oficialmente.
É
claro que, apesar dos desentendimentos entre avô e neta – e principalmente do
peso do abandono do sobrinho-neto por ARMAND (PIERRE, apesar de rico de berço,
vivera na infância e na adolescência pobreza extrema em contraste com o luxo
dos Chermont de Paris) –, CHARLOTTE sofrera as dores que sofrem as pessoas
sensíveis quando perdem seu único (?) parente no mundo. No entanto, passado o
luto, é hora da felicidade, do glamour e do luxo para o casal da (agora) Maison
Chermont & Chermont...
Hoje é noite de gala! Apesar da
natural sombra da morte de meu avô, vou tentar esquecer a sua passagem trágica.
Que ele siga o seu destino num rastro de pó cintilante, se é que lhe sobrou
algum lastro de luz, depois de tantos anos sem lapidar a alma…
É noite de Bonne Année! Vai chegar 1895! E como é
misterioso o universo, Diário meu: estávamos na maior pobreza Pierre e eu há
alguns dias. Sim, porque no início havia alguma poesia em me juntar a ele na
torre – a nossa pequena torre!
Depois, a nossa morada
intermediária… E, num repente cristalino – da noite para o dia, como se num
passe de mágica, estou de volta ao meu palácio – e o que é mais importante: com
o meu príncipe!
Vou ver se Pierre saiu do banho.
Comprei-lhe roupas novas. Que vontade já estou de pousar meus olhos sobre
aquele rosto lindo! Meu amor está magrinho... Mas continua tão belo quanto um
deus pode ser!
E eis que ele surge diante de meus
olhos. Seu sorriso resplandece e só há uma coisa no mundo capaz de cintilar
tanto: as constelações do céu europeu!
Abraçamo-nos e descemos as escadas,
juntinhos. E eu penso em como sou feliz por cada minuto passado com o senhor
dos meus desejos!
Ao chegarmos ao salão principal,
somos aplaudidos pelos criados. Juliette, Gaston e Hervé puxando fila. Olho
para o jardim e vejo que chegam ELOISE e sua mãe, que vieram cear no Bonne Anée
conosco.
Voltamos ao salão de jantar e nos
juntamos a todos os colaboradores da harmonia funcional da mansão Chermont
& Chermont e brindamos com Veuve Clicquot! Daqui, do vão das janelas,
enxergamos um céu de pontos luminosos: os fogos de artifício a moldarem suas
luzes artificiais! Que elas venham, no Ano Novo, mas com a luz fiel dos astros!
CHARLOTTE leva PIERRE para se tratar
na Alemanha
Depois
da feliz passagem de Ano Novo, com o casal CHERMONT integrado à sua casa, por
direito, CHARLOTTE decide que não pode descansar na luta pela saúde de PIERRE.
Afinal, já se sabe de toda a gravidade da situação...
E é
a tal dúvida cruel, afinal (PIERRE VAI SE SALVAR OU MORRERÁ?), que mobilizará a
nossa protagonista a partir de hoje. Para que a resposta a essa indagação seja
negativa, CHARLOTTE moverá céus e terras! Para tanto, se informa com o DR.
PHILIPPE sobre um marco na medicina a respeito: a tal tuberculina do Dr. Koch,
uma dita revolução no tratamento da doença.
No
dia seguinte, CHARLOTTE já parte com PIERRE e o DR. PHILIPPE num trem para a
Alemanha. E é ela mesma quem conta:
O trem para Berlim estava lotado.
Fomos de primeira classe, claro, para que Pierre tivesse mais conforto. E
também porque as passagens nos vagões-dormitórios do comboio estavam, em sua
maioria, esgotadas, já que grande é essa peregrinação de enfermos à cidade em
busca da tuberculina milagrosa de Koch.
Assim foi que embarcamos Pierre,
Juliette, o médico e eu. Contratei o doutor Philippe para nos acompanhar, pois
eu sabia que o percurso não seria simples.
A viagem não foi nada fácil! E, neste
início de tratamento, as crises estão se agravando horrivelmente; meu amor
perde peso (está onze quilos mais
magro!) e sofre a cada dia! Está febril quase o tempo todo, e o pior: tosse,
tosse, tosse, tosse...
E o
que aconteceria naquele triste episódio nem mesmo o DR. PHILLIPE, com toda a
sua ciência, poderia imaginar. A verdade é que, às vezes, até o que parece a
salvação pode ser um grande engano, um passo em falso, legitimamente o
contrário...
E
tudo se dá assim: uma vez no consultório, após se depararem com um médico
aparentemente insensível, este pergunta quando havia se dado a última hemoptise
de PIERRE. Neste momento, o marido de CHARLOTTE começa a tossir num acesso e expectora,
bem em cima do médico, um jato de sangue! E o cientista se esquiva, claramente
com nojo. Em seguida, o cientista dá início à aplicação. Porém, antes ainda de
se concluir o processo, PIERRE tem uma crise absurda (as crises se agravam cada
vez mais!). E é CHARLOTTE quem nos relata este momento definidor:
Uma cena tão triste como outra não vi ainda na vida! Uma hemoptise tão
horrenda, que arrebentou numa nuvem de sangue que não cessava – gigante,
abarcadora, a tomar todo o ambiente –, fazendo chover consistentes jatos de sangue
em todo o quarto, fazendo deste local um inferno rubro e escaldante. Não há
qualquer parte ou pessoa, aqui – cama, paredes, teto, móveis, o médico alemão,
a enfermeira, doutor Philippe, Juliette e eu; ninguém passou sem um respingão
da nuvem vermelha maldita dos infernos. Todos, perplexos, nos paralisamos e
pensamos, em uníssono, que estamos juntos viajando num comboio vermelho para o
inferno! No fim da explosão, Pierre é um morto vivo!
Renascimento miraculoso
Parecia que PIERRE iria sucumbir, irremediavelmente.
Mas a vida e a morte tinham outros planos... CHARLOTTE nos narra isso,
detalhadamente:
Estamos de volta a Paris. A manhã
hoje abriu um bonito sol, e Pierre segue com vida, graças a Deus.
Aconteceu em Berlim uma dessas coisas
que nunca iremos entender na vida. A sessão de inoculação de tuberculina –
interrompida pela terrível crise de Pierre – foi, inacreditavelmente, uma
bênção! O que houve, na verdade, foi o maior bem que poderia acontecer a meu
amado: a enorme quantidade da substância dita milagrosa foi quebrada ao meio,
com a interrupção brusca da aplicação. E isso representou nada menos do que
toda a esperança que temos agora: Pierre
está vivo!
A verdade é que o tal remédio
“miraculoso” não passou de um engano do doutor Koch. Algum tempo depois daquele
dia, foi comprovado que as altíssimas doses de tuberculina acabavam por causar
fortes reações sistêmicas, num desenvolvimento gradual das lesões, com cabal
destruição dos pulmões. E, claro, o paciente morria – e rapidamente!
Realmente, a vida é espetáculo para
poucos entendedores. E o que ontem parecia uma verdade absoluta hoje virou
desengano. Do mesmo modo, a tragédia vermelha naquele quarto de hospital em
Berlim, na realidade, foi uma dura sorte rubra pintada na tela de Pierre! Na
verdade, aquela hemoptise gigante o salvou.
O fato é que – com cuidados intensos
e controladas sessões de pneumotórax –, aqui mesmo em Paris, sob a orientação
do doutor Philippe, o meu amor passa por uma estação intermediária na viagem.
Em
seguida, já que a vida não dá trégua, CHARLOTTE combina com o DR. PHILIPPE a
mais eficaz modalidade de ação científica (que há no mundo!) para se combater a
tuberculose. E o médico do nosso protagonista-paciente sugere que PIERRE vá
passar um tempo na Suíça, em um sanatório para cura de tísica pulmonar,
hospital que fica na região de Davos. No melhor centro de tratamento de
tuberculose do mundo, o marido de CHARLOTTE irá fazer caminhadas e relaxar numa região de montanhas a 1.500
metros acima do nível do mar. Ar puro! Situação ideal para o nosso paciente, já
que em temperaturas mais altas o bacilo encontra dificuldade para se
desenvolver.
Emocionada, a nossa protagonista nos relata essa
passagem:
É a última noite de Pierre em Paris
antes de seguir para a Suíça.! As malas estão arrumadas. Meu marido levará tudo
aquilo de que pode precisar para se manter razoavelmente feliz e bem-assistido
na sua rotina de recuperação. Bom, ele terá consigo o que lhe é mais importante
materialmente: seus cavaletes, muitas telas e tintas de todos os matizes!
Esta
última noite, sagrada para CHARLOTTE, é momento de ritual: ela entrega a PIERRE
o perfume que criou em sua homenagem e lhe prepara uma surpresa simbólica... De
repente, saca de uma tesoura e corta os seus próprios, lindos e longos cabelos
vermelhos de sol! Acima do pescoço, bem na altura do ombro, curtos mesmo!
PIERRE fica nervoso com o ato abrupto da mulher, sem nada entender, e num
ímpeto se abaixa, tentando juntaras mechas espalhadas pelo chão... CHARLOTTE,
vendo o seu desespero aparente ao ser surpreendido com tal ato dela, abaixa-se
ela mesma, pega algumas mechas e dá uma explicação... Fala ao marido sobre a
Rainha Berenice, do Egito, que – de acordo com a lenda – teria feto votos à
deusa Vênus de que lhe doaria uma madeixa se ela, a deusa, permitisse que o seu
marido voltasse são e salvo da guerra. E que, do mesmo modo, ela – CHARLOTTE –
ofertava não uma mecha apenas, mas quase todo o seu vasto cabelo para que Vênus
o trouxesse (traga!) de volta pra ela, o mais rápido possível, da Suíça! Depois
de fazer o pacto de Berenice, CHARLOTTE ainda fez uma prece ao santo de devoção
de PIERRE – Santo Agostinho – também pela sua volta, “para a noite mais
iluminada que Paris já viu!”...
Anos
depois, a volta de PIERRE...
E o
tempo passa... O calendário dá algumas voltas. Enquanto PIERRE se tratava,
CHARLOTTE alavancou a sua carreira e a própria empresa. Assim, cinco anos
depois, como ela mesma nos conta:
Hoje é 15 de abril de
1900, a noite mais iluminada que Paris já viu!
E eu, Charlotte Emanuelle, estou aqui
com o amor da minha vida, Pierre Chevalier, na Cinéorama – esta roda gigante de
onde vemos a grandiosidade, maior ainda, da torre de Gustave Eiffel! Olhamos
para a imponência da construção mais alta do mundo – La Dame de Fer – e reforçamos no brilho de nossos olhos a devoção à
nossa Paris, a Cidade-luz que viu o nosso amor surgir e o embalou! Paris é a
nossa casa, o próprio centro do mundo, a capital do nosso século XIX.
Agora, de volta à terra,
depois do passeio giratório nos ares, estamos fascinados com tudo à nossa
volta. Que espetáculo! Meu marido, artista plástico prodigioso, encanta-se com
as criações e as representações dessa mostra fantástica da inventividade
humana! Em meio a um globo gigante e a construções que nos impressionam,
percorremos todo o Champ de Mars. Ficamos maravilhados com o Petit e o Grand
Palais! E nos beijamos em frente à luminosa fonte do Château d’Eau – o que
significa um juramento de amor eterno!
(...)
Pierre permaneceu por cinco
anos inteiros no sanatório de Davos, em meio aos salvadores ares suíços, até
curar-se! Não foi uma temporada fácil, num suceder de estações que parecia
eterno de tão longínquo. Embora eu o visitasse com frequência – e não
tivéssemos passado uma só estação sem nos vermos –, a minha volta para casa e o
tempo solitário de Pierre naquele lugar foram passagens cheias de nuvens em
nosso céu. Mas eu tentei seguir os conselhos preparatórios de Eugène para
persistir no itinerário, aproveitando o que a vida e a natureza me dessem. A mim,
foi concedida a dádiva de perceber a fragrância da primavera no ar –, sempre,
em qualquer estação! E, por isso, eu pude – com meus cabelos curtos, cortados
para Vênus – evoluir na minha trajetória de mulher de vanguarda! Como? Bem, com
o perfume que dediquei ao meu amor – Pierre Chevalier –, alcancei um sucesso
extraordinário para a Chermont Parfumerie. O produto vendeu tanto, mas tanto,
que hoje temos filiais em Londres, em Milão e em Nova York. Desbravei-as,
conquistei-as com a minha arte, o meu trabalho e o meu amor. Trabalhei intensamente
até a volta de Pierre. Ele, por sua vez, durante esse tempo, pintou tanto
quanto pôde, e isso equivale a dizer que produziu a maior e mais bela coleção
em artes plásticas que um humano pôde produzir no período de alguns poucos
anos.
Hoje – aqui nesta
excepcional Exposição Universal de Paris, 1900 – estamos olhando para um século
que finda, enquanto prevemos o outro que o substituirá. Abrem-se as cortinas da
modernidade: Pierre e eu somos levados – em caminhada leve, quase etérea – pela
trottoir roulant ou rua de l’Avenir, nessa tal “esteira
rolante” que nos leva para a frente sem precisarmos caminhar. Também assistimos juntos à cinematografia dos
Lumière (e lembrei, claro, de meu amigo Léon Bouly); apreciamos galerias
inteiras de criações art nouveau...
Entre um tempo que se vai e outro que chega adiantado, contemplamos todas as
maravilhas inventadas pelo homem nas últimas décadas. E, depois de andarmos no
fabricado céu luminoso e quase real da amie
Ursa Maior, nos dirigimos ao pavilhão dos perfumes da Chermont Parfumerie!
Mas, tão logo saímos do pavilhão,
visitamos uma das mais valiosas alas desta mostra de maravilhas mundiais: a
obra completa (até agora) do artista plástico francês Pierre Chevalier, que
reúne em quinhentas telas faces variadas de uma tal Charlotte!...
Que se registre aí: meu nome é
Charlotte Emanuelle Dubois Grasse de Chermont. É 15 de abril de 1900 e hoje
está sendo inaugurada a iluminação elétrica pública de Paris!
Depois
de momentos tão envolventes, no dia seguinte vemos nossa protagonista a sair do
quarto, cuidando para que PIERRE não acorde... Momento posterior, ela já está
em cena nos Jardins de Luxemburgo. CHARLOTTE está introspectiva, a contemplar o
espetáculo da natureza primaveril à sua volta e reflete, agradecida, sobre os
ensinamentos de seu pai, nesse mesmo local, quando ela tinha apenas treze
anos... Entende que ela e o marido receberam uma nova chance: um novo tempo
para viver e sonhar!
CHARLOTTE
pensa que tem essa prerrogativa: a da esperança. Afinal, o DOUTOR PHILIPPE diz
que PIERRE se curou completamente; outros médicos defendem a tese de que a
doença se tornou crônica. Assim, seu organismo teria se moldado às
circunstâncias. E parece que isso quer dizer que ele poderá viver muito, ainda
(quem sabe até noventa anos?!)...
Porém,
a nossa heroína treme a cada vez que o marido tem uma pequena tosse. Apavora-se
de pensar que ele possa voltar a desenvolver a doença. De todo modo, ela mantém
a perspectiva positiva de acreditar no melhor. E uma das cenas mais
emblemáticas deste fim da fase 1 da novela é justamente esta em que, diante das
muitas ramagens coloridas que cobrem tudo à sua volta, CHARLOTTE se reapresenta
ao telespectador, como se numa resposta às estações de mudança que precisou
atravessar... Numa narração off:
Meu nome é Charlotte Emanuelle,
Condessa de Chermont. Tenho vinte e seis anos; vivo na França; o ano é 1900. Às
portas de um novo século, observo a mudança de roupagem das estações, que se renovam
a cada temporada. Uso um vestido rosê, todo enfeites e encantos, com chapéu
matizado – da cor das ramagens da cerejeira florida que cobre a minha cabeça.
Aprendi com Eugène, meu pai, que a vida é uma sucessão de estações – tempo
sempre aberto para sonhar, mesmo depois da missão penosa de alguns invernos.
