O nível do seu desejo
A ciência dos
humanos costuma metrificar tudo: variadas escalas na medição de temperaturas, gradações
de periculosidade e intensidade de terremotos etc. Na verdade, tais mensurações
são feitas o tempo todo, fazendo parte da nossa rotina mais comum: medem-se
altura e peso (aqui o domínio da temida balança!), velocidade de veículos e
forças/grandezas (luz, som e até dor), coordenadas e afins (latitude,
longitude, distância, azimute), graus em disciplinas, frações de tempo e todo
um universo em expansão constante de metrificação. Tudo isso é lugar-comum, já
convencionado desde as mais antigas civilizações. Porém, nos últimos dias eu me
surpreendi pensando numa nova medição... Uma informal (e ainda não-abalizada)
escala de pesos e medidas, padrão de impacto esse capaz de determinar uma rota
individual. Ora, não sou cientista e aqui filosofo, despretensiosamente, sobre
algo que não necessita de equações, teorias quânticas ou mistérios
tecnocientíficos que o valham. Melhor me explicando, falo de algo que descobri
pelo menos para a minha funcionalidade: o nível de intensidade de um desejo
determinando ocorrências decisivas em nossa vida. Trocando em miúdos, existe um
nível tal na escala dos desejos que, se acionado por você, pode operar o
imponderável, tudo sendo capaz de realizar!... Algo como um ponto de ebulição
do desejo culminando na grande eclosão: o sonho se transformando em fato!
Como assim?...
Bom, todo mundo já sabe que o pensamento e, especificamente, a força do desejo
são dínamos para o sucesso, a concretização de algo. Isso já gerou estudos,
teoremas e best-sellers internacionais. No entanto, particularmente, embora eu
até ache que adestre bem as minhas vontades, eu ainda não havia descoberto que
existe um ponto exato do desejo para este realizar-se. Isto quer dizer,
precisamente, o seguinte: em não sei que escala da sua emoção ou do seu cérebro
– racionalíssimo – parece haver um dispositivo capaz de determinar se e quando uma coisa irá acontecer!
Exemplificando
ainda mais claramente, há uns dez dias, testemunhei – de mim para mim – algo
notável: vi acontecerem, concretissimamente, coisas pouco plausíveis de
ocorrência. Ambas consecuções foram em âmbito material – elementos palpáveis –,
mas, pelo que vi, estou convencida de que o mesmo pode se dar no terreno dos
sentimentos ou de quaisquer sonhos.
Pois bem, a
minha autoteoria do sonho já é coisa antiga... E, como já contei a esta lauda
eletrônica, eu acho que só devemos aceitar – exigentemente – o nosso maior
sonho, abandonando todos os outros menores... Garantias de excelência para a
supremacia do sonho maior de sua vida! Mas eu não havia ousado sonhar, ainda,
com uma tal calibragem desse sonho, uma espécie de ajuste interno do nosso
desejo, capaz de fazê-lo uma realidade – e sem demora!
Só vou contar
uma das coisas para a lauda, pois a segunda devo deixar incógnita (o mistério
também é uma boa medida): o reaparecimento miraculoso de algo material que provavelmente havia se perdido em minha casa, há uns dois anos, na mudança entre um
apartamento e outro. Acredite se puder: uma bela manhã, sem maiores
pretensões, pensei fixamente – com forte nível de intensidade – em encontrar
“esse algo sumido”... Mas tal foi o nível de meu desejo (indispensável,
incontrolável, inexorável) que, logo depois, o objeto apareceu em meu
escritório como se nele sempre tivesse estado! Como assim no meu escritório,
ambiente que eu mais frequento na minha existência – noturna ou ocasionalmente
diurna? Aqui passo momentos dedicados ou descontraídos e creio conhecer o mapa
de todos os livros e objetos que, intrinsecamente, me dizem respeito!... E eu cá não
havia encontrado o tal objeto do sonho quase dito sagrado? Como, afinal, se houvera sido eu mesma a arrumar aquelas estantes, todas as gavetas, os mínimos compartimentos?... Num instante inconsciente, pensei em obra e graça do inexplicável e olhei feio para a Mona Lisa - impassível na capa de um livro de arte. Depois interpelei Machado e Eça... E não podia deixar de desconfiar de Poe (claro!), quem sabe Dickens... O fato é que não adiantaria filosofar ali, entre Kant, Schopenhauer, Hegel ou Parmênides, porque se tratava de uma inquirição objetivamente íntima, de caráter interníssimo de habitante da casa. Assim, somente eu mesma poderia (tentar) decifrar o mistério de como a importante coisa desaparecida ressurgiu ali... E detalhe:
nem fui eu a achar a dita-cuja-maravilha-redescoberta, e sim a minha nova empregada, que, solene e ao
mesmo tempo timidamente, a depositou sobre o balcão-bancada do escribar!...
Apesar de toda
essa apologia, pode ser que eu ainda não me tenha feito clara na exposição do
presente conceito, mas sou insistente e discorrerei um pouco mais sobre essa
feliz inquietação interna, que pode ser instrumento pessoal potencializador da
mais forte vontade!... Ora, a coisa se dá mais ou menos assim:
1-
Você deseja algo. Até aí “morreu Neres enforcado em um
pé de salsa”, como diria o meu pai... Afinal, todo mundo deseja algo, ou
melhor, todos desejam “muitos algos”! Mas o diferencial nessa questão se dá
quando...
