Parafusos e parafernálias (mentais)
Recebi a seguinte mensagem por
WhatsApp há dois dias:
– Sayonara, você esqueceu seu blazer
aqui em casa...
Era uma prima :) Normal o seu cuidado, em vista da minha distração. O incrível, porém, foi a minha resposta
(acreditem se puderem):
– Nem me lembrava de haver deixado
alguma peça de roupa para trás esses dias!...
Ahahahahah! Creem nisso?
Foi aí que eu percebi o afrouxamento de parafusos nas minhas engrenagens/parafernálias mentais... Andam estas com as peças mais
dispersas que de costume, pois antes eu me lembrava do esquecimento recente
(sentia falta de algo sumido) normalmente no dia seguinte... Mas o meu desapego
pela materialidade cronometrada, pelo visto, se acirra com os anos! Sequer
passou pela minha cabeça a lembrança do desaparecimento momentâneo do blazer azul!
Na verdade, isso não é lá muito
estranho ao se analisar a minha ficha corrida de distração:
- Já “perdi cinco aviões”;
- Alguns objetos fogem de mim (quase todos têm características de anima) e, por tal, brincam comigo de esconde-esconde;
- É comum o fato de eu receber, em casa, objetos pessoais alheios (anéis e pulseiras) que a anfitriã da noite anterior acha em sua casa depois da festa e, instantaneamente, julga ser eu a dona dos pertences esquecidos. Tantas foram as vezes em que esqueci coisas por lá!
- Já vai fazer um ano que deixei uma jaqueta de couro e um carregador de celular no apartamento de uma amiga querida em São Paulo, peça e objeto esses que foram trazidos para o Rio pela gentil Chris (para a casa de sua mãe) e eu não passei na portaria para apanhá-los (a ponto de tais pertences retornarem na ponte aérea, na esperança, por parte de minha amiguinha, de eu apanhá-los lá)...
- Vou ao supermercado, compro não muitos itens (como em restaurantes, normalmente, pois não sei cozinhar), pago-os e vou embora para casa, às vezes correndo, com algum novo capítulo na cabeça (a ponto de as caixas me chamarem: Senhora, suas compras!)... Algumas vezes já vieram atrás de mim na calçada!
- Meu vizinho costuma tocar a campainha do meu apartamento – reiteradas vezes –para me entregar a chave que deixei na porta do lado de fora.
Quanto aos aviões, já parei de perdê-los.
O último aliás foi num Congresso de Jornalismo em Porto Alegre, quando deixei
meu notebook para trás e, como não
sei viver sem ele, preferir arriscar-me a perder novo avião a partir sozinha...
Não me deixa mentir meu querido colega Tiago Ritter, a quem dei um trabalho (a maior correria) de
colocar a língua pra fora!... Aí, pelo seu empenho, e chegando de volta
rapidamente ao Centro de Convenções, calculei erroneamente que ainda pegaria o
avião da vez... Porém, no caminho de volta peguei a maior “tranqueira” (como
dizem meus adoráveis amigos gaúchos) e, mesmo com todo o esforço do taxista que
me levou ao aeroporto, não cheguei em tempo hábil... Ah, como foi o esforço do
gentil taxista? Veja:
– Calma! Você vai conseguir! – disse
o confiante senhor – quando já aportávamos praticamente diante do embarque.
Ao que olhei para os meus pés e
retruquei:
– Não há como! Você foi rapidíssimo,
mas com esses meus sapatos de salto 13 cm não conseguirei “evoluir” no saguão
do aeroporto, fazer check-in, despachar a mala e alcançar o portão em alguns
minutos...
Contudo, o gaúcho era trilegal:
– Não seja por isso, minha filha!
Então, eu levo a mala pra você!
E não é que, minuto posterior, olhei
em sua direção e lá estava ele com a minha mala no ombro seguindo na minha
frente com largas passadas?!...
O bom homem até se esqueceu de que a
mala tinha rodinhas frontais (e laterais) e seguiu na volada, prestativo e
decidido a não me deixar perder aquele avião!
A aeronave da vez, no entanto, não
guardou minha poltrona...
Talvez você esteja um pouco apavorado
com a minha performance de parafusos soltos, mas pode se regozijar
solidariamente comigo, ante o novo estado de coisas: como era o terceiro avião,
apenas, que eu perdia, revelou-se ainda boa chance minha com a lei do três, ou
seja: como ainda não se deu a quarta vez, não estou condenada a continuar a
perder aviões por aí! É bem verdade – como também mostra a minha Tríplice Teoria
– que tudo aquilo que se repetiu por três vezes apresenta a tendência clara da
continuidade do ato (falho)... Mas, neste caso, prefiro crer que a
incidência constante se daria mesmo a partir da quarta vez, entende? (É bem verdade que houve uma quase quarta vez, não é, Chris e Quel? E bem que foi divertida aquela corrida louca até o aeroporto, não foi? Chris, Quel não entende isso... Ela é pisciana de outro decanato, certo?)... Ahahahah!
A verdade é que só ficou uma herança dos (somente) três aviões perdidos: adquiri uma nova mania correlata – a de chegar ao meu aeroporto de destino e não me lembrar de pegar a minha bagagem na esteira... Só isso! Mas também já venci esse problema, pois agora – quando desembarco – fico atenta ao fluxo dos companheiros de viagem e, quando vejo, a minha rechonchuda mala já este me sorrindo e vindo ao meu encontro...
A verdade é que só ficou uma herança dos (somente) três aviões perdidos: adquiri uma nova mania correlata – a de chegar ao meu aeroporto de destino e não me lembrar de pegar a minha bagagem na esteira... Só isso! Mas também já venci esse problema, pois agora – quando desembarco – fico atenta ao fluxo dos companheiros de viagem e, quando vejo, a minha rechonchuda mala já este me sorrindo e vindo ao meu encontro...
Apenas outro dia, assim como a minha
querida prima Angella, meu vizinho Odair (um engenheiro de pensamento
notadamente lógico) tocou a minha campainha insistentemente... Olhei para a
porta de entrada e vi que as chaves estavam lá (?!). Foi quando ouvi sua voz do
outro lado, usando de tremenda sutileza:
_ Sayonara, você deixou sua mala aqui
fora de propósito?
Meu Deus! Nova mania!... Mas – também
– cheguei tão cansada que adentrei logo a sala em direção ao meu quarto
(lembrando-me inclusive de trancar a porta com a chave do lado de dentro) que
fiz isso tão bem (trancar devidamente a porta) que até deixei a mala do lado de
fora!... Porém, concluo ainda: Desta vez nem esqueci a bagagem no elevador! ;)
Por Sayonara Salvioli