Pois bem… É Primavera em Paris e eu estou sonhando!...
CHARLOTTE,
SANTOS DUMONT e CARTIER
E a
primeira fase da novela tem em sua cena final um glorioso (re)encontro de CHARLOTTE
e PIERRE com Santos DUMONT e CARTIER. A nossa heroína o havia conhecido uns
sete ou oito anos antes, justamente num dia inesquecível para o brasileiro:
quando de seu experimento do primeiro dirigível que projetara, o N-1. Isso se
deu no Jardim de Aclimação de Paris... e foi bem num dia em que DUMONT quase
morreu, por causa de uma manobra com o aparelho operada com erro pelos seus
auxiliares. No dia, houve uma grande frustração por parte do aviador e, mais
que isso, um tremendo susto com a quase fatalidade! O novo amigo de CHARLOTTE,
porém, não perdeu o bom humor, dizendo: “Variei desse modo o meu divertimento:
subi num balão e desci numa pipa”. DUMONT também chamou CHARLOTTE para uma
experiência nos ares em seu próximo “programa” no Aeroclube da França, mas a
moça não teve vergonha de recusar, revelando todo o seu medo de altura...
Agora,
porém, tudo parece mais seguro para DUMONT... Anos e experiências variadas
depois, muito ele aprendeu “pelos ares”... Hoje, 19 de julho de 1906, véspera do
aniversário dele, é um bom momento para comemorar as suas muitas vitórias
recentes desde aquele dia do dirigível... Em meio a esse bom clima, vemos nossa
protagonista no campo de Bagatelle, celebrando previamente com ele e o amigo
joalheiro. Afinal, nenhum outro modo de comemoração poderia ser melhor para um
aviador do que com o experimento de um seu invento, no caso uma máquina
híbrida, o que quer dizer: um avião unido a um balão de hidrogênio. DUMONT,
como CHARLOTTE o chamava, fez uma apresentação com saltos sucessivos e muito
aplaudidos (o telespectador saberá, pelo próprio formato da máquina, mas ele –
Santos Dumont – não sabia ainda que acabara de inventar, de fato, o avião, o
primeiro do mundo! A novela desbancará os irmãos Wright. O roteiro dos
capítulos alusivos dará conta disso).
Naquela
noite, de volta a casa, nossa protagonista sonha com o Rio de Janeiro da Belle
Époque... Desde que conhecera DUMONT, no convívio pela noite parisiense, ele
lhe apresentara imagens maravilhosas do Brasil. Pois bem, CHARLOTTE vira em seu
sonho as belezas geográficas, o céu azul, o tal monte gigante de nome engraçado
(Pão de Açúcar?!) e até mesmo a alegria do povo carioca em festejos de rua!...
A parisiense acorda sobressaltada, senta-se na cama e pensa – meio atordoada,
mas com uma espécie de felicidade anunciada – o quão feliz poderia ser uma
estadia sua no Rio de Janeiro de DUMONT... Quem sabe isso não poderia acontecer
a qualquer tempo?...
Pois
bem, alguns meses depois, PIERRE passa mal gravemente. CHARLOTTE chama o DR.
PHELIPPE, que sacramenta: o mal do pulmão voltou!...
CHARLOTTE,
então, pensa que o seu sonho não fora meramente um sonho: como sempre, era um
aviso do que estava para acontecer!
E,
na última cena da primeira fase da novela, vemos CHARLOTTE pegando um vapor: na
tela, a protagonista, PIERRE, DR. PHILIPPE e JULIETTE, todos juntos entrando no
navio...
Segunda fase da novela:
Brasil – No Rio de Janeiro da Belle Époque (1906-1912)
“Este gosto de imitar
as francesas da Rua do Ouvidor, dizia-me José Dias andando e comentando a
queda, é evidentemente um erro”.
Machado de Assis in Dom Casmurro
Como na obra do genial
escritor Machado de Assis – considerado o maior cronista do Rio de Janeiro –,
esta novela também apresenta aquele encantador Rio de hábitos e costumes
franceses, quando se aspirava Paris na Rua do Ouvidor!... Sim, estamos falando
de “um Rio de Janeiro que queria ser Paris!”...
E começava a se formar uma cidade
que – por tradição e séculos afora – teria a marca solene da inspiração
europeia.
Cidade
do Amor traz painéis lindíssimos ao telespectador, herdados à
Paris daqueles tempos... Principalmente
pela rua das modistas e pelas vias da urbanidade, se veem desfilar senhorinhas
cheias de garbo, babados e sombrinhas de seda. Mas nem só de charme e
visualidade era feito o tal “Rio que civiliza-se”. O Rio da transformação
urbanística do Prefeito Pereira Passos era também o Rio da reforma: da saúde,
paisagística, social e cultural. Sim, a Paris dos trópicos começava a mostrar
suas feições: o Rio da recém-surgida Avenida Central abre um novo tempo: a era
das confeitarias e dos cinematógrafos, como o cine inaugural – o que trouxe à
luz, literalmente, o cinema no Rio de Janeiro – num espaço da Rua do Ouvidor, a
via mais glamourosa do Rio de então. Tal se deu em sessões de cinema intercaladas
por espetáculos de mágica (ilusionismo), danças e músicas/canções, que já
causavam êxtase e frenesi na plateia. Esta primeira sala permanente de sessões de
cinema do Rio recebeu o nome de Salão de Novidades Paris, justamente por causa
de toda a influência francesa na cidade.
E é esse
Rio – em boa parte centrado na Rua do Ouvidor –, que recebe agora CHARLOTTE E
PIERRE vindos de Paris. Acontece, porém, algo de que precisamos nos lembrar:
eles não estão a passeio... Apesar do fato (antes animador) de a nossa
protagonista ter interesse em conhecer o Rio, principalmente por causa do que
lhe dizia Santos Dumont e este lhe mostrava em daguerreótipos (fotografias),
não foi a atração pela cidade que fez a perfumista comprar uma passagem sem
volta para a travessia do Atlântico... CHARLOTTE veio para ficar porque seis
anos depois do feliz retorno de PIERRE a Paris e toda aquela festa vivida pelos
dois na Exposição Universal, a maldita doença voltou com a sua face mais
vermelha!... E a francesinha amorosa precisou tomar uma forte providência...
Estudando com o DR. PHILIPPE uma saída – e depois de cogitarem as hipóteses de
uma (nova) internação de PIERRE (faz-se necessária!) no Hospício Princesa Dona
Maria Amélia, na Ilha da Madeira, ou no Adirondack Cottage Sanitarium, nos
Estados Unidos – ambos entenderam que, de qualquer modo, PIERRE ficaria longe...
E foi aí que CHARLOTTE teve a ideia de eles virem para o Brasil, em mudança,
pois próximo à cidade do Rio de Janeiro existe um sanatório para tuberculosos
mundialmente conceituado, que fica na região serrana de Teresópolis.
E foi
assim que CHARLOTTE enfrentou 36 dias na primeira classe de um vapor, a cuidar
de PIERRE todo o tempo, já que ele novamente não está bem...
E a
aventura de nossos protagonistas acaba de se transferir de Paris para o Rio...
CHARLOTTE
e o RIO DE JANEIRO DA BELLE ÉPOQUE
CHARLOTTE EMANUELLE DUBOIS G. DE CHERMONT
chega ao Rio no finalzinho de 1906 e se depara com os painéis grandiosos da
Belle Époque carioca!... Para sua feliz surpresa, vê diante de si, uma cidade
que a fascina ainda mais e, não por acaso, lhe lembra – na Rua do Ouvidor, no
Centro especialmente e em toda parte, afinal – uma Paris tropical e
fervilhante, algo num ritmo alucinante de progresso que ela não imaginara... um
conjunto paisagístico com bondes elétricos e grande movimento de cavalheiros,
damas e autos!... De fato, o Rio de Janeiro se mostra à francesa como um lugar
também de vanguarda – um polo cultural, social e econômico que uma capital
federal – com todos os seus points de
época – pode representar... Mas que ela não imaginava existir com tanta vida e
movimento do outro lado do Atlântico!
Ora,
por mais que o amigo Santos Dumont tivesse lhe adiantado um pouco sobre o Rio, é
enorme especialmente a sua comoção ao avistar a Baía de Guanabara, ver o Pão de
Açúcar e as serras entrecortadas da topografia... Tudo isso debaixo de um céu
azul como nunca visto pela francesinha!... Além do espetáculo da beleza
natural, CHARLOTTE se encanta ainda com a recém-inaugurada Avenida Central
(atual Rio Branco) e suas imediações, com o seu casario típico e – ela ficou
pasma! – com as tantas construções de arquitetura francesa – verdadeiros
palacetes! Uma estética de construções neoclássicas em meio a ecléticos painéis
cariocas induz a mocinha da história – reitere-se: com os olhos em deslumbre –
a apaixonar-se pela cidade do Rio de Janeiro!
O
problema é que nem tudo é beleza e alegria... E a comitiva de CHARLOTTE (lembremos
que, além dela e de PIERRE, vieram também o Dr. PHILIPPE e a assistente da
perfumista, JULIETTE) já chega ao Rio com o sobressalto de uma hemoptise
terrível de PIERRE, dessas de apavorar a todos, como aquela que ele tivera em
Berlim no episódio da aplicação de tuberculina... Diante disso, mal chegaram ao
Brasil, o DR. PHILIPPE já seguiu com PIERRE para Teresópolis, enquanto
CHARLOTTE se fixou no hotel para tomar as providências práticas de sua mudança
para outro país. É claro que seu coração doeu ao não ir pessoalmente levar
PIERRE até o hospital na serra. Porém, ela sabe do desvelo extremo do DR. PHILIPPE
(que, inclusive, sem família na França, desejava mesmo tentar uma vida nova na
América) e das habilidades assistenciais de JULIETTE, que seguira também com
eles para providências práticas.
E
CHARLOTTE começa a conhecer o Rio de Janeiro
Começando
a assentar-se na cidade, inicialmente a nossa heroína hospeda-se no HOTEL
FARAONE, onde é recebida por todos (isso é de se dar às vistas) com olhos
contemplativos, como se ela fosse não de outro país, e sim de outro planeta!...
De fato, seu figurino elegantíssimo e a sua própria figura de mulher bonita fazem com que ela se destaque na nova
cidade. Ora, se o Rio da Belle Époque quer imitar Paris em tudo e por tudo, é
natural que uma parisiense legítima cause tal burburinho assim à primeira
vista!...
No
entanto, apesar da estranheza (apreciativa) que causa, uma hóspede mais
impulsiva e sem formalidades tem o ímpeto de aproximar-se de CHARLOTTE.
Trata-se de ISOLDA RAPOSO, uma baiana rica e excêntrica, de aparência forçosamente
luxuosa (empolada mesmo!) e, por isso, um tanto esdrúxula; por isso, é chamada
pelo recepcionista italiano do hotel de “mole sdrucciola” quando vem
chegando...
Pois
bem, ISOLDA puxa conversa com CHARLOTTE, apresentando-se como “Rainha do Cacau”
(autodenomina-se assim), com suas falas exibicionistas de “dona das maiores
fazendas cacaueiras da Bahia”. Obviamente, CHARLOTTE não se deixa abalar por tais
afetações, vendo que tal senhora, a despeito de suas esquisitas características
pessoais, apenas está se mostrando receptiva. E reage bem à sua iniciativa,
apresentando-se também e se predispondo a conversar. E é aí que a nossa
personagem francesa toma conhecimento de como anda a cidade em que veio morar:
que o Rio havia passado por uma reforma urbanística sem precedentes, que o “tal
prefeito Pereira Passos” havia dado as ordens do “bota-abaixo”, tirando os
populares de suas pequenas casas e mandando demoli-las para dar lugar a prédios
novos com a feição das grandes cidades do mundo, com “a cara de Paris, sabe,
minha filha?”... No entanto, a mulher fala ainda a CHARLOTTE que, “apesar do
que ele fez, está trazendo melhorias”... e que àquela altura (novembro de 1906) estavam sendo
feitos o alargamento da Rua da Carioca e a conclusão das obras do Porto do Rio
de Janeiro. Informara também (e convidara CHARLOTTE a ir!) sobre a inauguração
da fonte do Jardim da Glória... falando, paralelamente, no “revolucionário
aterramento das praias do Flamengo e de Botafogo”. CHARLOTTE até se mostra
interessada, mas tem em mente que gostaria de descobrir sozinha a nova cidade,
desejo que não pode realizar agora, visto que – em sua tentativa de levantar-se
e sair – a senhora também se levanta, dizendo que estar “pronta a levar a nova
hóspede e amiga para conhecer o Rio de Janeiro”.... CHARLOTTE não vê saída e se
deixa acompanhar pela louca senhora.
No
instante seguinte, entretanto, mais que a esquisitice da nova amiga, o que
assusta a nossa francesa é o encontrão que tem com um homem até bonito (mas de
olhar assustadoramente insinuante), esbarrando-lhe (e ele a segura com força)
quando ela já quase deixava o portal principal do saguão... O cavalheiro olha-a
no fundo dos olhos e lhe pede desculpas pelo forte “esbarrão’, mas CHARLOTTE
nada diz e sai dali a toda, acompanhada por ISOLDA. Esta, como se pode esperar,
dá a ficha do rapaz: “Esse moço bonito é partidão solteiro, minha filha! Filho
e braço direito do banqueiro JACQUES PERRAULT, proprietário de casas
financeiras na capital da República e em São Paulo”. Para CHARLOTTE, isso nada
diz, porém ela nem poderia imaginar o significado que teria, a partir de então
em sua vida, o inesperado encontrão com o homem que não a tiraria mais “da
retina de seus olhos”.
CHARLOTTE
se depara com a sua grande rival
CHARLOTTE
e ISOLDA saem pelas ruas, ambas extasiadas com as novidades por minuto que
ditam o seu movimento... Realmente, o Rio de Janeiro de 1906 faz saltar os
olhos de qualquer observador: seja uma europeia que acaba de chegar ao Brasil,
seja uma baiana radicada na vida carioca há quinze anos. Assim é que as duas
circulam alegres e com os olhos postos em tudo, caminham pelo Largo da Carioca,
vão até a Rua do Ouvidor... e, na volta, estão bem no cruzamento da Sete de
Setembro com a Avenida Central quando CHARLOTTE, distraída, só vê na sua frente
um espectro prateadíssimo... e, instante seguinte, ela está caída na rua, para
o alarde de todos e o espanto de D. ISOLDA! Atropelada?!... A francesinha nas
ruas do Rio de Janeiro acaba de sofrer não um atropelamento propriamente, mas uma
leve pancada de um veículo Rolls-Royce – um espetacular Silver Ghost 1906,
tendo ao volante ninguém menos que a coquette
Suzie Perrault! O atordoamento de
ISOLDA e o próprio tumulto que o atropelamento causou, claro, chamou a atenção
de uma autoridade do Corpo da Guarda Municipal, que logo se aproxima e muito
estranha encontrar uma mulher(!) ao volante daquele carro de luxo! SUZIE,
então, é notificada pelo policial, que exclama com vigor que não se admitem
mulheres na direção; que ela estava infringindo a lei, afinal, não tem nem
poderia ter uma carta de trânsito... ISOLDA, a bradar, reclama a falta de
cuidado da autoridade com a “atropelada”, ao que o policial, sobressaltado, manda
vir um serviço de pronto-socorro. Mas a verdade – e que ficará clara ao
telespectador – é que o atropelamento fora algo leve, até porque o auto – ao
trafegar naquela velocidade (12 km/h) – em
tese não poderia ter machucado CHARLOTTE com gravidade. Além disso, a
perfumista fora atingida pela lateral direita do carro, num choque que SUZIE,
aos berros (pois não é nada educada essa moça), já estava qualificando como “um
mero esbarrão no capô do meu Rolls-Royce”... De todo o ocorrido, porém, o mais
importante é que este cruzamento na vida de nossa protagonista marca o início
de sua maior rivalidade no Rio de Janeiro, aquela que se tornaria, a partir de
então, “a pedra no sapato” francês de CHARLOTTE!
