Imagine uma terra que possui como característica um menor número de dias nublados, recebendo mais de três mil horas de sol durante o ano! Some a isto um mar muito quente, límpido, vivamente azul, às portas do Mediterrâneo!... E além da orla maravilhosa – que é a mais extensa de todo o litoral andaluz –, a região ainda conta com o encanto paradoxal de paisagens desérticas, painéis do tipo western, não por acaso cenários cinematográficos de clássicos como “Por um punhado de dólares” e “Lawrence da Arábia”...Com a descrição, você certamente já aportou nas terras e mergulhou no mar de Espanha, neles reconhecendo o fascínio de Almeria, província da Andaluzia. Tais paisagens, apesar das terras pouco férteis do Deserto de Tabernas, por exemplo, guardam a história de uma fecunda proliferação de... humanos! Isso mesmo: falo dos inúmeros descendentes dos Martinez, dentre os quais me incluo.Embora desse clã eu não possua, ainda, um arquivo informativo de monta – como o dos Salvioli –, disponho de alguns documentos de família que dão conta das minhas raízes plantadas também naquele solo... Estas provêm de meu antepassado Juan Martinez Martinez, um legítimo andaluz.Você deve estar se perguntando se, afinal, sou descendente de italianos ou de espanhóis, e respondo: de ambos os povos! Ressalto, porém, que em mim fecundaram bastante as sementes de Itália, com sua vibração e folguedos! Dos espanhóis, herdei a intensidade e vejo alguns traços – de fisionomia e de alma – em meu pai e em vários de nossos familiares, os quais em terras brasileiras passaram a se chamar Martins.Voltando, pois, ao tempo em que tudo começou, é preciso rememorar aqueles idos do século XIX em que os Martinez e os Salvioli se encontraram, enamoraram... e casaram! Entre eles – os precursores dessa fusão de culturas e genes -, por certo, houve mais afinidades que a opulência dos vinhedos, cultivados tanto em Almeria quanto em Nonantola... Também outros muros rochosos de fortalezas medievais – como a Alcazaba de Almeria e a Abadia de Nonantola – cercaram os caminhos da futura descendência dos Martinez Salvioli. Assim, em eras remotas, começou o clã que – mais de um século depois – me incluiria como representante e possível escriba de sua história.Quem leu o post que aqui incluí acerca dos Salvioli e seus começos, deve se lembrar que descrevi a base dessa genealogia no Brasil. Nesse contexto, destaquei a minha bisavó Anrica (Henriqueta) Salvioli, nascida – no município de Cantagalo – de Elena Bavutti e Carlo Salvioli. Pois bem, quase à mesma época da chegada do casal italiano ao Brasil, Juan Martinez Martinez, sua esposa e filhos também chegavam ao novo solo pátrio. Isso aconteceu, precisamente, em 12 de novembro de 1889, após longa travessia a bordo do Poitou. Junto de Juan, vieram outros representantes de seu clã: Miguel e Alberto (também acompanhados de suas respectivas famílias) havendo o primeiro permanecido na capital (Rio de Janeiro) e o segundo seguido para São Paulo. E no dia 15, três dias depois, Juan, Maria e os meninos – Juan e José – saíam da Hospedaria dos Imigrantes em direção ao município de Cordeiro, na região serrana do Estado do Rio de Janeiro.Passaram-se quase vinte anos desde então. Juan Filho (mais tarde registrado João) – que havia chegado ao país com seis anos de idade – tornou-se um belo rapaz, de olhar penetrante, bigodes espessos e notável marketing pessoal (fama que chegou até nós)... Anrica, por sua vez, tinha crescido e se tornado uma moça carismática e falante... Cantagalo e Cordeiro eram localidades próximas, e, na confluência dos destinos, certo dia Juan e Anrica se esbarraram... E a filha brasileira da província de Módena avistou o tal filho dos Martinez de Almeria... Foi o bastante para Eros esfregar as mãos e atirar suas flechinhas poderosas! E o resultado desse sortilégio europeu em terras brasileiras foi o clã que, mais de um século depois, teria a mim e a tantos outros representantes genéticos como multiplicadores de sua história!Anrica (Henriqueta) Salvioli e João Martins casaram-se e passaram