Ela me acompanha mais que a minha chave de casa; carrego-a na bolsa como utensílio indispensável de sobrevivência. Segreda-me coisas nebulosas e obtusas, aclara-me circunstâncias, avisa-me sobre fatos menos importantes e me previne quanto a perigos ou pseudoperigos. Traz na sua essência – e origem – a propriedade miraculosa de salvar vidas.
Como grande amiga que é – uma das maiores –, cuida da minha distração e lustra o brilho intempestivo do acaso. Nas noites, aparece-me em forma de sonho; nos dias, como clarividência anunciada, em lances e relances instantâneos de imagens mentais. Alerta-me até sobre o que preciso colocar na bolsa [isso ou aquilo vai ser útil nas próximas horas! E como o é!].
Ela é certeira, quase tão precisa como a respiração. Tem um filtro para a verdade e não costuma falhar em suas predições; pode no máximo ser mal interpretada. Isso porque ela não conhece o engano ou a surpresa: mesmo na rotina, traz-me os fatos [e pré-fatos] numa bandeja de prata, com o prato da notícia e o samovar da consumação, em primoroso serviço de quarto!
Ela tem o sentido aguçado do feminino em sua altivez na conjuntura cósmica. Vê com olhos de mulher e racionaliza com mente de homem. Perscruta o mundo e o humano com mais perícia do que o fariam agentes ultrapoderosos e pioneiros da antiga OSS. Vasculha os cofres insondáveis de minha existência e de meus pertences. Profetiza conflitos, neutraliza guerras, propõe conciliações, reforça alianças e realiza negócios, às vezes sem meu consciente conhecimento prévio.
Percebo que ela tem ficado mais forte e extravagante com o passar dos anos: tem se vestido com roupas brilhantes e telúricas. Na ilha do onírico, sinaliza com luz mais intensa que a de um farol! Ela não usa discrição e é arrojada, mas também possui atributos arraigados, uma face mais tradicional... tem até intimidade com as antigas escrituras. Possui peso [vale quanto pesa: quilate de ouro puro], tem palavra - que nunca "volta atrás" - e honra seus compromissos, com prazos cada vez mais rápidos e invariáveis. No decurso de dias se materializam no real suas anunciações de sibila.
Muitas vezes, acho que ela é feiticeira, que tem dons sobre-humanos, pois se adona do meu sono ou do meu despertar. Escuto-a, respeito-a e cultivo sua amizade, sua presença cabal em minha vida. Sinto-me mais preparada para as aventuras, venturas ou adversidades com os seus conselhos. Sou feliz por tê-la ao meu lado. E quero alimentá-la com a minha fé e o meu sorriso franco de abertura. Sou grata à Providência por havê-la reservado para mim. Dia desses ela me contou uma novidade extraordinária que deixou meus olhos brilhando!...
Inscrição nas estrelas, dom paranormal, mãe da gnose, guia espiritual, mão de fada, asa de anjo, presente de Deus... Chave-mestra, é a chave da minha casa espiritual e, por isso, pode me abrir todas as portas! Ela é a minha grande inseparável amiga dileta: a minha INTUIÇÃO.
Por Sayonara Salvioli