Nossa
protagonista, então, é levada à Santa Casa, onde a atarantada ISOLDA descobre
que só naquele dia, até aquele momento, já haviam dado entrada no hospital oito
outras pessoas, todas vítimas de atropelamento pelos bondes elétricos e
automóveis que circulam pelo Rio de grande agitação em seu centro nervoso. Reflexos dos tempos modernos, painéis novos
da Belle Époque carioca...
Conhecendo de perto a grande vilã da história
Bom,
apresentemos a antagonista: SUZIE PERRAULT é uma carioca que deseja se passar
por francesa... Aos 25 anos, essa loira exuberante é uma típica coquette, apesar de já ser viúva
(precoce, naturalmente). Mas isso não diminui a sua leviandade tipicamente
juvenil. Vaidosa ao extremo, veste-se no rigor da moda, a desfilar o
seu charme irresistível no Rio de Janeiro da Belle Époque. De personalidade
forte, porém camaleônica (capaz de adaptar-se a quaisquer necessidades no jogo
de sedução das relações humanas), é a vilã-mor da novela. Possuidora de grande
sagacidade, em seus truques consegue enganar a quase todos, passando por boa
moça. De personalidade dupla, na verdade esconde um grande segredo e já tem um
crime nas costas (o que o telespectador saberá depois, ao descobrir
simultaneamente que o seu marido também morrera em circunstâncias pouco
explicadas).
Como CHARLOTTE, é uma rica herdeira – filha do
banqueiro JACQUES PERRAULT, poderoso descendente de franceses radicado no Rio.
Porém, a moça não exerce nenhum ofício nem possui qualquer expressão cultural
na cidade; no que se refere a cultura, aliás, só vivencia o exibicionismo no
desfile do Corso no Carnaval da cidade... Apesar do figurino impecável e da
beleza estonteante – depois da chegada de CHARLOTTE à cidade, destronando-a –, SUZIE
passa a ser conhecida como “a francesa falsa”, o que acende na loira carioca um
ódio sem precedentes! Ao eleger a nossa protagonista como alvo de sua
inveja feroz, começará a desenvolver uma constância de ações para prejudicá-la
e, mesmo, destruí-la a todo custo. Para tanto, usará de artimanhas que
atrapalhem sua vida, como nas estratégias maquiavélicas de sabotar a Parfumerie
Chermont, que tem no Rio agora a sua nova sede.
CHARLOTTE instala sua perfumaria na RUA DO
OUVIDOR
Passado o episódio do atropelamento, CHARLOTTE
começa vida nova... Além dos passeios pela cidade e dos programas sugeridos
pela nova amiga ISOLDA, nossa protagonista começa a procurar o local ideal para
instalar a sua parfumerie. E é numa
dessas incursões pela Rua do Ouvidor, exatamente, que ela se depara com o
sobrado ideal: Já sei, ela pensa, embaixo faço a loja para vender os perfumes
– o salão expositor de minhas criações – e, no segundo piso, o meu atelier, o
escritório e o tanque de destilaria.
E logo no primeiro dia de trabalho, na inauguração
da Chermont Parfumerie - Rio, entra na perfumaria – destacando-se dos demais
clientes – uma senhora de uns setenta anos, muitíssimo elegante, ostentando uma
fina toilette, com um chapéu
carmim de penacho preto, a pegar nas mãos um dos frascos de Lalique, aspirá-lo
e exclamar uma frase – e com tal som genuíno – que fez CHARLOTTE abrir
imediatamente um sorriso de emoção: “Bonjour! Comme ce parfum est sophistiqué!”...
CHARLOTTE conhece a modista AMÉLIE BEUAMONT,
A CONDESSA D’ALENÇÓN
A dona da parfumerie
se apresenta e recebe, de volta, a melhor informação que poderia ter no dia
da abertura de sua loja... MADAME AMÉLIE BEAUMONT, a Condessa de Alençón,
apresenta-se, explicando ser uma modista francesa radicada no Rio havia onze
anos. Narra sua ascendência e seu casamento na França com o Conde, e explica
que com o falecimento deste decidiu vir para o Brasil – para parar de chorar e
para, finalmente, realizar o seu desejo de ter um negócio (próprio) de Moda,
unindo talento e ofício em seu meio de vida. Bem, é verdade que a herança de
nobreza é que lhe dera generosa fortuna, mas também não era pouco o que vinha
amealhando na condição de modista mais importante do capital federal brasileira
desses tempos...
A figurinista leva CHARLOTTE a conhecer a Casa
de Modas CONDESSA DE ALENÇÓN. É um espaço tão sofisticado quanto aconchegante,
que tem no primeiro piso uma loja de tecidos finos com manequins expondo trajes
prontos e, no segundo, um atelier de moda. Neste, vemos vários auxiliares de
Madame em suas máquinas de costura, mesas de trabalho com croquis, fitas
métricas, aviamentos etc. e muitos modelos de luxo – alguns dos trajes
femininos mais ricos da Nova República.
Como auxiliares de MADAME AMÉLIE, conhecemos
LIA e RAMON.
Com o passar do tempo, a nossa francesinha em
terras brasileiras seguiu em tudo a sua compatriota, que a levou à sua casa no
bairro do Cosme Velho, a excursões a Copacabana (de povoamento ainda tão
iniciante) e a passeios no “Rio francês”: visita à construção do Pavilhão
Mourisco e ida à inauguração do Palácio da Exposição Permanente de Sant Louis –
que viria a se constituir no Palácio Monroe... CHARLOTTE está encantada com tudo
o que vê nesta Paris dos trópicos! E vê em MADAME AMÉLIE a sua adorável
madrinha no Brasil! E os passeios com a nova grande amiga não se limitam a
roteiros triviais para moradores-turistas nem a programas mais comuns, como
idas frequentes ao Teatro São João e ao Teatro Lírico... Na rotina – e isso se
tornaria uma constante nos anos que se sucederiam –, as duas compartilhariam
toda sorte de programações sociais, culturais, gastronômicas... Banquetes,
conferências, desfiles de moda e atrações variadas fariam parte de seus
percursos habituais pelo Rio Antigo.
Em meio a tanto, nunca houve uma opção cultural
tão grandiosa e significativa para CHARLOTTE quanto a que se descreve abaixo,
na ocasião mesma em que a francesinha chega ao Rio, assim que ela conhece MADAME
AMÉLIE...
Homem de pena e homem de asas – CHARLOTTE entre
MACHADO DE ASSIS e SANTOS DUMONT
E seria mesmo ao lado da modista-madrinha que
CHARLOTTE teria uma de suas maiores emoções inaugurais na Terra Brasilis... o
que aconteceria na Confeitaria Brasil...
É emocionante quando – numa bela cena mostrando
as duas elegantes francesas a adentrarem a Confeitaria Brasil – vislumbramos lá
numa das mesas ao fundo do salão – junto ao espelho – a mão direita de um
senhor pendurando a cartola na chapeleira. E o telespectador fixará os olhos na
tela, cujo foco se abre e mostra a imagem de.... Machado de Assis! Isso mesmo! Hoje
é terça-feira, 13 de novembro de 1906... dia em que CHARLOTTE conhecerá o maior
escritor brasileiro de todos os tempos! A nossa protagonista, versada em
Português e em coisas brasileiras pelo amigo aviador, tinha de cor, inclusive,
trechos inteiros de algumas de suas obras... Por isso, ela quase morre de
emoção quando é apresentada a ele pela amiga AMÉLIE de Beaumont! Refinado e
discreto, o distinto cavalheiro das letras beija-lhe a mão, concedendo-lhe toda
a sua simpatia. E à mesa estão MACHADO, CHARLOTTE E AMÉLIE quando ninguém menos
que LIMA BARRETO, fazendo um aceno de cabeça a todos, chega-se à mesa, e sobre
esta deposita um jornal... Com outro exemplar nas mãos, com entusiasmo passa a
ler uma de suas notas:
Pela primeira vez e com testemunhas, um homem fez voar um
avião sem o auxílio de nenhum outro artifício que não o impulso do motor
instalado na aeronave. O mérito é do brasileiro Alberto Santos Dumont, que mais
uma vez encantou Paris. Uma multidão reunida em Bagatele presenciou quando
Santos Dumont ligou o motor da máquina voadora, batizada como 14-Bis, e a fez
percorrer 200 metros antes de subir aos céus, onde ficou por 21 segundos. Na
aterrissagem, um susto:
uma das asas partiu-se
ao tocar o solo, mas o piloto nada sofreu.
CHARLOTTE
não se aguenta de empolgação e chega a dar gritinhos em francês, não somente
pela grandeza do feito narrado como principalmente pelo fato de o autor da
proeza ser o seu queridíssimo amigo DUMONT, conhecido no Chat Noir, numa noite
do outono parisiense... O gentil e refinadíssimo DUMONT... SANTOS DUMONT, que
se tornara seu amigão e companheiro certo de programas culturais na Cidade-Luz!
Que emoção!... Um gênio inventivo da humanidade! MACHADO apresenta LIMA às
damas e todos se põem a conversar animadamente sobre a grande conquista
brasileira, fato histórico regulamentado pelo Aeroclube da França em um
monumento imortalizado no Campo de Bagatelle.
Depois
da leitura da importante publicação contida naquele exemplar de Jornal do
Brasil, CHARLOTTE, MADAME, MACHADO e LIMA fazem leituras de fragmentos de
romances e poesia, ao mesmo tempo em que apreciam as delícias servidas por SANTIAGO,
funcionário e filho do dono da Confeitaria Brasil.
A CONFEITARIA BRASIL
Pelos
salões da Confeitaria Brasil irão circular os protagonistas da novela, no
cruzamento de peripécias variadas da história. Por isso, o suntuoso café
decorado em Art Nouveau será um dos points principais da trama. Diante dos
espelhos de cristal, sentados às mesas de jacarandá, as personalidades da Belle
Époque, interagindo com nosso universo de personagens, farão um retrato fiel e
fascinante do Rio Antigo. Dentre os visitantes ilustres da casa, veremos
Machado de Assis, João do Rio, Lima Barreto e Chiquinha Gonzaga.
A
confeitaria é administrada por seu proprietário – um português, Sr. JOAQUIM VALENTE –, tendo como carro-chefe
de sua produção as criações gastronômicas de sua esposa a também portuguesa CATARINA VALENTE – e por seu empregado de
confiança PILETI, um alemão, mestre de cerimônias que se diz “aparentado” da
nobreza europeia. Ajudam no balcão, diretamente na venda-varejo, a funcionária
CRYSTAL e um dos filhos da proprietária, SANTIAGO. O outro filho – o marinheiro
VALENTIM – irá se apaixonar por CRYSTAL.
As
cenas passadas na confeitaria, além de trazerem movimentação à história, darão
grande charme à novela.
Uma
relojoaria à moda antiga
Imaginemos
uma relojoaria antiga misturada com joalheria de raro lavor... Sim, é isso
mesmo que o telespectador irá vislumbrar nesse cenário da novela: um point comercial que mais parece um
antiquário aos nossos olhos modernos, repleto de relógios antigos, de todos os
tamanhos e formatos: de relógios de bolso a cucos e carrilhões! Um lugar
fantástico, que também exibe, em luxuosas vitrines, antigas peças de ouro e
pedras preciosas. Um deslumbre! Coisa realmente de encher os olhos...
Pois
bem, este é o santuário particular de um figurão – VINCENT LAMBERT, conhecido
como LAMBERT, um belga, da região da Valônia, que chegara ao Rio logo depois de
CHARLOTTE. Homem alto, muito bonito e misterioso, na faixa dos 45 anos, que –
acima de tudo – carrega em sua imagem uma ideia de mistério... Mesmo em um
reino Belle Époque Rio Antigo cheio de segredos (na trama há até mesmo gangsters), LAMBERT será o cavalheiro-mor
de suspense da novela!...
E
diversos gêneros teledramatúrgicos vão dialogando entre si...
Esta
telenovela – que através da telinha transportará o leitor para uma outra época –
mistura gêneros dramatúrgicos na medida em que tem romance, drama, ação,
aventura, suspense e policial – com o pano de fundo histórico do Rio Antigo –
que é filão de interesse de inúmeras comunidades de estudiosos, aficionados e
internautas no Brasil.
A
trama geral de CIDADE DO AMOR no RIO
DE JANEIRO DA BELLE ÉPOQUE
Assim
é que vemos CHARLOTTE a interagir com a sociedade carioca, da qual ainda será parte...
Articulando-se
as ações da protagonista com a vida cotidiana dos personagens da Rua do Ouvidor
(clientes, negociantes e seus empregados, visitantes, ícones da Belle Époque e
transeuntes em geral), começamos a ver a dinâmica de um cotidiano no finalzinho
do ano de 1906.
E
é a cadência de uma rotina movimentada na vida urbana de princípio de século do
Rio de Janeiro que a nossa protagonista vive... Enquanto o telespectador vê
PIERRE se tratando no hospital para tuberculosos de Teresópolis, no ritmo
tranquilo e silencioso de serra, paralelamente acompanha CHARLOTTE em sua luta
como perfumista e comerciante. Na verdade, com o passar dos meses, a precursora
parisiense passa a investir, mesmo, em uma indústria de perfumes; a CHERMONT
PARFUMERIE brasileira se expande, chamando a atenção pela excelência do
produto. Clientes e consumidores dos mais exigentes passam a eleger os perfumes
de CHARLOTTE como os seus prediletos, quer pelo teor das fragrâncias, quer pela
originalidade de um presente com marca de requinte e beleza, capaz de agradar a
todos. É assim que, após um ano de Brasil, os perfumes de CHARLOTTE viram mania
e lhe permitem começar a exportar. Mas nem
tudo são delicados odores na atmosfera da nossa perfumista: sua
personalidade e seu sucesso despertam cada vez mais a inveja de SUZIE PERRAULT
– que, desde aquele dia em que a atropelou – na sua chegada mesmo ao Rio de
Janeiro – é literalmente um estorvo no seu caminho! Mas só um sentimento
antagônico assim não poderia fazer muito mal a ninguém... O problema é que a
inveja, quando de mãos dadas com o poder, passa de sentimentos a ações, o que
prejudica sensivelmente a rota natural dos invejados... E é assim que a ricaça carioca
– filha do banqueiro – vê em CHARLOTTE a sua grande rival, aquela que chegou ao
Rio de Janeiro e lhe roubou o brilho. De fato, se antes ela fazia sucesso e
aparecia com glamour nas notinhas sociais dos jornais e da revista Fon-Fon,
depois de CHARLOTTE EMANUELLE DE CHERMONT, SUZIE PERRAULT virou apenas uma
sombra pálida da França, tanto que passou a sofrer chacotas na boa sociedade,
sendo chamada de “a francesa falsa”, o que a tirava do sério! Bom... e porque
CHARLOTTE tomou o seu lugar, mesmo que involuntariamente, SUZIE achava que ela
tinha que pagar por isso! Assim foi que a loira má aliciou o seu irmão, REMY PERRAULT,
que se apaixonara por CHARLOTTE, para agir junto com ela em seus planos.
Acontece que REMY não sabe das reais intenções da irmã, como se verá adiante...
Apresentando
a família
A
grande vilã da história – SUZIE – (aqui realçando) é herdeira do banqueiro mais
rico da cidade, JACQUES PERRAULT. E é o seu empreendimento, o Banco LAFAYETTE,
um dos points da novela. Nele, os
telespectadores verão dia a dia personagens como o proprietário, seu filho e
único irmão de SUZIE, REMY e a afetada mãe e esposa do banqueiro, MADAME
MICHELINE PERRAULT. No banco, ainda trabalha o funcionário GERALDO BAPTISTA, o
GERALDINHO, homem honesto e de origem humilde, que enfrentará grandes dilemas
de ética ao ser convocado – em reunião secreta – ao Salão Diamante do Banco
para propostas ilícitas partidas do patrão.
