E do que é feita a vida senão de rotatividade, de circulação e engrenagens mudando, a todo momento, a face do mundo? Sim, a mudança possui o caráter meritório da renovação, do aprimoramento e do ganho. É a velha questão do trapézio: em vez de temer e não pular, é preferível calcular a distância e arriscar o salto da vitória mais próxima. Afinal, se você não pular, nunca poderá saber os céus que ganharia!
Como todas as pessoas, comprovadamente, tenho algumas qualidades e muitos defeitos. E manifesto ambas as facetas de minha personalidade. Mas creio que poucas características sejam tão intrínsecas como a minha coragem. E falo isso sem presunção ou, inversamente, modéstia – pode acreditar!
Sim, leitor: coragem! Isso tenho para ofertar, emprestar ou vender!... Meu temor (que realmente assim possa ser chamado) refere-se apenas a uma esfera superior, a desígnios maiores. Excetuando-se isso, o medo é termo que não se lavra em meu livro de memórias.
Assim é que não tenho medo de fantasmas ou de mudanças. Creio vivamente nas maravilhas que o futuro da cada dia me reserva, e, apostando nisso, sorrio ao acaso com o melhor dos sorrisos de boa expectativa: aguardo sempre o belo, o bom, o mágico que – acredito sempre – sobrevirá!
E a minha personal característica de estar sempre procurando o novo no rizoma das circunstâncias, invariavelmente, me conduz a uma atração permanente pela surpresa, pelo anúncio do por(+)vir, pela notícia desencadeadora de alguma mudança. Por isso, acho que o mundo pode girar em torno do pensamento daqueles que acreditam na mudança – para melhor, é claro! – e ajudam a prepará-la.
Aliando essa minha já afamada coragem à minha já propalada intuição, manifestei em voz alta (a uma prima, no telefone), há alguns meses, que brevemente me mudaria de residência; disse isso como que num lampejo revelador, num anúncio não calculado... Sabe essas coisas que não sabemos exatamente quando acontecerão, mas temos certeza de sua futura consumação? Pois é... Na verdade, eu não havia planejado isso, e nem mesmo sabia conscientemente de tal coisa. Apenas intuía, com o cabal tom das certezas inexplicadas, que brevemente passaria por uma mudança! E especifiquei o tipo e o destino de tal mudança, acredite se puder!
E, realmente, em pouquíssimo tempo se operaram mudanças representativas na minha dinâmica normal de vida: mudei de residência e modifiquei também alguns hábitos, curiosamente ao mesmo tempo.. Ingressei numa fase mais solar!... Na mudança física, rearrumei coisas fundamentais (lembranças altamente memorialistas), me desfiz de tralhas absolutamente desnecessárias, fiz doações, e – como não poderia deixar de ser – adquiri muitas coisas novas. Mudar, porém, não é algo que se refira a reestruturações meramente materiais: mudar implica repaginar uma parte substancial da sua vida, em que lugares, móveis, adornos ou utensílios novos não são os únicos bens de consumo desejáveis. Naturalmente os adquirimos por circunstâncias de adaptação ou aproveitamento do novo espaço, mas também o fazemos porque, de certo modo, é como se estivéssemos nos vestindo de roupagens coloridas e preconizadoras. Sim, mudar pode ser um recado de sibilas: isso pode trazer sorte ou luz, na medida em que é necessário ao homem girar na roda rizomática do planeta, onde nada para ou estaciona para sempre.
Como o para sempre é um prazo muito longo – embora isso seja possível em alguns casos –, filosoficamente, e para algumas situações da vida, prefiro acreditar no ultimato de certos fatos, algo que anuncia um novo fenômeno, alguma modificação decisiva que confirma o fato de você estar num planeta redondo. E a circulação de pessoas ou energias pode ser uma necessidade tão grande a ponto de ser essa rotatividade a mola propulsora de mecanismos vitais.
E o fascínio da mudança é um silogismo de fácil conclusão, afinal quem não gosta de comprar roupa nova, de ir a um lugar diferente, de experimentar novos sabores, visuais e terapias? Que grande motivação não causa uma repaginada no look – principalmente às mulheres no tocante a cabelo (risos) – ou aquela viagem inesperada com hospedagem num hotel que você não conhecia? Sim, é muito bom que nossos roteiros não sejam previsíveis a ponto de sucumbirem ao encanto da surpresa! É necessária uma grande dose de dinamicíssima novidade para alimentar a constância dos dias.
A Terra é redonda, a roda tornou o mundo mais ágil e produtivo, e a moeda precisa circular para seu contínuo posicionamento no mercado. Assim, aliás, pensava uma das figuras mais decisivas do baronato do café no Brasil – Joaquim José de Souza Breves, o Rei do Café. A propósito, certa vez ouvi que ele seria considerado por alguns como o detentor da maior fortuna do país em todos os tempos (proporcionalmente a algum critério estabelecido, não sei bem qual). E ele – possuindo numerosos e vultosos bens, que expandia enormemente, mais e mais ao longo da vida (teria chegado a ser um dos financiadores da Coroa imperial) – era um defensor da natural circulação do dinheiro, sem que seus dobrões fossem alguma perniciosa prisão. Em outras palavras, era um mão-aberta. Chegara mesmo a dizer que a moeda, por ser redonda (referia-se aos dobrões de ouro do seu tempo) precisava circular, girar constantemente, não podendo ser retida, guardada ou poupada inutilmente; ao contrário, necessitava mesmo sair do bolso, sucessivamente, para a ele retornar. Ele era um afortunado empreendedor e negociador que acreditava na rotatividade, no caso, na mudança constante e giratória do destino de seu dinheiro, a fim de que este adviesse, novamente, pela própria força de sua impulsão primeira.
Trazendo o caso para a necessidade de rotatividade de experiências, sensações, atos e lugares – necessidade essa que não conhece barreiras de tempo ou espaço –, concluo que a circulação e a mudança de seu modo de vida primam pela sua renovação pessoal, na medida em que – como na circulação dos dobrões de ouro – nos tornamos rotativos na dinâmica da vida e retornamos ao ponto de partida mais renovados, fortes, recarregados de energia e bagagens de saberes e sentimentos... E cada engrenagem dessa rotatividade vai puxando a outra, simultaneamente aos múltiplos elos que se estabelecem, intercomunicam e harmonizam... Rizomas e hiperlinks no sistema interativo da vida. E sem medo de metamorfoses ou da rotatividade dos pêndulos da existência!
Por Sayonara Salvioli
Um comentário:
A vida é um ciclo após outro mesmo! Lulu Santos que o diga!! "Como uma onda no mar"!!!!!
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