segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Prazos, cadências e etapas... ou engrenagens universais


                                        Estágios evolutivos da divisão celular do desmid (Micrasterias thomasiana) – uma alga verde encontrada em pântanos


Prazo no trabalho precisa obedecer a etapas rápidas, dinâmicas e providentes. É preciso resolver, fabricar, entregar o objeto profissional e ponto. Não se admitem esperas ou postergações em detrimento da eficiência.

Porém, nos objetivos de vida – na aplicação do sonho de prazo médio ou longo –,  assim  como na natureza, o universo ensina, infelizmente, que tudo é constituído por segmentações temporais – as ditas etapas –, com raras exceções. Mas talvez tal se justifique com sabedoria e base. A maior parte dos acontecimentos parece consumar-se aos poucos, bem cadenciadamente, obedecendo a níveis paulatinos de ações. As coisas vão se construindo, os tais degraus se sobrepondo, até que se possa, afinal, fincar a bandeira no topo da montanha azul. Essa construção de todos os dias parece mesmo ser uma lei.

Filosofias e religiões nos lembram isso, a seu particular modo. Da Bíblia por exemplo, temos os registros (lições) desde o Gênesis – sobre a (simbólica?) construção gradual do universo nos tais 7 dias – até o ensinamento essencialmente filosófico “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”.[Eclesiastes 3:1]. 

Parece-me que realmente assim é. Os anos insistem em me dizer que desejos e objetivos para sua consumação, por vezes, precisam esperar semanas, meses, anos, por vezes até décadas.




No entanto, minha natureza claramente impetuosa sempre se debateu contra isso, refutando tal suposta verdade. Lembro-me de, ainda bem pequena, dizer a meu pai:

– Mas isso vai ser feito agora, não é?

Ao que ele não assentia, explicando que “as coisas não se resolvem assim de uma hora para outra”. Mais tarde escutei isso de outras pessoas, na dinâmica normal da convivência social. Nunca concordei muito e, para ser justa e condizente com o meu pensar, sempre agi (e ajo) de modo a acelerar os processos. A questão, no entanto, é que o clima das circunstâncias não é uma questão pessoal; de nós independe a velocidade dos ventos. Podemos, com pensamentos e ações adequadas, direcionar a até acelerar a chegada do fato, mas um agendamento preciso e a conclusão – efetiva, final – não podem ser desencadeados pelo desejo pessoal. Perseverantemente, podemos ter nas mãos a completude, quase podemos prover os objetivos. Quase...

E é nesse quase – na possibilidade anunciada, na prerrogativa que se abre, na opção desbravada, na ação começada e continuada – que pauto minha crença no acontecimento. E me dedico mesmo a forjá-lo, não a meu bel-prazer meramente, mas com a intencionalidade aguda de minhas ações mais efetivas. 

Mas voltemos ao consumar (depois do querer):  nem sempre podemos consumar o idealizado, por forças e motivos vários. Nesse ritmo, as tais (poucas, breves) 24 horas do calendário de Gregório não ajudam, decididamente.  

Bom, esse é o universo das engrenagens concretas, solenemente diuturnas, as quais – em conjuntura universal – movem o mundo físico e o fazer material. Disso me conscientizei e às vezes digo, olhando o topete do prazo do Cosmo: O.K., o tempo é seu. Meio inconformada em alguns episódios, é claro, mas com a consciência de aceitar o que é inconteste. É claro que sem deixar de adestrar o meu pensamento face aos desejos... Entro com a minha pequena parcela nessa soma, claro! Mas me imponho velocidade (e ao mundo) em algumas situações, ao passo que em outras espero, quieta – com olhos fitos, mas intenção e coração amainados... Por um tempo, apenas. Acredite: ainda que numa pequena hibernação de vida, quando se alcança esse nirvana da introspecção programada, silente, é magneticamente acionada a tal chave da hora anunciada pela perspectiva!... Aí, é aguardar o mover em si das engrenagens do universo.

E pelo aspecto metafísico – mesmo fugindo à minha natureza exacerbada –, estou cada vez mais convicta da verdade do (tão professado) pensamento religioso: “o nosso tempo não é o mesmo tempo de Deus”. Sim, meu leitor, a Providência – se não rápida, pode mesmo ser efetiva e grandiosa quando vier, a ponto de suplantar nossos desejos mais ousados! Você faz a sua parte: sonha, planeja, age. Contudo, em alguns casos, espera; cultiva a sabedoria da perspectiva aplicada. Afinal, em Sua justiça, o Benfeitor-mor pode conceder asas de mais sustentação ao seu almejado voo.




E aí, em viés cadencial, você pode chegar a próximo/futuro acordo feliz com Mestre Tempo: O.K., você me surpreendeu, Mr. Chronos!



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