REMY,
o irmão de SUZIE, apaixona-se por CHARLOTTE desde a primeira vez em que a vê
(encontro-esbarrão aqui narrado no início). O rapaz – solteiro e funcionário do
Banco – é o único bom-caráter da família. Enganado por SUZIE, sua tendência é
acolher (meio sem querer, meio ingenuamente) cada nova investida da irmã no
sentido de chegarem até CHARLOTTE e influenciá-la. Para tanto, serão feitas
armações reincidentes, desde embebedarem CHARLOTTE até injetar-lhe infusões de
ervas narcóticas para alterarem o seu comportamento e fazê-la perder,
momentaneamente, o sentido e a razão. Numa dessas vezes, ela chega mesmo a ir
parar na cama de REMY.
O
Banco LAFAYETTE e seu universo dialogam – na rotina da novela – com o cenário e
os personagens de outro point
decisivo da novela, o Hotel FARAONE.
O
HOTEL FARAONE, suas personagens e lendas urbanas
Sim,
existe no Rio de Janeiro de nossa Belle Époque um hotel com todo o esplendor
egípcio na fachada – que mais se assemelha a um templo de Karnak – e na
decoração, com tantas representações visuais, tochas e hieroglifos, tudo, tudo
caracterizando a cultura egípcia, bem mostrando o quão de exótico pode ser a
vida cotidiana dos transeuntes nos corredores... Até porque gente do mundo
inteiro circula por aqui, com as suas particularidades, os seus mistérios!...
E, como o dono do hotel é um italiano da Província de Salerno, na Campânia,
diz-se até, pelas ruas do Rio, que gangsters
da máfia napolitana já foram vistos no hotel... Bom, só se fosse com a proteção
de SANDRO BENATTI (seria ele o capo da Camorra?)...
Especulações
à parte, o hotel é de propriedade desse italiano – alegre e fanfarrão – e até
aparentemente boa praça... Sua esposa, a matrona GIULIA BENATTI, é uma típica
italiana – mandona e protetora, voltada para as causas da família e benfeitora
social (vive subindo o Morro de Santo Antônio para ajudar os pobres). Os
filhos: o mais velho, SANDRO – vive entre Rio e Nápoles e é um solteirão
galanteador, incorrigível e misterioso; a do meio, VIOLETA, que é soprano
lírico e faz espetáculos no Teatro João Caetano; e o caçula: GIUSEPPE –
trabalha com o pai na administração do FARAONE.
Em
torno dessas personagens da família italiana proprietária do hotel, os hóspedes
permanentes – como ISOLDA e como CHARLOTTE o foi no início (e os hóspedes
esporádicos) – gira a rotina do Hotel FARAONE, que é um dos points da novela onde se entrelaçarão várias tramas importantes.
Enquanto
isso, no MORRO DE SANTO ANTÔNIO...
Do
outro lado do luxo, vivem as personagens do núcleo pobre da novela. No Morro de
Santo Antônio, que também fica no Centro do Rio antigo, convivem famílias que
interagem com as personagens da trama central. Moram lá os integrantes da
família Baptista: ARLINDO SILVA, que é negro e alforriado (chamado por lá de
“negro forro”) e trabalha como motorista do banqueiro; sua mulher – ALZIRA – e
os filhos: GERALDO, funcionário do Banco LAFAYETTE, e LIA, auxiliar de costura do
atelier de MADAME AMÉLIE. GERALDO mora próximo à casa dos pais. É casado com
JACIARA, que trabalha na secretaria do COLÉGIO SAGRADO CORAÇÃO.
É
no Morro de Santo Antônio que mora também a jovem CRYSTAL MARTINEZ, já
mencionada no núcleo da Confeitaria Brasil. Ela, a irmã, ALBA, que é normalista,
no princípio da novela, e em seguida vai trabalhar no Colégio SAGRADO CORAÇÃO; e
o irmão RAMON, que é um desenhista muito talentoso, gay e trabalha no atelier
de MADAME AMÉLIE. Eles são conhecidos como “os órfãos do Morro de Santo
Antônio”, pois perderam os pais num surto de febre amarela anterior à reforma
sanitária de Oswaldo Cruz. Os três irmãos têm apenas uma parenta no mundo, IRMÃ
MARIA IGNEZ, que vive em Laranjeiras, no convento contíguo ao colégio (SAGRADO
CORAÇÃO) que as irmãs dirigem. As meninas contam somente com a freira na vida –
como alguém que representa orientação e um elo forte. Além dessa presença
familiar simbólica, apenas uma outra pessoa se investe de anjo protetor das
duas moças órfãs: incrivelmente um típico malandro carioca, o vizinho ZÉ BRISA
(o povo do morro diz que ele “vive de brisa”), que não trabalha, vive de
carteado, entre um e outro chopps-berrante
(espécie de cervejaria para
populares). É agradável e folgazão – e bom com as meninas vizinhas, como se
fosse um irmão – mas sua vida social não é exatamente regulada pela ética, e ZÉ
BRISA – falastrão, galanteador, mulherengo e desocupado – é aquele autêntico praticante do conto do
vigário carioca: vive vendendo para turistas incautos o Pão de Açúcar e o
Corcovado!
Música
e cultura negra num Brasil pós-Abolição
Em
1906, quando começa a novela, estamos há apenas 18 anos da Abolição da
Escravatura no Brasil. E esse período, como testemunhado por historiadores,
sociólogos, antropólogos e outros estudiosos, é especialmente conflituoso para
a comunidade negra no país (aqui sob a ótica glocalizada do Rio), numa cabal
necessidade de adaptação e reintegração. Desse modo, especialmente por ser esta uma novela passada em tal contexto
histórico, não poderia deixar de ter um núcleo negro.
E
os negros que se radicam no Rio de Janeiro nessa época começam a se fixar na
área geográfica da Zona Portuária e da Praça Onze. Nesse trecho,
principalmente, se dão cotidianas rodas de capoeira e batucada, com duração de
semanas inteiras, por vezes. Aqui, o nascedouro da gafieira, o advento do
samba... Nessas reuniões – que mesclam o religioso e o popular – são
comemoradas datas marcantes para a cultura africana, elemento essencial na
formação da identidade nacional brasileira. Pois bem, os capítulos desta
telenovela trabalharão bem esse enfoque.
E
é na (antiga) Praça Onze que fica o chopps-berrante (uma espécie de cervejaria
popular e casa de shows) do carioca JOÃO DO TIFO, um negro cantador-modinheiro
(fazedor de modinhas) que recebe modinheiros famosos em seu estabelecimento.
Embora o local não seja de frequência dita requintada, muitas pessoas da “boa
sociedade” frequentam o local – point
certo dos moradores do Morro de Santo Antônio –, o que faz desse bar-show um
núcleo de frequência e movimentação eclética e atrativa. É claro que a nossa
protagonista CHARLOTTE – frequentadora original de casas noturnas e demais
points culturais de Paris – não iria deixar de ser uma habitué desse chopps-berrante,
não é mesmo? E o telespectador, por diversas vezes, terá oportunidade de vê-la
– junto com MADAME AMÉLIE e do alemão PILETI (da Confeitaria Brasil) numa mesa
animada do estabelecimento de JOÃO DO TIFO. Aqui se ressalte que o dono do bar,
ao lado de sua mulher – a sensual e perfidiosa FLOR, negra bonita de corpo
perfeito e hábitos libidinosos, protagonizará cenas de verdadeiro humor.
Próximo ao chopps-berrante, fica a (pré)gafieira DIAMANTE NEGRO, comandada por
DONA MULATINHA. Importantes personalidades do cenário musical de então
frequentam a casa, como CHIQUINHA GONZAGA e seu amigo e também músico JOAQUIM
CALLADO, entre outros.
PAPILLON
Um
pouco depois do nosso centro nervoso da Belle Époque, nos arredores da Praça Tiradentes
– onde se localizam os principais teatros do Rio –, aqui pelas bandas do Beco
do Império, temos uma casa de shows performáticos, por assim dizer. Por aqui,
nestes salões, de vez em quando também acontecem representações de vaudevilles, tradicionais operetas e,
mesmo, bailes de máscaras. E é justamente atrás de uma dessas máscaras – de um
tom vermelho muito vibrante com marabu negro – que, numa cena de badalação
noturna “suspeita”, vemos despontar o rosto e a silhueta de uma mulher
longilínea a descer as escadarias largas do salão de veludo carmim com dourado:
trata-se de MADAME FRANÇOISE DUPONT, a charmosa e veterana “anfitriã” do
PAPILLON!
MADAME
FRANÇOISE e as FRANCIETTES
Outra
francesa na nossa novela? Sim, estamos no Rio da Belle Époque, não é? O mesmo
Rio que quer ser Paris (como esquecer essa maravilhosa tendência?!)... Rio da
influência francesa nas fachadas dos palácios, das toilettes sofisticadas vindas de França, da etiqueta francesa, da
gastronomia sophistiqué, Rio dos Perfumes de Paris!
Sim,
além da francesinha-protagonista – a nossa querida CHARLOTTE – e da admirável e
talentosa MADAME AMÉLIE, temos lugar também – e como não teríamos(?) – para uma
cortesã típica, numa Belle Époque própria de teatros, cafés-concertos e rendez-vous
dignos de nota!... É a
era da diversão! E os espaços noturnos como o Moulin Rouge e o Chat Noir, em
Paris? Bom, com o nome mesmo de Moulin Rouge temos uma imitação do original
francês aqui no Rio – com moinho na fachada e tudo! –, no coração da Praça
Tiradentes. Cá entre nós, o Moulin Rouge do lado de cá do trópico não tem a
exata dimensão e o charme daquele de além-mar... Jamais de la vie! E em nenhuma parte do mundo! Mas existe no Rio de
Janeiro um empresário de entretenimento – Paschoal
Segreto – praticamente dono da Praça Tiradentes, que promove aqui, entre
os pagantes e frequentadores, uma programação extensa e variada: circo, teatro,
concertos, ringue de lutas romanas e danças! É incrível, inclusive, como se
misturam tantas atrações em casas de shows cariocas com o ilusionismo de
mágicos engenhosos, números de domadores de animais e shows musicais de trupes
internacionais!... Uma festa diária de um Rio de tão bela época!...
Provavelmente, porque para esse tempo a novidade é isso: da tecnologia à arte, a
ordem é o bem-viver, o muito experimentar!...
E
por falar em experimentar, em vivências dançantes e altamente sensuais em
salões de luxo, a opção principal no gênero passa pela porta principal da
veterana cortesã francesa, aqui também na Praça Tiradentes... Exatamente bem ao
lado da casa com moinho elétrico na frente, com o mesmo nome do de Paris, fica
a casa noturna de MADAME FRANÇOISE: PAPILLON D’OR, difundido na boca do povo
como PAPILLON. Aqui, como se numa festa constante, a madame e suas franciettes vivem a noite: francesinhas,
polacas, nigerianas, indianas e pernambucanas, com seus sotaques, seus
trejeitos, seus atos de malícia e suas pernas de fora!
As
franciettes são: JOLIE (francesa de araque, mas com sotaque e tudo; sensual e
brigona); KAROL (uma polaca, de verdade – de pele muito alva, cabelo amarelo e
personalidade aparentemente doce); ARETA (nigeriana legítima; negra muito
bonita, que canta e dança muito bem); NAYANA (indiana de Varanasi), famosa por
sua dança sensual com uma serpente; e MARGARETH (que adota o nome de guerra MEG)
– pernambucana “da peixeira”, esquentada e obsessiva; a oficial “armadora de
barracos” da Casa de MADAME FRANÇOISE, trazendo-lhe eventuais problemas.
São
frequentadores costumeiros do PAPILLON: um político, o DEPUTADO BORBA SOARES,
que sempre se tranca com MADAME FRANÇOISE, em momentos que parecem também
confidenciais – aqui há um triângulo leve e engraçado, mostrado ao público com
peculiaridade quando visita, na mesma ocasião, a casa de MADAME FRANÇOISE o
empresário do entretenimento PASCHOAL SEGRETO (cenas impagáveis!); o misterioso
joalheiro VINCENT LAMBERT, que pouco fala no recinto, mas faz grande sucesso
entre as meninas, que praticamente o disputam a tapas quando ele chega; e o
malandro e bon vivant ZÉ BRISA, que
consegue a proeza inimaginável de “transar fiado” na casa de MADAME FRANÇOISE.
Neste
contexto – na convivência dessas personagens, nas peripécias que se sucedem –
se passam os primeiros anos de CHARLOTTE na BELLE ÉPOQUE CARIOCA
A
vida de nossa protagonista praticamente se divide em três pilares: a luta pela
sobrevivência de seu amor, internado meio que indefinidamente no sanatório de
Teresópolis; a sua escalada profissional, na expansão internacional de seu
negócio e a sua vivência no contexto da sociedade carioca – sua vida cultural e
suas amizades.
É
claro que a trama, como na vida, traz sempre aqueles fatos novos e, mesmo, aquelas
adversidades que naturalmente se impõem aos humanos.
O
pior, no entanto, é a terrível rivalidade que move a sua arqui-inimiga, que se utiliza
de toda a sua maldade, de todo o seu poder financeiro, de atos criminosos e
alianças pouco idôneas para prejudicar CHARLOTTE. Na verdade, a inveja e o ódio
são tais que o objetivo de SUZIE é destruir mesmo a nossa heroína!
E
é em meio a movimento dramatúrgico intenso (e ininterrupto) que veremos PIERRE
ter uma crise de quase morrer novamente! Após receber uma mensagem de telégrafo
emitida pelo diretor do hospital, CHARLOTTE corre para a serra, acompanhada por
DR. PHILIPPE (este passa uns tempos no Rio, outros em Teresópolis), com o
coração em sobressaltos! Bom, esta é uma cena que acontecerá muitas vezes, diante
da ameaça permanente da morte de PIERRE. Fica aí a dúvida ao telespectador: se
a perfumista irá se deixar levar pelas tentativas de sedução de REMY ou se
sucumbirá à paixão silenciosa (e com autoculpa) do DR. PHILIPPE tão devotado
aos cuidados com seu paciente PIERRE como à sua (silenciosamente) amada
CHARLOTTE... É isso mesmo: DR. PHILIPPE, apesar de sua condição de médico da
família, nutre uma paixão tão grande quanto secreta por CHARLOTTE... PIERRE
percebera, mas – com a (quase certa) iminência de sua morte – jamais dissera
qualquer coisa, pois pensa que isso até poderá ser bom para a sua amada no
momento em que ele partir...
Sabotagem
na CHERMONT PARFUMERIE
Mas
os principais dilemas de CHARLOTTE agora não são mais os do coração. Agora
mesmo, ela está negociando contrato com lojas de Nova York, Roma e Milão. E
qual não é a sua surpresa ao receber uma mensagem telegrafada dando conta de
que os compradores de Roma haviam detectado o recebimento de vinte caixas do
estoque contendo frascos com um perfume que não era o encomendado/comprado. Ora! Mas como pode ser isso? Bom, o que
aconteceu foi que SUZIE “plantou” gente dela na parfumerie de CHARLOTTE. Um estratagema simples, mas que rendeu o
resultado esperado...
O
que aconteceu foi o seguinte: SUZIE, esperta como é, percebeu o “coração mole”
de JULIETTE e fez com que se aproximasse dela – um dia na CONFEITARIA BRASIL –
uma pobre moça que passava por sérias dificuldades de sobrevivência e que, por
coincidência, tinha trabalhado com um famoso boticário, estando naquele momento
procurando um emprego na área em que sabia desempenhar ofícios: de botica e
perfumaria... Pronto! Foi o bastante para JULIETTE ter certeza de sua “missão
de ajudar” e convencer CHARLOTTE, outro “coração de manteiga”, a empregar a tal
moça. Pois bem, AMARÍLIS foi contratada e, numa noite (clandestinamente, com a
chave do local que portava, adulterou essências e misturas nos frascos,
valendo-se da premissa de que a intensidade da fragrância faz toda a diferença
para o alcance de excelência do produto). Bom, a sabotagem – depois de toda a
dor de cabeça que deu – acabou beneficiando CHARLOTTE, por incrível que isso
possa parecer... Como?! Bem, a corte de anjos da nossa heroína francesa é
especialmente zelosa e original na sua proteção... Assim foi que, no final das
contas – apesar da adulteração do teor das essências e da exposição de todo um
estoque a condições indevidas de sol, luz e umidade –, milagrosamente o perfume
(novo, o adulterado) se tornou um sucesso, levando CHARLOTTE a receber
volumosas encomendas de fórmula, a ponto de ela acrescentá-la a seu repertório
de fragrâncias!
