O incomensurável é a medida da alma. E nada pode representá-la melhor do que o sonho. Na esteira desse pensamento, talvez nada seja mais intrinsecamente próprio a alguém que o seu ideal.E para que ele se plenifique – na amplidão ilimitada de sua essência –, necessária se faz a integralidade do ser. Também é preciso autenticidade, sem exacerbações ou cortes. Por isso, não acrescente ou retire de si o que quer que seja: assuma as dimensões genuínas do que lhe dita a autoconsciência, pois a sua inteireza pode se converter no reflexo de sua grandeza. E se dedique a si e às suas próprias coisas e aspirações. Já dizia Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro; nada teu exagera ou exclui; sê todo em cada coisa; põe quanto és no mínimo que fazes; assim em cada lago a lua toda brilha porque alta vive”. E nada é grande, de fato, se não assume as proporções reais de seu tamanho.A dimensão do sonho pode estar no olhar e não no homem. O raio de alcance do que se vê, se tiver limites, não pode fazer parte do sonho. Porque este – quando verdadeiramente seu – pode exceder o tamanho do mundo e, apesar disso, em todo lugar encontrar guarida. Se lhe disserem que você tem um sonho grande demais, não acredite, pois não há quem possa medir a sua alma. Além disso, se alguém chama um sonho de grande é porque não sabe sonhar. Até porque só pode fazê-lo quando se crê que nada é maior do que o próprio desejo.Alimentar o sonho também é uma necessidade. Todas as vezes que fugi dele não pude ser feliz... Ganhei pesos e revestimentos que não me cabiam, que me inchavam a epiderme e feriam os sentidos. Só posso vestir o que, de fato, me convém. E só me convém o que se molda à minha peculiar anatomia. Vestida, pois, de sonho, posso resistir às caminhadas longas, jamais sucumbindo aos calores escaldantes.O sonho também precisa de convicção e fé. Neste caso, pode enfrentar o desafio e buscar o longínquo, até mesmo a infinitude... Aí se reveste de coragem e se torna capaz de vencer todos os monstros humanos e não-humanos. Protege-nos como um elmo e nos abriga na morada da realeza. Guarda-nos com a placidez e a autossuficiência dos fortes de espírito.Ao sonho também compete a unidade de essência: não se pode trocar de sonho. Pelo menos, não o grande sonho. Por isso, ele não permite empréstimos, permutas, negociatas. Livre de persuasões ou conchavos, o sonhador segue em frente, munido da coragem da decisão. Seguindo o princípio da imutabilidade, fecha seu semblante ao indesejado. Porque o sonho – o verdadeiro – é soberano e invencível. Por isso, só aceite o seu maior sonho. Diga não a todos os outros.Por Sayonara Salvioli
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
O incomensurável
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9 comentários:
Texto lindíssimo!! Marcante!
Também acho que as pessoas são do tamanho dos seus sonhos!
A grande marca de uma pessoa é o seu ideal na vida! Talvez essa seja a luta que realmente vale a pena!!!
É isso!!! Vc tá certa! "sonhar demais" é redundante pq sonhar nunca é demais!!!!
e haverá coisa mais maravilhosa que sonhar??! só se for realizar, né?
bjss
Ótimo tema, Sayonara! Eu acho que o sonho é o fator mais importante na definição do caminho de uma pessoa. Quantos e quantos casos não vimos de pessoas que tentaram contrariar os seus sonhos, mas pela força de seu pensamento (seu sonho) voltaram para o seu ideal inicial?
"se lhe disserem que você tem um sonho grande demais, não acredite, pois não há quem possa medir a sua alma" lindo isso sayonara!!!!!!!
"A medida do amor é não ter medida", já disse Santo Agostinho. Acho que a medida do sonho tb é mais ou menos por aí. Viva o sonho em sua falta de limites!
lindo isso! perfeito...traduz o que carrego dentro do meu peito...
meu sonho nao tem medida!
como diria Clarice Lispector: "E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço."
preciso te ler mais!!!!!!
Marijane Lopes
Queridos,
Obrigada pela leitura! Fico sempre muito feliz com a sua leitura e os seus comentários. Mas acho que hoje preciso expressar uma autoconstatação que fiz: andei "me lendo" nestes três últimos textos e observei um tom que pode, talvez numa primeira acepção, lembrar convencionalidades estéticas de autoajuda... Desejo, contudo, dizer que na intenção não se trata disso. Apenas creio ter estado muito reflexiva quando escrevi tais textos (risos)... De qualquer modo, gosto da ideia de - nesse autocomentário - lembrar o viés mais característico deste blog, que é o do gênero crônica (Vide A mulher dos pombos, Motorista movido a álcool, A mulher e o gato, Os jetsons estão entre nós e aquelas tantas que mostram a minha relação inquieta com o tempo :)
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