Perfumes
de Paris: a proposta de uma história de amor bem-contada, no coração da Paris da Belle
Époque
Por
Sayonara Salvioli
O
crítico literário Harold Bloom já disse que – embora todas as paixões humanas
já tenham sido contadas, o diferencial está na forma com que essas histórias
são narradas. De minha parte, acrescento: sempre haverá lugar para uma história
de amor bem-contada!
Com esse enfoque surgiu a trama de Perfumes de Paris, que é um enredo
amoroso em suas bases mais genuínas – uma história de amor entre humanos, tal
como existem desde o início dos tempos. O amor pelo amor, vivido por pessoas
comuns – que se apaixonam sem maiores justificativas. Não porque o objeto amado
estivesse fora de esferas convencionais; não porque os dois tenham detectado
uma sincronicidade de almas gêmeas. Nada disso: sem explicações palpáveis, sem
um motivo racional.
Afinal, vivemos na atualidade um momento mundial
em que é preciso resgatar as coisas plenas; necessitamos acreditar no que é
verdadeiro, num sentimento que se instala naturalmente. Assim é que chega ao
leitor de hoje um casal de protagonistas de outros tempos, mas com a mesma
tônica da vida, um approach real que
não conhece época: um sentimento de grande impacto. Charlotte e Pierre são uma
mulher e um homem que se amam e ponto. E, por isso, são capazes das maiores
atitudes! Por quê? Como isso se justifica? A própria narradora responde: Terá o amor explicação? Surge ele como verdade
absoluta ou como fórmula de perfeita equação? Não! O amor, esse sentir que não
se vê, não tem data nem nascedouro, não precisa ter metais nem casa nem
respostas. O amor é um espectro do universo, provavelmente o mais poderoso
deles: aquela espécie de entidade que tem o poder da plenitude e da tragédia,
da caldeira e da geleira, da paz e da guerra. Não se explica o amor como não se
pode entender o mistério do Cosmo, o leite materno, a respiração e o êxtase! O
amor é quase um deus e só não impera absoluto porque o tempo rivaliza com ele.
Sim, Perfumes de Paris traz isso: o amor, na sua forma mais simples – e
também grandiosa! Falar de amor é matéria atemporal: será sempre um fenômeno de
qualquer tempo ou sociedade. Todo mundo gosta de ser amado, de viver o
encantamento e até os perigos da paixão; a vida fica mais leve!
Além da matéria principal da trama
romântica, Perfumes de Paris mostra
as circunstâncias de um período cultural de relevância, trazendo os dilemas
sociais de um tempo. Evidencia, já naquela época, alguém que lutava por uma
postura independente e por um pensamento livre, independentemente de gênero ou
posição socioeconômica. Uma Charlotte sentimental, claro, mas também
progressista, uma mulher com mentalidade de mundo, bem além de seu tempo. Uma
jovem parisiense de família nobre que frequenta a noite dos desafortunados, faz
amigos no Moulin Rouge e não segue regras. Uma cidadã de vanguarda, precursora
numa competição de que só participavam homens... Uma habitué charmosa de cafés e teatros nos tempos efervescentes de
uma Paris extasiante e iluminada! Tudo em nome da liberdade e da busca da
autossatisfação. E pense o leitor que isso não era simples naquele contexto:
uma mulher posicionar-se com sua profissão (Charlotte é perfumista) e ser capaz
de contrariar a sociedade, não aceitando um casamento de interesses sociais,
por exemplo. Solteira aos 27 anos, um absurdo para a época! Até que o amor
chega, mas sem imposições: com verdade e inteireza, potencializando ainda mais
a sua personalidade já tão vibrante.
Quanto à raiz do conflito, o enredo está entremeado de peripécias
incomuns e envolve duas grandes proibições! Muitos desafios: buscas, medos,
dificuldades a serem vencidas. Em Perfumes de Paris, outro personagem – além da
própria narradora – também fala sobre isso, sobre essa força única que o
sentimento maior dos humanos tem: O amor conta umas histórias que nenhum outro
sentimento sabe narrar. São aventuras entremeadas de desejo, loucura,
suavidade, ciúme, proibição, segredos, sofrimentos, prazeres, venenos e
delícias...
Sim, assim é Perfumes
de Paris: um romance que se propõe a uma redescoberta do sentimento
amoroso, ao contar uma história de amor forte e envolvente, contextualizada numa
das épocas mais fascinantes do panorama sociocultural mundial de que temos
notícia: a Belle Époque francesa, no coração de Paris!
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