Naturalmente,
AMARÍLIS foi desmascarada e demitida, o que enseja o telespectador a ficar
feliz quando, ainda no decurso da novela, tem a alegria de ver a justiça
combatendo a maldade praticada. É intenção da autoria desta novela a busca pelo
equilíbrio gradativo – ao longo de toda a trama – entre a alegria e a tristeza,
o bem e o mal, humor e drama, cor e sombra. Notadamente, a fim de não cansar,
desanimar ou entristecer demais o telespectador com os fortes conflitos que
deve ter um bom folhetim.
A
propósito, sobre personagens e peripécias, a autora concorda com o que dizia
Machado de Assis:
“E enquanto uma chora,
outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo
chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de
lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a
variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida”.
Prisioneira
e torturada em fortaleza
Após
ser desmascarada a armação acima narrada, com seu inimaginável e positivo
desfecho, vem de novo, pois, o outro lado: a face renascida do(s) conflito(s)
na história geral da telenovela...
CHARLOTTE,
então, continuou trabalhando (sempre e cada vez mais!) enquanto a roda vida de
nossos personagens rodava na medida transformadora do início de um século
incrivelmente novo!
Mas
não, não é nossa protagonista que vira prisioneira num forte e passa por
torturas... Trata-se da personagem CRYSTAL MARTINEZ, que trabalha – como medida
de sobrevivência (já que é órfã e pobre) na Confeitaria Brasil. Na verdade, porém,
se trata de uma artista: a moça sonha em ser bailarina do Municipal, pois tem
atributos excepcionais para a dança. Como rapidamente antes mencionado nesta
sinopse, a moça se apaixona pelo Guarda-marinha VALENTIM VALENTE (filho dos
donos da confeitaria). Acontece que, antes de começar a namorar CRYSTAL, VALENTIM
se envolvera com MARGARETH – uma pernambucana que trabalha no PAPILLON. Mulher
de personalidade forte e coração tenebroso, apaixonara-se perdidamente por VALENTIM,
a ponto de jurar vingança de morte contra a moça que conquistasse o coração do
rapaz... Assim é que, numa quinta-feira à noite, MARGARETH prepara uma
emboscada para CRYSTAL, que ingenuamente vai parar em suas mãos. Em seguida, a
terrível mulher (é mesmo uma psicopata!) leva a aprendiz de bailarina para uma
das câmaras da Fortaleza de Santa Cruz, do outro lado da baía de Guanabara. A
prostituta conseguiu isso por ter nas mãos um tenente do Primeiro Batalhão de
Artilharia de tal forte (apaixonadíssimo por ela!). Estamos falando do TENENTE
SIMAS, capaz de tudo mesmo pela pernambucana má. Será ele, durante toda a
trama, o cúmplice de MARGARETH na execução de seus planos ilícitos, que não se
resumem a CRYSTAL (a prostituta preparará armadilhas também para MADAME
FRANÇOISE, no intuito de roubar para si o prostíbulo e todo o patrimônio da
cortesã-mor).
O
telespectador chorará lágrimas de dor e indignação ao ver o sofrimento da
jovem, linda e bondosa bailarina, que sucumbe dia a dia numa cela lúgubre às ações
da bruxa má MARGARETH. A meretriz obcecada será uma dessas vilãs de despertar
ódio vivo do público! A mocinha raptada passará fome, sede e sofrerá desumanas torturas;
emagrecerá visivelmente e chegará quase mesmo a morrer no cativeiro (o público
temerá muitíssimo mesmo que ela morra)!...
Para
a realização a contento de seu planejamento, MARGARETH arma tudo ardilosamente,
a ponto de falsificar um bilhete de despedida de CRYSTAL para o namorado. Desesperado
e triste com o rompimento, o rapaz acaba deixando de ser um impedimento para os
planos da psicopata porque, em seguida ao episódio do sumiço de CRYSTAL, ele
embarca na viagem de ouro da Marinha do Brasil, já que é aspirante a
guarda-marinha. Tal viagem dos marinheiros ao redor do mundo dura seis meses e,
durante este tempo, a pobre CRYSTAL sofrerá toda sorte de maldades nas mãos de MARGARETH,
não tendo qualquer chance de resgate.
Um
triângulo amoroso como nos clássicos
Ao
longo da novela, na interação das tramas paralelas com a trama principal de
CHARLOTTE, outra que dará “pano pra manga” e fará o Rio de Janeiro parar será a
outra irmã da família MARTINEZ, a mais velha: ALBA. Bem, ALBA será, por assim
dizer, a “gostosona” da novela. Descendente de espanhóis e de corpo violão, a
moça chega a despertar mais atenção do que as franciettes e arranca suspiros por onde quer que passe neste Rio
de Janeiro da Belle Époque. Acontece que é moça de família e, no início da
trama é uma suave normalista. Apesar da beleza estonteante e do sex appeal (involuntário), a moça
cultiva bons preceitos (fora educada sob o rigor de uma mãe espanhola das
ferrenhas), mas achou de se apaixonar por um homem casado! Está lançado o pomo
da discórdia!... O homem casado é o boticário da Rua do Ouvidor – ORLANDO RIBAS
– homem bonito, porém tímido, mas que nos arroubos da paixão desenvolve um
sentimento ao mesmo tempo delicado e tórrido pela jovem ALBA. O público verá
que o sentimento entre os dois é verdadeiro e doce, mas o casal – a despeito de
todo o lirismo presente em algumas cenas – arrebatará o interesse do público
com uma sensualidade fora do comum, do tipo amor,
louco amor. Amor esse, contudo, impedido por uma barreira ainda mais forte
que o casamento em si do boticário: uma filhinha surdo-muda, que tem no pai a
figura mais amada, sendo ele o seu veículo afetivo para se comunicar com o mundo.
Em tal contexto, ARLENE – a mulher de ORLANDO –, ferida em seu amor próprio e
revoltada, mostrará o seu pior lado ao armar situações diárias para prender o
marido no lar e no casamento. E o plus
para o conflito, neste caso, é que além de tudo ARLENE sofre de esquizofrenia.
Resultado: além de usar a própria filha em sua guerra contra ALBA, a mulher
será capaz de armações e atos terríveis contra o marido dentro de casa,
chegando mesmo a colocar sua vida em risco. Confeitando, ainda, o bolo com a
cereja neste triângulo, ALBA é ninguém menos que a professora amada(!) de
CLEIDE, a filhinha de ORLANDO e MARGARETH.
E
é justamente no COLÉGIO SAGRADO CORAÇÃO que se dão outras peripécias paralelas
da trama.
Por
trás dos muros de um colégio de freiras
O
Colégio SAGRADO CORAÇÃO fica no bairro de Laranjeiras, já quase no Cosme Velho.
Foi fundado e é dirigido pelas irmãs dominicanas da Congregação de Nossa
Senhora do Rosário de Monteils. Por entre seus corredores, suas salas e o
convento anexo, passarão informações preciosas e, muitas vezes, sigilosas de
toda a trama, já que nele estudam crianças provenientes de famílias de todos os
núcleos.
Começamos
pela personagem mirim recém-citada – CLEIDE – que protagonizará cenas de
verdadeira emoção com a encantadora Professora ALBA, que por diversas vezes
pensa em abdicar de seu amor por ORLANDO por causa da pureza e da fragilidade
da menina. Também fofocas sobre o amor clandestino entre ALBA e ORLANDO
correrão pelas dependências do colégio, indo dar na Madre Superiora, que – em
dado momento da trama – chegará a acusar ALBA de adúltera, demitindo-a e
expulsando-a do colégio.
A
madre dirigente do convento e do colégio é a aparentemente inflexível IRMÃ
GUADALUPE – que passa toda a novela se expressando apenas com rigor e amargura,
ao final porém revelando não ser tão rígida assim com as falhas da condição
humana. Mais do que isso, a severa freira-diretora arrancará exclamações de
todos nos últimos capítulos. Mas aqui se realce: passará a novela inteira
fazendo reprimendas e sendo temida pelas freiras, professoras e alunas. A
religiosa parece fazer questão de puxar para si a alcunha de “a palmatória do
mundo”.
Das
outras freiras, duas terão participação frequente na novela: IRMÃ MARIA IGNEZ,
a tia dos órfãos CRYSTAL, ALBA e RAMON. Esta
será boa não apenas para seus sobrinhos, como também para toda a humanidade,
por assim dizer. Incapaz de fazer mal a uma mosca, adquire, porém, a força de
uma leoa quando é testemunha de um grande mal ou injustiça. Ela será
fundamental no resgate de CRYSTAL da masmorra na fortaleza.
IRMÃ
RITA, que aparenta ser a pessoa mais sensata do mundo, porém com docilidade,
guarda a história de um namorado que morreu precoce e violentamente (por isso,
ela foi parar num convento). E, por causa desse amor interrompido, será
complacente com a professora ALBA, ajudando-a em seu caso de amor proibido com
o boticário ORLANDO RIBAS. Mas o passado de IRMÃ RITA não está inteiramente
morto como ela pensa... [Ao longo da trama, serão dadas dicas ao longe ao
telespectador...].
Para
completar a tríade das irmãs dominicanas, encherá de alegria o cotidiano e as
salas do colégio a IRMÃ GORETTI, a mais jovem de todas – quase uma menina, na
verdade, na idade e nos gestos. Bom, seu dilema é mais simples: ela é
apaixonada por um rapaz pobre que foi embora com o circo, e seu objetivo é
fugir das muralhas do convento quando seu amado voltar. Durante a novela toda,
a jovem freira terá momentos de sobressalto achando que LINDOMAR está
voltando!... Alegre, espevitada, desordeira e criativa, IRMÃ GORETTI
protagonizará cenas hilárias no dia a dia ortodoxo do SAGRADO CORAÇÃO, sendo
responsável por um forte elemento de humor na trama.
O
núcleo infantil da novela
As
crianças da história aparecerão, quase na maioria das vezes, na escola. Aqui se
ressalte que a escola SAGRADO CORAÇÃO tinha uma linha precursora no início do
século XX. Registros históricos há de colégios públicos, desde o final do
século XIX, que admitiam, mesmo que em franca desproporção, meninas e meninos
juntos no ambiente da educação. No entanto, dentre as instituições
particulares, de fato o colégio desta novela foi um dos pioneiros (como poucos,
na linha, existiam).
Assim
é que temos na novela: CLEIDE (10 anos); MARCELINHO (11); BIANCA (12); GIOVANNI
(12); ISADORA (11); PIETRA (13); ARCANJO (13); AUGUSTO/PINÓQUIO (14). Suas
características pessoais e cursos dramatúrgicos serão descritos,
especificamente, no PERFIL DE PERSONAGENS.
O
conflito-mor da trama principal: CHARLOTTE é presa e tem que provar sua
inocência
Aqui
temos a vertente principal do conflito-ápice da trama: o momento em que
CHARLOTTE, a nossa protagonista, cumpre mesmo seu papel de heroína de folhetim:
tendo o tempo todo o risco da morte do marido (que pode ser iminente) e
tentando se safar das inúmeras armações de sua arqui-inimiga, a vilã SUZIE
PERRAULT, ela ainda é acusada(!) de tráfico de ouro!
Tudo
se dá assim: numa das visitas de CHARLOTTE a PIERRE no sanatório de
Teresópolis, SUZIE vê a oportunidade ideal para burlar produção e envio dos
perfumes CHERMONT para o exterior novamente, só que desta vez com um aditivo
especial na falcatrua: o tempero do crime! Auxiliada por seu moleque de recados
e maldades – o amante (outro segredo para o telespectador) –, nas ações do plano e contando com o apoio
da máfia italiana (aqui se leia participação de um BENATTI) e do joalheiro
LAMBERT e, ainda, de uma (improvável)
amiga disfarçada da protagonista, SUZIE manda trocar todo um carregamento de
frascos, enviando para a Itália – no lugar das caixas originais – supostos
vidros de perfume da Chermont Parfumerie, só que adulterados, contendo ouro
líquido dentro!
Tal
se dá já no fim da novela, no ano de 1912, e um dos itinerários dessa subtrama
de armação antagônica cruzará as mesmas águas geladas do Titanic, ou seja, um
dos personagens – numa das muitas ramificações da referida ação criminosa de
tráfico de ouro – embarcará no fatídico navio.
Bom,
aí não fica difícil imaginar que CHARLOTTE passará pelos piores momentos de sua
vida e irá presa!
Assim
é que, nos capítulos já finalizadores da novela – no desenlace simultâneo da
maioria das tramas –, veremos dia a dia descobertas de testemunhas favoráveis à
nossa heroína e detalhes informativos preciosos que levarão à elucidação da
grande farsa comandada pela antagonista. Até que MADAME AMÉLIE, que é mesmo a
fada-madrinha (comprovadamente!) de CHARLOTTE nesta telenovela, vem com a
fórmula-descoberta final, que é nada menos que a absolvição perfeita da
perfumista francesa!...
E
ficam no ar as seguintes indagações (tendo em mente que podemos adaptar as
circunstâncias – relativa e gradativamente – ao “termômetro” de receptividade
do público):
—
Como teria se dado a aliança de SUZIE PERRAULT e seu enigmático amante com a
casa Camorra da máfia de Nápoles?
—
Quem é o amante secreto de SUZIE e qual seria seu interesse em prejudicar tanto
a protagonista?
—
Como se dava o trâmite ilegal de interesses estrangeiros no Hotel FARAONE?
—
Quem é a falsa amiga de CHARLOTTE ligada a seus sabotadores?
—
Alguma das revelações da trama de tráfico imputada a CHARLOTTE desaparecerá com
o Titanic?
—
O que, afinal, esconde o joalheiro LAMBERT? Por que ele é tão misterioso?
—
O que MADAME AMÉLIE descobre, afinal, que pode salvar CHARLOTTE da falsa
acusação e, propriamente, da condenação em tribunal?
Todas
essas perguntas – concomitantemente à alegria, à carioquice e aos dramas
inerentes ao Rio da Belle Époque que aqui se trata – serão respondidas, entre
peripécias mil (e encadeadas dramaturgicamente, numa engrenagem de fatos e
personas), no decorrer da novela.
PERFIS
DE PERSONAGENS
1- CHARLOTTE
EMANUELLE G. DE CHERMONT – a protagonista
da novela. Com 20 anos no início da trama, em Paris, no ano de 1894. Na
segunda fase da novela, no Rio de Janeiro, CHARLOTTE tem 31 anos, embora
sua extraordinária beleza (ruiva, olhos verdes, corpo perfeito) não a faça
aparentar mais do que 24 ou 25 anos. Personalidade feminina de
vanguarda, a heroína desta telenovela – embora seja herdeira de um rico
monopólio comercial no segmento de perfumes na França, é – por outro lado – uma
perfumista por ofício, arte que começou a desenvolver desde cedo, na altura de
seus 14 anos, ao visitar com frequência os domínios da família na cidade de
Grasse, campo vasto de cultivo de perfumes (Sul da França). Isso explica a
precocidade de, aos 20 anos, já ser uma hábil manipuladora de essências.
Filha amorosíssima de EUGÉNE DE CHERMONT, falecido à
época de sua adolescência, CHARLOTTE mora com o avô – o aristocrático (e nobre)
ARMAND, fundador e presidente da CHERMONT PARFUMERIE (CHARLOTTE administra
apenas o seu laboratório de perfumaria, uma pequena ramificação de fornecimento
para a grande indústria da família).