2-
... Você deseja tão fortemente esse algo que – se a
nivelação dos desejos pudesse se medir como se faz por meio da Escala Richter –
o terremoto da sua emoção seria em nível 9,5, ou seja, tão forte como o maior tremor já
registrado na história do planeta, o famigerado Sismo de Valdívia – ocorrido em
1960.
3-
Uma vez abrigando esse desejo na sua mente (no seu
coração, nos seus poros, na sua corrente sanguínea - risos), ele se potencializa com
um nível máximo de intensidade de magnitude de momento. E é aí que se dá o
milagre: uma conjuntura inexplicável de elementos do universo converge para a
materialização absoluta do seu desejo veemente! E você se torna o seu próprio
realizador de sonhos...
Creio
mesmo haver exposto a minha espontaneidade de pensamento. No entanto, se não o
consegui no discurso até aqui, deixo agora para você um presente até há pouco
improvável: vou contar o quê e como foi o outro desejo (que há alguns
minutos eu não queria revelar): foi algo tão forte que pensei, mas tão e tão
forte (na Escala Richter, creio, talvez chegasse a 9,0-9,9 ou, mesmo 10,0 de
magnitude – nível ainda não registrado! Risos estremmeecedores) que provocou o
que causaria um abalo sísmico num raio de 10.000 km, por exemplo: desejei aqui
algo que se concretizou a não menos que milhares de quilômetros de distância,
podendo eu comprovar a tal materialização pouco tempo depois! Aqui se acentue
que não se trata o evento de uma ocorrência dita comum; muito pelo contrário...
Tomara que você
não pense que as duas proezas relatadas se tratam de conversa fiada. Não e não,
por dois motivos: eu nunca faria isso e – na realidade – não são primazias que
domino: embora eu saiba que as maravilhas se deram por causa da intensidade do
desejo, eu não sei como fazer (ah, se eu soubesse!) para elevar o meu desejo à
sua máxima potência, no tal nível propiciador de consumação. Em outras
palavras, sei que há um clamor de desejo que faz as coisas acontecerem, mas não
sei como fazer para que o desejo atinja essa precisa intensidade, esse tal
nível capaz de torná-lo algo concreto, um pedaço comprovado de realidade!
O problema é não saber o que fazer com essa consciência do nível do desejo, recentemente descoberta... É não saber identificar esse ponto exato da vontade que a torna poderosa! Quisera eu poder medir e ajustar,
equilibrar e sintonizar o botão do desejo para potencializá-lo em sua
magnitude realizadora!... O desafio neste caso, objetivamente, é o que fazemos com aquela situação já reconhecida e de conhecimento já dominado... mas que não surge na hora e do jeito que queremos! Talvez esteja aí, realmente, a nossa capacidade transformadora. E –
num misto de ciência e religião – se a parapsicologia e a fé nos impulsionam a
acreditar no milagre humano do possível, se somos feitos à imagem e semelhança
dAquele que tudo possibilita, por que não acreditar na centelha divina latente
no homem? Será que a mente e coração em uníssono não é facultado, mesmo, o dom
da permissividade absoluta? Ou seja, você tudo pode... e nem sabe?! Desconhece
como adestrar seus desejos a seu serviço contumaz?
Após tanto
divagar, deixo aqui uma possibilidade para você (e também para mim, visto que,
se descobrir, me contará): a de se arriscar à empreitada de desbravar esse
prodígio: o de como mexer no botão de
volume do seu desejo, manipulando-o em sentido horário, de modo a mover o seu
mundo!
Por Sayonara Salvioli
7 comentários:
Eu tenho muitos motivos para acreditar na sua descoberta. Venho percebendo a força extraordinária que é o poder da mente!! Também venho sentindo que a aprendizagem dos anos e o modo como se olha para as coisas pode fazer toda a diferença para a realização dos nossos desejos! Eu só não tinha refletido ainda sobre uma escala de intensidade pros desejos da gente... Vou prestar atenção a isso! Quem sabe não funciona comigo também???
Uma teoria muito interessante, Sayonara! Esse é um dos motivos pelos quais gosto dos seus textos: você se baseia no próprio ponto de vista e não em citações - que às vezes nada têm a ver com o nosso caso particular... ou ainda excerto de pensadores e especialistas que analisam determinada coisa, só pela ciência, sem olhar as vertentes individuais da questão. Muito bom!
Leitura agradável e reflexiva, como sempre! Pena eu não perceber que insights tão poderosos acontecendo assim na minha vida!!!! RSRS Quem sabe um dia???
Você falou pouco sobre a segunda coisa alcançada com o desejo. Fiquei curiosa pra saber o que vc poderia ter conseguido assim "a milhares de quilômetros de distância"...Faça outro texto contando!
Oi, Sayonara! Aqui estou: Sandra, sua amiga, professora de Literatura, para prestigiá-la em seu maravilhoso blog!!! PARABÉNS!!! Sua escrita é primorosa e nos faz refletir, filosofar mesmo! Isso sem falar na força estilística do seu léxico!
Sempre estarei por aqui!
Um abraço.
Uma maravilha de texto! Parabéns, Sayonara!
Minha amiga, eu queria muito desejar com essa força toda que vc descreveu!! Oxalá!
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