quarta-feira, 2 de junho de 2010

Confirmando Goethe



Dentre as célebres sentenças do genial escritor e pensador alemão Johann Wolfgang von Goethe, talvez não se lhe atribua, comumente, aquela em que ele fala da amizade comparando-a aos títulos honoríficos: “...quanto mais velha, mais preciosa”.

Eu era bem pequena quando a li, pela primeira vez, num livro de pensamentos. Lembro-me que, no mesmo instante, me pus a pensar sobre a profundidade daquela reflexão. E, apesar da natural inconsistência infantil, desde aquele momento procurei valorar as amizades e os sentimentos sólidos, datados, com certificado de autenticidade e selo de ouro. Pensei, primeiro, na minha família; depois nos amigos da escola e, por fim, nas pessoas que conviviam comigo – em casa, no bairro, na cidade – e que me faziam tão bem.

Você pode estar imaginando se uma criança pode pensar tais coisas, ao que respondo: pode, sim. Eu devia ter uns oito ou nove anos, e já tinha opiniões e vontades razoavelmente firmes para a idade; já lia alguns clássicos da Literatura e, mesmo, exercia meus desejos mais veementes junto a meus pais. E esses atos não constituiriam algum tipo de vantagem extraordinária se comparados ao que vemos hoje nas crianças, em sua apreensão e evolução cibernética, por exemplo. Contudo, afora tudo isso, o mais importante para essa discussão é o teor de profundidade – de análise ou sentimento – que se pode atribuir a uma verdadeira amizade, dessas que se alicerçam na distância dos anos. Falo também daquela nostalgia boa e suave que rememora a turma do colegial, as alegrias insubstituíveis de uma época!

Foi em alusão à sentença de Goethe que ontem relembrei velhas e adoráveis amizades, que realmente não se perderam na linha do tempo! E, por incrível coincidência, um dos amigos de que mais me lembrei (aquele engraçadíssimo, que fazia a turma inteira rir!) – e com quem não falava havia aanoosss! – me ligou hoje. Disse-me: Lembrei-me muito de você ontem. Senti que precisava te ligar. Não é incrível? Pois já estou até acostumada a tais arroubos intuitivos... Mas a prévia intuição não diminuiu o impacto da surpresa do dia. E ali estávamos nós, meu velho amigo e eu, relembrando alegrias e abobrinhas antigas pelo fio de Graham Bell (aliás, a este devo um post gigantesco!).

E meu amigo de escola, trazido num fio de saudade pela ternura dos anos, me fez pensar numa grande galeria de amigos – revi seus rostos e atitudes na lembrança –, todos (e individualmente) marcados por suas características pessoais tão definidas. E atentei para o fato feliz de gostar das pessoas por seus atributos pessoais, suas qualidades próprias e notáveis. Afinal, quão fascinante é o registro de individualidade nos humanos! Já parou para pensar no quanto ama seu amigos por tais e tais qualidades – e até defeitos?! – que lhes são inerentes, especialmente aquela característica que cada qual – e só ele – possui? Ri sozinha ao lembrar de vários desses amigos que se mantêm na minha lembrança, habitando ainda meus sentimentos... Lembrei-me do amigo-bem-mais-que-engraçado (que reapareceu ainda mais pândego), o extremamente sensato, que tudo ponderava e previa – e quase nunca errava(!); o dinamicamente elétrico, quase capaz de reconstruir o mundo em apenas um dia da semana (risos); o maluco de pedra; o gentil e solícito, educadíssimo(!); o solidário e confidente; o fofoqueiro (que atualizava a turma com as news de todos); o estatístico preciso (sabia medir o grau de cada coisa ou evento); o contador de histórias; o defensor dos oprimidos; o pessimista (seguidor-mor da Lei de Murphy); o lunático (vivia fora do mundo), o genialmente criativo... Todos unidos pelo elo mágico da lembrança... dos aniversários, das aventuras de férias, daquela risadaria em sala de aula, daquela sessão do Grêmio, daquela gincana explosiva, do teatro da turma, da banda de rock do melhor amigo, da excursão inesquecível, das aulas cabuladas (eu nunca fazia isso), da festa de formatura! Todos delimitados, tão-somente, pela linha constante da amizade plena, a tal honorífica, que mesmo a distância nunca morre... Feliz daquele que tem amigos assim! Ou de quem simplesmente pode relembrá-los, pois isso é coisa que o acompanha para o resto da vida! Goethe que o diga...


Por Sayonara Salvioli

5 comentários:

Talita (Psicóloga) disse...

O dom de escrever e, principalmente, escrever encantadoramente e com simplicidade, sem ser simplória, é algo que me arrepia. E encontrei isso no seu blog. Obrigada por trilhar esse caminho. Nós, leitores e admiradores do seu trabalho, agradecemos felizes tamanha proeza.

Mari disse...

Sayonaraaaaa,
quantos anos, minha amiga!!!!!!!!!!!! Quantas saudades de vc, menina!...
Fiquei emocionada com o texto lindo que vc escreveu!!!!
Me manda seu mail, por favor!!!
Bjs, amiguinha

adreis@gmail disse...

Ah, Sayonara, as lembranças do tempo colegial são as melhores mesmo! até hoje de vez em quando me pego rindo sozinho lembrando de tudo que aprontava com a turma!

Denise disse...

Amigos? Exatamente isso! Feliz de quem os tem, de quem viveu bons momentos pra se lembrar e de quem já teve momentos horríveis compartilhados.

A propósito, adorei seu blog! :D

Beijos

february star disse...

Toda turminha é igual, né?
Eu acredito muito na intuição...nós, pessoas sensíveis, vivemos dela.
Não me canso de repetir o quanto é bom voltarmos a ter contato, minha escritora querida.
Um beijo