O grande dilema da nossa heroína – embora aqui se
deva realçar, ainda uma vez, a sua forte autonomia como figura feminina – é
viver o seu romance com o pintor PIERRE – um amor mágico como nos contos! –,
romance esse inicialmente proibido por seu avô (em vista de uma intrincada
tragédia de família) e depois pela doença e pela ameaça constante da morte de
seu amado, que cai doente de tuberculose – a doença incurável do século XIX. Depois
de mandar PIERRE para um centro de tratamento na Suíça, de volta a Paris, em
alguns anos ele adoece novamente. É quando CHARLOTTE decide trazer PIERRE para
tratar-se na serra fluminense de Teresópolis, que fica perto do Rio. E assim é
que a nossa protagonista passará a maior parte de sua história no Rio de
Janeiro da Belle Époque – tempo fascinante, a chegada de um mundo moderno e tecnológico
para a humanidade. No Rio de Janeiro, assim como em Paris, é um período
fervilhante em conquistas e emoções.
Uma vez no Rio, à frente de seu atelier de perfumes
transferido para a nova cidade, CHARLOTTE amplia a sua empresa/fábrica, reforça
suas potencialidades internacionais (torna-se potencial exportadora, com
negócio grande e sólido também no Brasil) e – enquanto vive entre personagens e
peripécias de diversas tramas paralelas – precisa estar atenta o tempo inteiro contra
as armações de sua arqui-inimiga, a vilã SUZIE PERRAULT – herdeira e coquette carioca cujo objetivo de vida é
destruir CHARLOTTE, objeto de sua mais feroz inveja.
2- PIERRE
CHEVALIER – 21 anos em Paris, no
início da trama, e 33 ao chegar ao Rio. O protagonista masculino da
novela – namorado e, depois, marido de CHARLOTTE. De pele muito clara e olhos
azuis, possui cabelos displicentemente compridos para a época, veste-se com
peculiaridade, ares meio largados... É romântico, idealista, extremamente doce
e ético. Artista plástico de grande talento, pinta telas em produção
incrivelmente veloz e com características próprias. Discípulo do famoso pintor
Claude Monet, faz telas de encomenda para sobreviver. Traz em sua história de
vida um grande e trágico segredo de família. Tem uma relação de amor de
dimensão metafísica (até!) com a sua escolhida, CHARLOTTE, e seu pavor é morrer
da doença que o acomete (tuberculose) e deixá-la!... Na sua luta em sanatórios
para tratamento da tuberculose, pinta quadros todos os dias, freneticamente,
buscando desenvolver força para sobreviver.
Ao chegar ao Brasil – além da doença – descobrirá
outra inimiga ferrenha, que – por querer atingir CHARLOTTE – poderá tanto
induzi-lo a uma traição conjugal (para perder a mulher) como até mesmo para
fazê-lo perder a própria vida, tamanhos o ódio e o desejo de vingança da tal
antagonista...
3- ARMAND
DE CHERMONT – Personagem
importante da trama, sua participação só se dá na primeira fase da novela, mas
em três momentos: aos 13 anos (em flashback); aos 22, em momento
trágico de sua rota de vida e aos 78 anos, quando aparece na trama
presente. Avô de CHARLOTTE, é um aristocrata e nobre francês, detentor de dois
títulos nobiliárquicos – Conde de Grasse e Marquês du Broc. Industrial que
fundou um império no ramo da perfumaria – a Chermont Parfumerie, em linhas
gerais não é um bom homem. Amargo e ditatorial, tem na personalidade difícil a
marca da traição da esposa, o que o levou a um duelar com o próprio irmão. Proibirá
o amor de CHARLOTTE com PIERRE e a deserdará, mas acabará morrendo em um
acidente no Palais Garnier e deixando tudo para ela, sua única herdeira.
4- EUGÉNE
DE CHERMONT, 36 – Pai de CHARLOTTE e filho de ARMAND DE
CHERMONT, aparece na trama em dois momentos: ainda bebê de meses e nos braços da mãe, DIANE DUBOIS DE CHERMONT; E, na
fase adulta, aos 36 anos, ao lado de
CHARLOTTE. Diferentemente do pai, ARMAND possui uma personalidade adorável e
deixa fortes marcas na lembrança da filha. Morre de tuberculose, tal como a
mulher, ADÈLE (que não aparece na novela; só em menção). Por isso, a doença é o
trauma da vida de CHARLOTTE.
5- DIANE
DUBOIS DE CHERMONT – Mulher de ARMAND, mãe de EUGÈNE e avó de
CHARLOTTE, só aparece na trama no auge da juventude e da beleza – aos 18 anos e, depois, aos 20, quando é protagonista de uma
traição (trai o marido ARMAND com o cunhado APOLLON, o que gera um duelo
culminando na morte do amante). Sua figura é a de uma mulher muito atraente:
inicialmente, uma camponesa jovem, colhedora de flores – depois madame e nobre
(ao casar-se com ARMAND), mas sempre
uma linda loira trigueira longilínea e de corpo bem-feito – a típica
mulher-mistério-e-sensualidade para os homens: une natural suavidade a um
incontrolável e perceptível dom de atração fatal. Morre ainda jovem, em Paris,
logo depois de retornar da tragédia do duelo no sul da França.
6- APOLLON
– Irmão de ARMAND, marido de GABRIELLE,
amante de DIANE, tio de CHARLOTTE e (já morto
na trama) avô de PIERRE (que também é um CHERMONT, como se descobre ainda
na primeira fase da novela). Aparece na em dois momentos: aos 12 anos, com
ARMAND, e aos 21, no dia do duelo fatal. Rapaz bonito, tez clara, olhos azuis,
jeito afável e de porte atlético, torna-se a paixão da vida da cunhada DIANE.
Morre tragicamente.
7- JULIETTE (na
primeira fase, em Paris, 18 anos; no
Rio, 30) – Assistente e depois
perfumista no atelier de perfumes de CHARLOTTE. Torna-se sua grande amiga,
praticamente uma familiar por afinidade, tanto que, com a vinda de CHARLOTTE
para o Rio, ela veio junto. Nutre uma paixão platônica pelo DR. PHILIPPE, mas
depois vai ter um romance no Rio com SANTIAGO VALENTE.
8-
DR. PHILIPPE – 24
anos na primeira fase; 36 na segunda
– Médico de PIERRE. Cabelos castanho-claros, traços harmoniosos, nem magro nem
gordo, estatura mediana. Profissional de grande excelência, é também figura
humana das melhores. Dedica-se extraordinariamente ao seu paciente PIERRE e
luta com sua ciência, de todas as formas, para salvá-lo. Nutre uma paixão
secreta e respeitosa por CHARLOTTE, algo platônico mesmo. Tanto que deixa a
Europa e acompanha CHARLOTTE e PIERRE em sua vinda para o continente americano.
9-MADAME AMÉLIE BEAUMONT, 73 anos – Na
fase principal da novela, francesa radicada no Brasil há onze anos. Modista
mais importante da Belle Époque carioca, é proprietária do atelier de moda e da
loja de tecidos com a marca CONDESSA D’ALENÇÓN (nome tirado do título de
nobreza que detém na França). Bonita, elegante e possuidora de muita classe, é
respeitada e admirada pela boa sociedade carioca, quer pelo seu talento e
requinte, quer pela postura ética. Torna-se a madrinha de CHARLOTTE quando esta
chega ao Rio, orientando-a no novo contexto. Companheira e confidente da
perfumista francesa ao longo de toda a trama, ao final desta lhe caberá uma
missão decisiva: a revelação em tribunal que irá inocentar a protagonista,
tirando-a da prisão e livrando-a definitivamente da condenação.
10- SUZIE
PERRAULT – 26 anos – a grande vilã da história. Loura exuberante, de grande
beleza, é uma típica coquette. Como tal, veste-se no mais extremo
rigor da moda e desfila seu charme irresistível no Rio de Janeiro da Belle
Époque. De personalidade forte, porém camaleônica (capaz de adaptar-se a
quaisquer necessidades no jogo de sedução das relações humanas), é, sem
descanso, a antagonista-mor da novela. Possuidora de grande sagacidade, em seus
truques consegue enganar a quase todos, passando por boa moça. De personalidade
dupla, na verdade esconde um grande segredo e já tem um crime nas costas. Como
CHARLOTTE, é rica herdeira – filha do banqueiro JACQUES PERRAULT. Apesar do
figurino impecável e da beleza estonteante – depois da chegada de CHARLOTTE à
cidade, destronando-a –, SUZIE passa a ser conhecida como “a francesa falsa”.
Ao eleger a nossa protagonista como alvo de sua inveja feroz, começará a
desenvolver uma constância de ações para prejudicá-la. Para tanto, usará de
artimanhas que atravanquem sua vida, como nas estratégias maquiavélicas de
sabotar a Parfumerie Chermont; mais ainda: além de querer trazer prejuízos para
o comércio e a indústria de Charlotte, planeja algo que possa destruí-la de vez
aos olhos de todos ou, mesmo, levá-la ao desencanto ou, ainda, à morte.
11-JACQUES
PERRAULT, 65 anos – Homem
refinado e culto. Conhecedor dos meandros da política e da economia do país,
está envolvido em altos negócios secretos. Dono do Banco Lafayette, é um
descendente de franceses radicado no Rio. Defende a política de Pereira Passos,
que remodelou a cidade com inspiração na França. Pai da supervilã SUZIE
PERRAULT.
12- MICHELINE
PERRAULT, 57 anos – Mulher
de JACQUES, é a frivolidade em pessoa. Frequenta os chás de caridade da cidade,
porém apenas por uma questão de aparência, para fingir filantropia. Do mesmo
modo que investe seu tempo apenas em programas de lazer, como ir a cafés,
cinematógrafos e casas de sorvetes. Frívola como a filha, apenas sem a sagacidade
desta.
13-REMY
PERRAULT, 28 anos – Bonito, alto,
forte, simpático e de modos refinados. Filho do banqueiro e irmão de SUZIE, é
mais que um mero playboy, embora tenha hábitos de bon vivant também. Colecionador de autos, é sócio-frequentador do
Aeroclube do Rio de Janeiro e participa de competições automobilísticas em todo
o mundo. Apesar de trabalhar no banco do pai, seu profissionalismo se abala
quando acontece um Grand Prix na França, por exemplo, e ele sem hesitar pega um
vapor para Le Mans, esquecendo-se de que existe trabalho... Aliás, foi um dos
32 pilotos do superevento de autos, guiando um precursor Renault. Isso depois
de escapar da morte, como um inconsequente, na corrida Paris-Madri 1903, em
meio a atropelamentos na pista e a irregularidades graves no concurso... E ele
ainda deixa suas responsabilidades para meter-se em tais aventuras! Um tanto
sem juízo (embora não seja mau-caráter), é sincero em seus sentimentos ao
conhecer e tentar aproximar-se de CHARLOTTE. Apaixona-se fortemente por ela e,
em vista desse sentimento (não-correspondido), se deixa enredar – meio
ingenuamente, meio oportunamente – pelas armações da irmã, sempre na esperança
de, uma hora ou outra, conseguir algo com a francesinha.
14- GIANCARLO
BENATTI, 68 anos – Italiano
típico e muito rico, vive atravessando o oceano, pois tem um pé no Brasil,
outro na Itália. Com negócios além-mar, no Rio de Janeiro é dono do maior hotel
da cidade – o Faraone. É bem-humorado e festivo, porém a efusividade de latino
também dá conta de uma personalidade impetuosa e reacionária, dependendo da
situação. Como é natural de Nápoles/Mezzogiorno e passa temporadas em tal
cidade/região, alguns chegam a afirmar que ele talvez seja o capo da Camorra. Apesar
do dito “traço mafioso”, mostra princípios éticos de fidelidade aos seus. É
amoroso com a família e protetor daqueles que tem como seguidores ou aliados.
15- GIULIA
BENATTI, 62 anos – Esposa de
GIANCARLO, ajuda o marido na condução do hotel, o qual – com a personalidade
forte da matrona – funciona muito bem, com uma administração a toda prova! Mãe
dedicada, esposa zelosa e amantíssima, protagonizará cenas levemente calientes com o marido. Adora a Itália,
mas fez do Rio de Janeiro a sua segunda casa, sentindo-se tão cidadã carioca,
que é seu hábito sair pelas ruas, em dias deliberados, a distribuir mantimentos
e agasalhos para a população carente. É católica apostólica romana devotíssima
(do tipo “carola”) e, assim, renderá cenas hilárias ao sentir-se culpada pelo
“sexo exagerado” com o seu “Carlo” no casamento. Também renderão momentos de
humor com reflexão as suas “incursões filantrópicas” Rio adentro, ao
manifestar-se contra a miséria causada pelo “bota-abaixo” de Pereira Passos,
cerca de um ano antes. A personagem, em suas falas e peripécias, será usada pela
autoria em seu intento de pintar um retrato do Rio de Janeiro histórico e
social daquele momento.
16- VIOLETA
BENATTI, 39 anos – Viúva, gorda,
um tanto amarga e aparentemente frívola, salva-a, porém, a arte: VIOLETA é
cantora lírica. Muito chique, é soprano de respeito e com atuação em
importantes teatros (no Brasil, na Itália e na França). É bipolar, mas sua
situação psicológica se ameniza com o fato de ter a vida voltada para a música.
A mãe, GIULIA, a acusa de “alienada” e de se esquecer “até da educação dos
filhos” GIOVANNI e BIANCA por causa de “seus espetáculos”.
17- SANDRO BENATTI, 44 anos – Gangster disfarçado de bon vivant, na verdade é potencial
integrante da máfia napolitana infiltrada no Brasil. Solteirão convicto, é
filho do italiano GIANCARLO BENATTI. Por isso, terá “passaporte livre” para
circular pelos corredores do Hotel Faraone, na articulação de grandes segredos
internacionais. Estará envolvido na armação que leva CHARLOTTE à prisão.
Condenado no final da trama por tráfico de metais preciosos, fugirá e embarcará
no Titanic, afundando com ele importante informação da Camorra.
18- GIUSEPPE
BENATTI, 35 anos – Único
filho de comportamento adequado e ortodoxo do casal italiano GIANCARLO E
GIULIA. Casado com BEATRIZ, é religioso e bom de coração. É o chamado “pé de
boi” do Hotel Faraone, já que – se dependesse do pai, do irmão folgado e
irresponsável e da irmã artista –, o negócio de hóspedes (mesmo sendo o hotel
de luxo que é) já teria falido. GIUSEPPE é casado com BEATRIZ e os dois formam
o típico casal ideal. E seu lar seria lar
doce lar não fosse a filha de temperamento difícil que têm: PIETRA.
19 - BEATRIZ,
33 anos – Mulher de GIUSEPPE, é pessoa cordata e de boa
índole. Gosta de ler e faz poesia, mas não mostra pra ninguém. É piedosa e
solidária; frequentadora assídua da igreja de PADRE ASSUNÇÃO e companheira de
jornada da sogra em favor dos “desabrigados de Pereira Passos”. A propósito,
ela e GIULIA BENATTI protagonizarão cenas muito alegres e engraçadas ao
cruzarem cantos inimagináveis do Rio em suas peregrinações em busca de ajudar
os menos assistidos.
20- ISOLDA
RAPOSO, 67 anos – Mulher
rica, porém de hábitos extravagantes. Usa roupas exuberantes, fala alto e é,
mesmo, muito espalhafatosa. É moradora permanente do Hotel Faraone. São suas
qualidades: possui bom coração (o telespectador a verá, algumas vezes, fazendo
caridade com o povo na rua) e, como boa baiana, é hábil culinarista, chegando
mesmo a dar orientações na cozinha do hotel de vez em quando. Apesar dos modos
excessivos, é bem simpática; conhece todo mundo. No fundo, é uma pessoa
carente, já que – mesmo possuindo tantas terras e bens – não tem família e vive
só.
21- JOAQUIM
VALENTE, 64 anos – Português, dono da Confeitaria Brasil. Com a esposa,
CATARINA VALENTE, e os filhos: VALENTIM E SANTIAGO, forma uma família saudável
e bem estruturada, que vai à missa aos domingos e se dedica ao trabalho de
forma quase sagrada. Preserva seus hábitos portugueses, embora sua casa
comercial concentre grupos de legítima carioquice. Aparentemente formal,
acabará também por ser motivo de “pilhérias”.
