Não, não estou falando de cabeça de loura. Eu não faria isso... Imagine! (risos platinados)... Falo de algo cientificamente comprovado: o efeito de oxigenação que uma ducha na cabeça exerce sobre o cérebro. Se você ainda não parou para pensar a respeito, experimente a reação dos neurônios, em pronta resposta, a um questionamento seu debaixo do chuveiro.
Realmente é impressionante o clarear de ideias com a irrigação de nosso provedor biológico. Apesar de minha condição de aficionada da arte e leiga em ciência, imagino mesmo não haver intracomunicação que não se estabeleça sob a franca estimulação das conexões neurais. Figuras de sentido ou estilo à parte, tenho comprovado, na sucessão dos anos, as múltiplas descobertas que nossa mente pode fazer na hora do banho. A propósito, para que você não duvide de mim antes de fazer a experiência, lembro aqui o célebre caso de Archimedes, sábio grego que descobriu importante princípio físico, batizado com seu nome. Ilustrando ludicamente o fato, poderíamos dizer que foi a união entre cérebro e água a base propulsora da Eureka de Archimedes. A grande descoberta se deu justamente durante um banho do cientista, que estava incumbido de uma missão designada pelo rei Hierão, na Siracusa do século III A.C. O tal rei teria recorrido a Archimedes quando desconfiou ter sido enganado por um ourives: imaginava que este houvera misturado um tanto de prata na confecção de sua coroa, que deveria ser só de ouro. No entanto, o monarca não quis danificar seu distintivo real, e achou que o genial matemático e físico poderia resolver o problema sem destruir o objeto. Acertou na mosca: o cérebro irrigadíssimo do grego teve um insight exatamente no momento do banho... Archimedes percebeu que certa quantidade de água – coadunante com seu próprio volume corporal – transbordava da banheira quando ele entrava nela... Ideia! Assim, ele intuiu que – a partir daquele princípio inicialmente formulado – poderia comparar o volume do objeto em questão, a coroa, com os volumes de pesos idênticos de ouro e de prata: seria suficiente imergi-los na água e medir a respectiva quantidade de líquido derramado. Eureka! Estava descoberta a solução do problema do rei!
Voltando, porém, à minha realidade de não-cientista abrigada na múltipla contextualização de idéias do século XXI, creio poder afirmar que o cérebro é uma biomáquina, e que estou certa ao aludir a respostas viáveis a antigas dúvidas quando, com o efeito transbordante de um chuveiro, “irrigo” o meu cérebro. Este, plenamente oxigenado, me faz perceber aspectos clareadores de uma situação, e aquele questionamento que eu me fazia havia dias, de repente, se mostra decifrado com uma solução tão simples que me faz pensar: É isso mesmo! Como foi que não pensei nisso antes?
Se você ainda não conseguiu conceber, com precisão, essas minhas alegações, nem precisa esperar a experiência mental proposta para o próximo banho... Basta que ligue sua rede de neurotransmissores e tente se lembrar de alguma vez em que, durante o banho, descobriu a resposta para uma dúvida, a solução clara e simples de um problema antes aparentemente insolúvel. Comprove: tudo aquilo que você não consegue decifrar ou processar mentalmente, em circunstâncias normais, se torna possível e bem mais claro sob o efeito do chuveiro. Comigo já aconteceu incontáveis vezes! Não raro, estou sempre tendo revelações à moda Archimedes, depois de semanas com algo “martelando” na minha cabeça!
No fim de contas, um banho é sempre um santo remédio, principalmente um banho de ideias! E – quem saberá – ao falar disso, não estarei também tratando involuntariamente de princípios da Heurística [ciência do descobrimento, do livre pensar para a efusão de idéias] ?... Com o mesmo significado etimológico do termo Eureka, de Archimedes [descobri, encontrei], o processo dos descobrimentos na hora do banho pode bem refletir um procedimento heurístico, ou seja, um método espontâneo, uma espécie de estratégia para atingirmos a solução de alguns problemas na forma de raciocínios intuitivos, por assim dizer. Diante disso, convido o leitor a constatar que aquela resposta a uma questão difícil pode estar dentro de sua própria mente. Que tal exercitar a Heurística no proposto momento de restauração mental? Afinal, sua mente pode ter o poder revelador de um Archimedes! Apenas termine o banho, enxugue-se e vista-se primeiro! Não faça como ele ao sair por aí, desprevenido, para contar ao mundo a sua descoberta!
Por Sayonara Salvioli