a habitar o Noroeste do Estado. E foi lá que nasceram seus catorze filhos – Maria, Alberto, Manoel, João, Helena (minha avó paterna), Dolores, Alzira, Carolina, Mercedes, José, Sebastião, Antônio, Levy e Newton. Juan morreu precocemente, ainda aos 45 anos, numa passagem triste que ainda narrarei. Àquela altura – empreendendor que era – já havia se tornado um próspero plantador de café. Com a sua morte, a viúva – minha bisavó Henriqueta – literalmente tomava as rédeas da família para, ela própria, dirigir-se aos compradores da produção da fazenda. Ela e os filhos, numa profícua fusão das genéticas italiana e espanhola, constituíram-se em exemplos de um clã astuto – de sangue forte nas veias, irrefutável poder de comunicação e raciocínio, e, sobretudo, coragem... num olhar fulminante (às vezes de “meter medo”)!... A propósito, devo aqui uma autoelucidação oportuna: fervilha-me a genética italiana, sim – e com veemência! –, mas não deixo de expressar, desde meus primeiros anos, o jeito Martins de ser!... Afinal, nós, os Martinez / Martins vindos de Almeria somos intrépidos e desbravadores! Bandeirantes natos, temos o ímpeto de abrir clareiras no meio da selva e, em legítimo ímpeto espanhol, instalarmos acampamento e acendermos a nossa fogueira!Aqui se homenageie a descendência dos povos italiano e espanhol, nessa proliferação de genes multinacionalizados que, no Brasil, originaram narizes aduncos, olhar de fogo, coração derretido e uma vontade férvida e apaixonada de bem-viver!PS1: Juan Martinez Martinez partiu da capital para o interior do Estado do Rio de Janeiro justamente no dia em que era proclamada a República em nosso país: 15 de novembro de 1889.PS2: Assista ao vídeo abaixo, ambientado nos cenários cinematográficos da terra originária dos Martinez ...
terça-feira, 26 de maio de 2009
A vez dos Martinez
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13 comentários:
Muito fofa a maneira como vc descreveu o encontro da italiana com o espanholzinho! O Cupido passeia no Brasil de início de século!! rsrsrsss
Ótimo texto! É muito bom ver alguém buscando suas raízes e tudo que elas têm de bom! Pude perceber na narração que os imigrantes de diversas nações se atraíam, meio que numa forma de relembrarem seus países, mantendo vivas suas culturas. Já vi outros exemplos que parecem mostrar isso... Deve ser algo assim, não é? Até porque o brasileiro não é um povo fechado. Para eles então se casarem entre si deve ser porque sentiam necessidade de um núcleo próprio, talvez um novo lar.
Muito bem lembrada a coisa dos filmes. Era um gênero de recriação dos faroestes americanos. Só que quase todos eram mesmo gravados na Espanha, em Almería. Lembro de “Era um Vez no Oeste” , “Três Homens em Conflito” e vários outros cujos nomes não me ocorrem agora.
show de post!!! parabéns!!!!
os western spagueth eram um tipo de faroeste a la Italia, neh? filmes feitos por italianos e gravados na Espanha! uma mistura bem ao estilo de sua família Sayonara!!! hehe
Lindo texto! Lindos também os cenários do vídeo! Como sempre, passar por aqui é medida de cultura e passeio literário, na certa!
tremenda salada européia essa familia!! Isso é que é ter histórico além-mar, hein? rsrsrsrs
Também foi em Almería que foi rodado o filme "O Bom, o Feio e o Mau".
Aquela região da ESpanha é boa para mergulho. E aquele mar de lá é tão quentinho que não dá vontade de sair da água!
Que história bacana!!! Coisa e cenário de cinema, literalmente!!! hehe Romance de imigrantes, longa travessia do Atlântico, chegada a um novo mundo, desbravador se tornando latifundiário do ouro verde!!!! roteiro de primeira!!!!!
Gosto, realmente da forma como você reverencia seus passado e suas personagens.
Nossas raízes.Elas nos seguram.
Que bela história de família, Sayonara! PARABÉNS pela sua literatura!
Rs..tava lendo seus posts, dai vi a foto desse.... achei estranho, tao familiar...rsrsrs num lapso de memória me assustei!!!! no segundo depois vi que era a foto da casa da minha mãe...rs
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