22- CATARINA
VALENTE, 58 anos – Esposa de
JOAQUIM VALENTE, é também de Portugal. Possui hábitos arraigados e reclama da
tal “modernidade que assola o Rio desses tempos”. Natural da região do
Alentejo, como está sempre a dizer, em seu sotaque peculiar, reclama da
“modernidade” e é detentora das receitas mais tradicionais da gastronomia
portuguesa, sendo a sua produção o carro-chefe das especialidades da confeitaria.
23- PILETI,
39 anos –
Alemão de meia-idade, possui uma fisionomia caricaturesca com seus cabelos
entre o amarelo e o vemelho (meio ocre, meio ferrugem), pele alvíssima com
sardas e bigodes retorcidos de um lado a outro do rosto. Personalidade difícil,
no entanto tem apelo artístico e entende tudo de música. Enfrenta os
chopps-berrantes e gafieiras da Praça Onze; aprecia os modinheiros e demais
movimentos musicais populares, embora seja um conhecedor de música erudita. Aparentemente
sisudo e empolado, fica mais próximo das pessoas e, mesmo, se humaniza ao
conviver com tipos populares em nome da arte musical.
24- VALENTIM,
23 anos –
No início da trama (Segunda fase da novela) é Aspirante da Escola Naval. Bonito
e cheio de garbo, é rapaz de retidão e caráter. Escolhe a carreira militar por
ser idealista e patriota. Inteligente, estudioso e determinado, pretende chegar
a Almirante. É o caçula e orgulho dos pais, diferentemente do irmão SANTIAGO,
que não quis estudar e “empurra a vida”, folgazão, no balcão da confeitaria.
25- SANTIAGO,
26 – Um pândego. É bom rapaz, mas leva a vida em
ritmo lento. Está sempre a fazer piada de tudo, mesmo em situações que exigem
seriedade. Parece meio bronco, por não ter exatamente “exercitado o rigor dos
bancos escolares”, mas tem vivacidade de espírito. É bom de coração e, mesmo em
situação “inferior” à do irmão, não tem inveja dele. Só um detalhe sai desse
seu perfil previsível e que o telespectador começará a notar: de vez em quando,
ele “toma uns chás de sumiço”. Os outros empregados da confeitaria às vezes
falam desse mistério... Possui uma paixão escondida pela funcionária CRYSTAL,
mas acabará se envolvendo com JULIETTE, a assistente de CHARLOTTE.
26- CRYSTAL,
19 anos – Personagem carismática, é jovem muito
bonita, encantadora mesmo. Afável, amorosa e de alma artística. Órfã, vive com
os dois irmãos no Morro de Santo Antônio. Trabalha na confeitaria por franca
necessidade material, mas todos saem que seu sonho é se tornar bailarina. E é
na confeitaria que conhece VALENTIM – e os dois se apaixonam à primeira vista,
iniciando romance tão bonito quanto conflituoso, por causa de um terceiro elemento,
a prostituta MARGARETH/MEG, um tipo perigoso (estelionatária e psicopata) que a
sequestrará e torturará em cativeiro. CRYSTAL será uma das personagens mais
dramáticas de toda a trama.
27- ALBA,
23 anos – Irmã de CRYSTAL e de RAMON, no início da
fase 2 é uma normalista. A seguir, assumirá a função de professora no COLÉGIO
SAGRADO CORAÇÃO.
Terá, como a irmã, a história de um amor
conflituoso: aqui um triângulo convencional – marido, esposa e amante. ALBA é
uma linda mulher, de corpo escultural. Por outro lado, tem o rosto suave de uma
mocinha, e esta doce sensualidade fará o boticário ORLANDO RIBAS se perder de
amores por ela, a ponto de desejar dar fim ao casamento para ficar com a
professora. Mas dois serão os empecilhos para o casal ficar junto: a própria
esposa de ORLANDO (como é de se esperar) e a filhinha dele com sua esposa
ARLENE, uma menina sensível e especial.
28- RAMON,
21 anos –
Irmão de ALBA e CRYSTAL (e orelha das duas). Muitíssimo talentoso para design e
costura. É gay. Possui personalidade voluntariosa, é escandaloso e impetuoso:
nunca pensa antes de agir; assim é que tem “dado cabeçadas” vida afora. Por
outro lado, tem “coração de manteiga”. Trabalha no atelier de MADAME AMÉLIE Beaumont,
a quem muito admira e respeita.
29- MARGARETH/MEG
- 46 anos – Prostituta do
PAPILLON. Mulher muito má; na verdade, uma psicopata. Já mais velha, feia e
sempre amargurada – com uma palavra ruim para todos, até entre suas colegas de
“métier” – é chamada de “prostituta passada”. Tendo conhecido VALENTIM como
cliente no prostíbulo e transado algumas vezes com ele, encasquetou de
namorá-lo, embora o rapaz só o tenha feito “por necessidades carnais”. Mas ela,
obcecada, começa a persegui-lo, até o ponto insano de raptar a sua namorada,
aprisioná-la em masmorra e torturá-la para impedir o amor dos dois.
30- VINCENT
LAMBERT, 45 anos – Joalheiro
e relojoeiro belga com negócio na RUA DO OUVIDOR, entende tudo de lavor de
metais e pedras e engrenagens de relógios. Possivelmente, o personagem mais
misterioso de toda a novela, mas o telespectador só irá perceber isso se olhar
com muita perspicácia para as tramas simultâneas que o envolvem. Homem muito
bonito, tem 1,85 de altura e corpo do tipo olímpico. Vez por outra vai ao
PAPILLON e causa frenesi entre as franciettes
que o disputam por algum dote seu que fica implícito ao telespectador... Qual será o segredo do joalheiro?
31- MADAME
FRANÇOISE, 76 anos – Cortesã
francesa, é a proprietária do rendez-vous
PAPILLON. Permanece bela, apesar da idade. Mesmo em meio a tal “ofício”, é
mulher elegante, culta e refinada, uma “Aspásia dos tempos modernos”, capaz de
dialogar até com estadistas. Mantém uma relação com um político, mas seu grande
amor do passado foi um militar. No presente, é engraçado o leve e
descompromissado triângulo que se forma entre ela, o deputado BORBA SOARES e o
empresário do entretenimento carioca PASCHOAL SEGRETO. É uma mulher
razoavelmente justa, que administra bem um lugar conflituoso como uma “casa de
tolerância”.
32- KAROL, 32 anos – a polaca. Uma das franciettes, é muito branca, alta e tem
corpo de violoncelo. Foi atriz na Polônia e deseja retomar a carreira. Pretende
(secretamente) passar do PAPILLON ao Moulin Rouge carioca, para depois ingressar
nos teatros. Para tanto, utiliza-se de seu charme e de sua conversa – bem acima
do nível das outras franciettes –
para ir articulando a sua ascensão.
33- JOLIE, 31 anos – Morena clara de cabelos muito
vermelhos, esta é francesa mesmo (no Rio da Belle Époque são comuns farsantes francesas
com sotaque e tudo). E é a típica pupila da cortesã-mor da casa, uma candidata
a sua seguidora. A diferença dela para MADAME FRANÇOISE está na inteligência e
na ética. Madame tem limites para negociar; menina Jolie, Franciette-titular,
não; a moça não tem muito caráter. É ardilosa e usa umas tais “senhas
secretíssimas” para atender aos clientes com “performances específicas”.
34- ARETA, 28 anos
– Nigeriana. Negra alta e muito bonita, com silhoueta longilínea. Possui
ares maliciosos e passa a ideia de ser perigosa (mas será mesmo?). Conhece e pratica rituais africanos e está sempre
clamando por seus orixás em dialetos originais de seu país. Guarda em seu
armário amuletos secretos, que as colegas juram ser “vudus”.
35- NAYANA, 25 anos - Indiana com rosto muito
marcante, olhar incisivo. Aparência totalmente exótica, ainda mais realçada
pela presença de uma cobra em seus braços. Faz performances sensuais com o
réptil, arrancando suspiros de comoção e muitas vezes de pavor mesmo, pois o
número é altamente performático... e o público, em alguns momentos, tem a
impressão de que a serpente poderá devorá-la! MADAME FRANÇOISE não confia nela;
tem um pé atrás.
36- ZÉ BRISA, 34 anos – O próprio malandro
carioca! Terninho branco, camisa listrada, chapéu panamá, sapato duas
cores. Aqui temos um dos personagens mais emblemáticos e carismáticos desta
novela! É claro que ele não
trabalha; vive de brisa! O mais
incrível, porém, é que ele sabe como agradar: a mulheres, crianças, idosos,
estranhos... Aliás, mulherengo inveterado, frequenta os teatros da Praça
Tiradentes, os chopps-berrantes e as
gafieiras da Praça Onze, os cafés
dançantes do centro...Tangos, óperas, valsas alemãs e serenatas! Chantecler e
Cine-Teatro Rio Branco... Lá está o ZÉ BRISA, curtindo a noite! E, durante o
dia, com a sua lábia sem igual, ele recebe turistas e aplica-lhes o conto do
vigário. Sabe tudo de Rio de Janeiro! Pequenas negociatas com essa
“malemolência”, provê condições para o sustento e a diversão. E assim vai
levando a vida “na flauta”, à noite curtindo música e chopps; e durante o dia “vendendo pontos turísticos” para gringos.
37- WANDELINA
– 37 anos – Governanta de
CHARLOTTE. Mulher dinâmica e trabalhadora. E
mineirinha, uai! Com sotaque
carregado e vocabulário mineirês de
causar graça... Mineira de Três Corações, é de inteira confiança até receber
ameaças da antagonista – SUZIE PERRAULT – que descobre ser adotada a sua filha
ISADORA. Para que a menina não saiba de sua verdadeira origem, a certa altura
SUZIE terá a governanta nas mãos, o que permitirá a sua (clandestina, porém
liberada) entrada na mansão da protagonista.
No meio da trama, WANDELINA terá um bebê temporão, o que
tirará a condição de filha única de sua ISADORA.
38- GERVÁSIO/GASTON, 39 anos – Só a mulher – WANDELINA – o chama
de GERVÁSIO. Afinal, CHARLOTTE instituiu que o seu nome é GASTÓN. Motorista,
office-boy da empresa, recepcionista da perfumaria, “faz-tudo” na CHERMONT
PARFUMERIE e na mansão, este mineiro de Belozonte
é esperto e antenadíssimo, apesar do jeito aparentemente distraído e
estabanado. Morre de medo de mulher, que – em costumeiras crises de ciúme –
bate nele com cabo de vassoura. Mas o único pecado dele é ir, escondido
(claro!) ao Moulin Rouge da Praça Tiradentes, para ver duas coisas: o moinho
elétrico rodando sem parar e “as pernas de fora” das meninas brasileiras do cancan...
Pai amigo, é um incentivador de ISADORA como estudante e
seu maior mentor em lições de comportamento e ética.
É através deste núcleo familiar (WANDELINA, GASTÓN e
ISADORA) que segredos importantes de CHARLOTTE acabarão por parar em sala de
aula no SAGRADO CORAÇÃO, já que o colégio reúne as crianças, em seu “matracar”
e em cujo convívio – e consequente troca de informações – “transpiram” assuntos
íntimos da personagem principal. Ou seja: os empregados de confiança de
CHARLOTTE – seu núcleo de maior proximidade e confiança – podem, a qualquer
momento, traí-la (embora, no fundo, gostem muito de sua patroa).
39- ARLINDO BAPTISTA, 68 anos – Senhor respeitável e discreto,
morador do Morro de Santo Antônio, é motorista do banqueiro JACQUES PERRAULT. É
negro, bondoso, trabalhador e honrado pai de família.
40- ALZIRA, 64 anos
- Esposa de ARLINDO BAPTISTA. É lavadeira e atende, em seus serviços, ao
núcleo rico da trama, por onde circula. Dentre suas clientes, estão MADAME
AMÉLIE, CHARLOTTE, SUZIE, MICHELINE, GIULIA, VIOLETA e até ISOLDA. É gente boa
demais – honesta e prestativa –, porém fofoqueira. É “galega”.
41- GERALDO BAPTISTA/GERALDINHO,
33 anos – Empregado do BANCO LAFAYETTE, é
trabalhador dedicado. Vistoso e simpático, possui um belo porte. Filho do
motorista de JACQUES PERRAULT e da lavadeira ALZIRA. Marido de JACIARA e pai do
superdotado MARCELINHO. Apesar de ter tido poucas oportunidades na vida, é
esforçado e, com muita leitura, alcançou certa instrução. Por isso, se expressa
bem e articula-se com facilidade em meio aos figurões que frequentam o banco.
Possui boa capacidade de persuasão, traquejo e simpatia.
42- LIA, 25 anos
– Filha de ALZIRA E ARLINDO e, portanto, irmã de GERALDO. Mora com os pais
no Morro de Santo Antônio, mas vez por outra dorme na casa de MADAME AMÉLIE, em
cujo atelier trabalha. É gentil, amiga, habilidosa e alegre, porém de
comportamento discreto. Apenas se solta no Carnaval – que ela adora!
É a melhor amiga/confidente do colega de trabalho RAMON.
43- JACIARA, 30 anos – Ágil, bem magra, bonitinha e
meiga, é a faz-tudo, pau-pra-toda-obra no dia a dia do COLÉGIO SAGRADO CORAÇÃO.
Muito querida pelas freiras, apesar de boa gente e de não ser indiscreta, acaba
sendo um telefone sem fio entre as tramas paralelas e até mesmo na do núcleo
principal dos empresários do Ouvidor e seus agregados (CHARLOTTE, MADAME
AMÉLIE, O BANQUEIRO, O DONO DO HOTEL, O PESSOAL DA CONFEITARIA ETC.).
44- MADRE
GUADALUPE, 64 anos – Madre Superiora de uma congregação
de Nossa Senhora do Rosário de Monteils. Religiosa de personalidade
(aparentemente) inflexível, dirige com mãos de ferro o convento e o COLÉGIO
SAGRADO CORAÇÃO, um dos cenários da novela. Teremos uma surpresa com ela,
entretanto, no desenrolar da trama.
45- IRMÃ
MARIA IGNEZ – 53 anos – Mulher ainda bonita debaixo
de um pesado hábito. Freira benevolente, concessiva e democrática, não usa a
religião de modo fechado e autocrático. Ela consegue o privilégio de agradar a
sisuda madre superiora e, ao mesmo tempo, ter a simpatia dos alunos. Tia de
ALBA , CRYSTAL E RAMON. Embora possua um jeito tão franco, guarda um segredo a
sete chaves.
46- IRMÃ
RITA, 31 anos – Religiosa de voz afável e jeito compreensivo, é mediadora entre
a palavra da diretora do colégio e as classes. Não tem família e se dedica
inteiramente à Ordem e ao colégio. Apesar da personalidade complacente, guarda
na lembrança uma história de vida muito triste: fora apaixonada por um homem
que o seu próprio pai – um adepto do coronelismo no interior – mandara
assassinar! Na verdade, nunca se refez do trauma da perda do amor da juventude,
até porque estava grávida do rapaz... E, em consequência dos atos de outrem (no
caso, seu pai, que mandara armar a emboscada que resultou na morte de seu amado
e ainda a obrigara a fazer um aborto), acumulara problemas psíquicos e sofre de
manias [como a de lavar as mãos, repetidamente, pois se sente “suja” e culpada
pela morte (involuntária) do namorado e pelo fato (principalmente) de ter
impedido o filho de nascer].
47- IRMÃ
GORETTI, 21 anos – A alegria
do convento – chamada de “Rouxinol” dentro dos muros da instituição –, é uma
pessoa muito engraçada e leve. Faz parte do Coral da Igreja do Cosme Velho,
pois tem uma voz verdadeiramente maviosa. Sua grande expectativa de vida é
arrebentar as grades dessa prisão que a separa do mundo, podendo vir a
reencontrar o seu amor, que era um rapazinho com habilidades extraordinárias
(de acrobacia, de andar sobre a brasa, de engolir fogo, de praticar ilusionismo
etc.) e que, marginalizado na sociedade por ser miserável, fugiu com o circo
que passou pela cidade...
48- CLEIDE, 10 anos – De personalidade e percurso dramatúrgico já
descritos em tópicos anteriores (filha de ARLENE e ORLANDO – e aluna da amante
de seu pai, ALBA. [Por se tratar esta personagem de uma criança surdo-muda, a
autoria desta novela pretende desenvolver um roteiro justo e de inclusão
verdadeira – tanto para a personagem na trama como para as crianças surdo-mudas
da atualidade, em simbologias (éticas, compreensíveis, plausíveis) e em
mensagens subliminares].
Uma característica interessante desta sensível personagem é
que – quanto mais se sente acuada diante do problema conjugal de seus pais –
mais se exercita e cria em arte; tem um dom extraordinário: desenha e esculpe
com talento notório e fluente. Uma artista plástica rara!
49- MARCELO - Marcelinho,
11 anos – O primeiro
aluno da turma, claramente superdotado. Seu brilho mental é tal, que ele é
capaz (e isso desde os 7 anos!) de falar, uma a uma, a capital de todos os
países. Também é capaz de solucionar qualquer problema de Matemática ou Física,
e sabe de cor e salteado todo o histórico das guerras do mundo (inimigos e
aliados – as nações geradoras dos conflitos, os motivos do embate inicial, o
cessar fogo etc.), em todas as épocas. Menino muito bonitinho, bom e solidário.
Estuda no COLÉGIO SAGRADO CORAÇÃO com bolsa, já que os pais (JACIARA e GERALDINHO)
não poderiam custear seus estudos num colégio particular de tanto prestígio.
JACIARA trabalha na secretária do colégio, o que propicia a permanência de seu
filho no quadro discente da escola sem pagar nada. Mas a própria condição
intelectual superior do garoto passará a ser um trunfo financeiro.
50- PIETRA, 13 anos – A pré-adolescente – filha de
BEATRIZ e GIUSEPPE – fria e calculista, parece mesmo ser como o significado de
seu nome: demonstra ter um coração de pedra, mesmo em tão pouca idade. Péssima
colega na escola, desobediente com os pais e avós e descortês com os mais
velhos. Maltrata os animais, é preconceituosa e mesquinha. Os pais tentam educá-la,
mas os avós não enxergam os defeitos de caráter da menina e a tratam como uma
princesinha, adicionando ainda mais doses ao seu egoísmo. Aluna do
Colégio Sagrado Coração, suas atitudes também não são bem-vistas pelas irmãs e
os próprios colegas planejam algo para tentar deter a sua maldade.
51- GIOVANNI, 12 anos – Neto do dono do hotel, filho de
VIOLETA, é o típico riquinho malandro e sem-caráter. Não gosta de estudar,
implica com todos e é dado a falcatruas. Como se não bastasse ser assim, ainda
ouve “coisas” sobre a máfia italiana nos corredores domésticos.
52- BIANCA, 12 anos – A outra filha de VIOLETA,
é o oposto do irmão: bondosa, estudiosa e responsável. Apesar do jeito meigo e
afável, vive em pé de guerra com o irmão – GIOVANNI (até por causa da terrível
personalidade do garoto). Por incrível que pareça, é preterida pela mãe em
relação ao irmão, já que GIOVANNI leva VIOLETA na lábia. E a menina sofre, na
rotina doméstica, sabotagens e perseguições armadas pelo impostor familiar.
53 – AUGUSTO/PINÓQUIO, 14
anos – filho adotivo do joalheiro, que é um solteirão inveterado. Menos mau
que GIOVANNI, às vezes aceita a coparticipação nas estripulias do colega meio
ingenuamente e por inconsequência/leve oportunismo infantil. Terá acesso a
importantes informações, as quais poderão ajudar a protagonista em seu momento
de maior dificuldade na trama. Mas, em momentos importantes de revelações, as
palavras do rapazinho não terão crédito, já que, conhecido pelo apelido –
PINÓQUIO, é AUGUSTO um mentiroso inveterado!
54- ISADORA, 11
anos – filha da governanta e do motorista e faz-tudo de CHARLOTTE (contínuo
na Perfumaria e na fábrica, mensageiro etc. ou seja, empregado de confiança). A
mais sociável de todas as crianças do grupo, sempre defendendo os justos e
descobrindo as tramoias dos parceiros de armações GIOVANNI e MURILO. É uma
protetora mirim de animaizinhos. infa
55- ORLANDO RIBAS, 41 anos – O boticário da Rua do Ouvidor.
Personagem complexo, com vieses antagônicos: embora seja um belo homem e faça
ótima figura, é o típico tímido de fachada (até gagueja no trato social). Por
outro lado, aflora nele todo um lado incisivamente sensual quando se apaixona
(do tipo amor de perdição) pela professora da filha – ALBA (também tão suave
quanto selvagem), formando com ela as duas pontas mais agudas de um triângulo amoroso
convencional.
56- ARLENE, 36 anos
– Mulher sem graça e de índole má, totalmente revelada quando sente o
casamento ameaçado. Ao longo da trama, vai se revelando sua psique doente; ela
sofre de esquizofrenia e chegará mesmo a esfaquear o marido. Possivelmente,
mesmo sendo a esposa, começará a ser odiada pelo público, pois começa a falhar
até como mãe, ao negligenciar carinho e obrigações para com a filhinha
surdo-muda, CLEIDE.
57- PADRE ASSUNÇÃO, 68 anos – O conciliador pároco. Vigário de Paróquia central no bairro do
Cosme Velho, é um personagem entre o engraçado e o bonachão, acentuando-se
porém, em momentos decisivos a sua fé e a sua espiritualidade. Condutor amado
dos fiéis católicos. De tão ético e justo que é, acaba por despertar em todos o
sentido dos valores ensinados e cristalizados pelo Evangelho. Ele é como um mentor,
um pai, exemplo-mor, e isso traz toda uma carga de força positiva para os
personagens da novela. Dramaturgicamente, no folhetim, representa um importante
viés do bem, uma espécie de mensagem de que fazer o bem ainda vale a pena.
58 – MIGUEL/ARCANJO, 13 anos – Conhecido como ARCANJO, MIGUEL é coroinha da Igreja de PADRE
ASSUNÇÃO. O menino – moleque afoito,
bem-humorado e com dom de imitar vozes e trejeitos das pessoas – foi criado
desde bebê pelo pároco. Chegou aos seus cuidados pelas mãos de Irmã MARIA IGNEZ,
que era enfermeira na Santa Casa de Misericórdia quando o pequeno foi deixado
na Roda dos Enjeitados. Mas ARCANJO não sofre de nenhum trauma por isso, não:
contrariamente, é grato e feliz por ter sido acolhido pela Igreja, propriamente
pelas mãos de Irmã MARIA IGNEZ e de PADRE ASSUNÇÃO. Estuda no mesmo (e
precursor) educandário misto dos outros integrantes do núcleo infantil da
novela – o COLÉGIO SAGRADO CORAÇÃO. Como é totalmente do bem, acaba fazendo o
papel de um anjo mesmo, auxiliando a vida dos amigos ao seu redor.
59-JOÃO DO TIFO, 42 anos – Mulato, falastrão e muito
esperto, é o dono do chopps-berrante mais badalado da Praça Onze. Dizem que ele
tem filhos espalhados pelo Rio de Janeiro inteiro. Possui marcas no rosto, que
se parecem pequenas crateras, sequelas de quando teve a febre, num dos surtos que
acometeu a cidade. Mas tifo? Ele
explica: “fui o único sobrevivente na minha casa”, e na verdade foi uma
epidemia de varíola, mas os vizinhos achavam difícil pronunciar a palavra
varíola e começaram a se referir a ele assim: o João do Tifo! Mais
fácil de falar. Pois bem, virou a sua marca, marca de dono de bar polêmico. “Samba”
muito bem; é uma espécie de mestre-sala no pré-nascedouro do samba carioca.
60- FLOR, 27 anos – Negra de corpo que parece talhado
(tipo Globeleza), usa uma flor no cabelo black, é expressiva, dançante e “pavio
curto”. Mora com JOÃO DO TIFO e de vez em quando apronta umas badernas no
chopps-dançante. Sem contar que trai o namorido
à toa, à toa. Seria uma tremenda chave-de-cadeia se JOÃO DO TIFO não fosse tão
relax e descolado...
61- DONA MULATINHA, 65 – Precursora do futuro gênero samba
tal como conhecemos, é uma típica “tia do samba carioca”. Comanda a (pré)gafieira
– local de “baile”, “arrasta-pé” – DIAMANTE NEGRO.
62- DEPUTADO BORBA SOARES,
71 – Político influente
e muitíssimo enraizado nos círculos de poder nacional (lembrando que aqui,
nesse período, o Rio é capital federal). Tem uma relação com MADAME FRANÇOISE
que é mais de amizade e cumplicidade do que de amor.
Personalidades
da vida real que aparecem ocasionalmente na novela:
-
TOULOUSE-LAUTREC
- SANTOS DUMONT
- LOUIS CARTIER
- MACHADO DE ASSIS
- LIMA BARRETO
- JOÃO DO RIO
- CHIQUINHA GONZAGA
- JOAQUIM CALLADO
E PASCHOAL SEGRETO – Este (principal empresário da noite
carioca da Belle Époque, dono de todos os teatros da Praça Tiradentes, o polo
de entretenimento cultural do período) aparece com frequência a certa altura.
CENÁRIOS
FASE PRINCIPAL DA NOVELA (1906-1912) –
a que durará a maior parte dos meses
As principais bases locais (empresas e points da estrutura predominante na trama)
-
Na Rua do Ouvidor (centro nervoso e
urbano da novela
“a
cara” da Belle Époque carioca)
1- Atelier de perfumes / CHERMONT PARFUMERIE – O
atelier e a perfumaria da protagonista CHARLOTTE. Um sobrado:
Piso 1 - a loja/perfumaria
(salão expositor e vitrines);
Piso 2- o atelier propriamente dito, com: escritório
administrativo, laboratório de perfumista e depósito/tanque de destilaria.
2- Casa de tecidos / ATELIER CONDESSA
D’ALENÇÓN - da modista da novela, a maior do Rio de
Janeiro da Belle Époque – Ao estilo da CHERMONT PARFUMERIE, também um
sobrado nas mesmas características:
Piso 1- Loja de tecidos
Piso 2 – Atelier de moda
(salão de costura, salão expositor, biombos, sala de recepção).
3- Banco LAFAYETTE
Sugestão: um prédio no estilo
neoclássico francês/fachada. A ser estudado por DIREÇÃO e produção.
4-
Hotel FARAONE – Estilo
egípcio na construção/fachada/decoração interna. Uma referência quando concebi
o espaço foi o restaurante Assyrius (o primordial, de 1909 - contíguo ao
Theatro Municipal).
5-
Relojoaria TOPÁZIO Joalheria –
Uma
típica relojoaria de Paris no Rio Antigo / espaço conjugado com
expositores/vitrines de joias.
6-
Botica/Farmácia – A
critério da DIREÇÃO – Pesquisa/Cenografia/Produção. A autoria acha muita
sugestiva e poética (visualmente atrativa ao telespectador) a constituição
típica de farmácias da época, com aquelas vitrines gigantescas de madeira
(geralmente cedro) e cristal.
7
– Confeitaria Brasil – Referência total: Confeitaria Colombo
-
Na Praça Tiradentes (principal pólo popular de entretenimento na Belle Époque)
8-
Randevu PAPILLON (ao
lado de sugeridas recriações dos teatros e casa noturnas da Praça Tiradentes do
início do século XX. Passa por essa sugestão, inclusive, o protótipo brasileiro
do Moulin Rouge, com o moinho elétrico.
-
Nos bairros de Laranjeiras / Cosme Velho / Catete
9-
COLÉGIO SAGRADO CORAÇÃO – Estilo
de construção de colégios católicos do início do século XX (Abriga uma
Congregação de Nossa Senhora do Rosário de Monteils).
10-
Igreja Católica
11-
Solar de CHARLOTTE
12-
Solar de MADAME AMÉLIE
13-
Solar do banqueiro JACQUES PERRAULT (próximo
ao palácio do governo federal (o atual Museu do Catete)
-
No Morro de Santo Antônio
14-
CHOPPS-BERRANTE – JOÃO DO TIFO
Casas
de 4 famílias no Morro:
15-
Casa da família de ARLINDO BAPTISTA (Ele, a mulher ALZIRA e a filha LIA)
16-
Casa de GERALDINHO, JACIARA e MARCELINHO.
17-
Casa dos três irmãos órfãos: CRYSTAL, ALBA e RAMON.
18-
Casa de ZÉ BRISA (mora sozinho).
-
Na Praça Onze
19
– Gafieira DIAMANTE NEGRO
FASE
1 DA NOVELA (1894-1906 – com
um salto temporal entre 1900 e 1906: no comecinho do século, com volta no pathos somente em 1906)
Os
cenários serão a França da Belle Époque...
EM
PARIS:
-
Points permanentes nessa primeira fase:
1-
Mansão
dos CHERMONT – Situada
na rue de la Chaussée-d’Antin, no 9º arrondissement – o do entorno da Place
d’Opera. Configura-se no conhecido modelo do chamado hôtel particulier (tipo de residência dos nobres naquele período). É
um casarão luxuosíssimo, de fachada palaciana, normalmente de dois ou três
andares, dezenas de aposentos, muitas salas e numerosas janelas. Internamente,
tem uma escadaria de mármore enorme, com balaustrada de bronze. Na frente da
construção, vastos jardins com um enorme lago, fontes e estátuas.
Recriação desse protótipo de
construção nos dias atuais:
2-
Atelier
de CHARLOTTE – Também
localizado no 9º arrondissement, é um
palacete estilo Napoleão
III
(construção
do século XVII), na contextualização urbanística parisiense do final do século
XIX.
3-
Residência
de ADÈLE e EUGÉNE DE CHERMONT (e
CHARLOTTE pequena) – Situada no 6º arrondissement (o charmoso bairro parisiense Saint-Germain-des-Prés).
Sobrado romântico com balcão florido.
- Lugares icônicos da cidade
que serão palco desses primeiros capítulos:
- Moulin Rouge;
- Chat Noir;
- Lapin Agile;
- Folies Bergère;
- Restaurante Les Deux Magots;
- Restaurante Maxim’s;
- Hotel Hilton;
- Palais Garnier;
- Café de la Paix.
- Praças/ruas/lugares públicos
da cidade que constituem pontos de acontecimentos ou fundos de cena
Praça
Contrescarpe
Rue
Mouffetard
Igreja
de Saint-Médard
Trocadero
Catedral
de Notre-Dame
Rio
Sena – Quaid des Tuileries
Quai
Saint-Michel–Notre-Dame
Arco
do Triunfo
Boulevard Voltaire
Boulevard des Capucines
Rue Gluck
Rue d’Orsel
Rue Trois Frères
Rue Saint Éleuthère
Place du Tertre
Place
de la Concorde
Rue
Scribe
Place d’Opera
Jardin des Tuileries
Rue Lacépède
Rue Saint-Honoré
Rue
Cardinal Lemoine
Jardim
de Monet
Jardins
de Luxemburgo
- NO SUL DA FRANÇA
- Cidade de Grasse – a
“Capital Mundial do Perfume”;
- Campos de lavanda de Valensole / eixo Provença-Alpes-Côte d’Azur;
-
Château du Chermont – palácio familiar do bisavô de CHARLOTTE,
MARCEL DE CHERMONT. Nele, viveram MARCEL e a esposa JUSTINE, com ARMAND e
APOLLON crianças/adolescentes. É uma construção retangular, erguida sobre uma
bastide do século XVI.
-
Château de La Croix – castelo de APOLLON DE CHERMONT e GABRIELLE
CHEVALIER. Veem-se, em torno do grande château,
jardins esculpidos, pomar diversificado e um parque de vinhedos. Há dezenas de
estátuas de divindades cercando todo o jardim e um relógio de sol no centro do
grande pátio.
- Precipício
Gorges Du Verdon/Lago de Sainte-Croix – local do duelo fatal entre
ARMAND e APOLLON DE CHERMONT.
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