terça-feira, 20 de novembro de 2012

MODO IMPERATIVO DE CONEXÃO






Você já deve ter ouvido falar sobre o tal e propalado "imperativo de conexão". Mas, se ainda não conhece a expressão, ainda assim sabe o que significa: essa necessidade que hoje as pessoas têm de estarem conectadas à Internet o tempo todo. Afinal, você e eu, tu e nós, eles e elas – todos, sem exceções – somos ( e estamos) constantemente arrebatados pela sedução da máquina que unifica o mundo. É claro que você já sabe: o seu computador polariza suas intenções e ações na rotina! Pois é a isso que chamamos imperativo de conexão, essa relação estreita que você desenvolve com o mundo por meio da cibernética doméstica e/ou profissional, num celeiro de relações conectado pelos fios cotidianos de ondas comunicacionais.





Quem ainda não percebeu o próprio vício em relação às redes sociais? Ora, em maior ou menor escala, as pessoas hoje – e não apenas os heavy users das gerações Y, Z  (e seus ramos), os millennials, todos propensos e naturalmente industriados ao imperativo de conexão. 

Além disso, qualquer pessoa, em movimentos rotineiros de exceção – quando viaja ou passa por alterações ocasionais em lacunas –, lança mão de alguma possibilidade alternativa para conectar-se e manter-se em dia com os diálogos eletrônicos de sobrevivência. Sim, de sobrevivência! E não falo apenas das mídias de socialização (ditas escravizadoras por alguns); refiro-me ao relacionamento interconectivo com o mundo pessoal e profissional que você mantém necessariamente, por diversos vieses e plataformas. É claro que hoje, com o domínio do reino da imagem – além da prerrogativa do e-mail funcional – você se comunica muito por meio das mídias sociais e aplicativos indispensáveis de comunicação. 

Mas, se você tem terminais neurológicos o tempo todo conectados, é certo que até adoece se não acessar a sua caixa de entrada, se não abrir os áudios do WhatsApp, se não twittar ou não se expressar pelo Instagram, certo?




Outro aspecto claro: o armazenamento da (antiga) privacidade dos cidadãos do mundo. E a sua vida expressa em diretórios digitais, na verdade por eles atraída, colecionada e arsenalizada. E o monitoramento é amplo: num histórico de mensagens é possível medir o seu nível de relação com determinada pessoa pelo número de e-mails trocados com ela. Assim, se entre você e Pedro existe um histórico de 449 e-mails, a interseção significa que vocês têm um forte laço, superior àquele que você mantém com Rodrigo, cuja intensidade de relacionamento o seu provedor contabiliza em 138 incidências. Também a maior parte de seus projetos, compromissos e agendamentos enchem as pautas do correio eletrônico. E até arquivos armazenados em pastas específicas de prevenção. E a valoração quantitativa dos frequentadores de seu blog! Enfim, toda a sua vida, contextualmente, em acessibilíssimos dados! O seu provedor provê e prevê integralmente seus movimentos cotidianos, o que inclui planos primordiais, desejos e contatos ali reunidos. A Central Google e suas conexões têm a sua vida nas mãos e podem controlar seus movimentos e ações. Silogismo perfeito? A resposta a isso (ainda) não é o mais importante. A premissa (interrogativa) mais que básica é: você se move sem conexões cibernéticas? 
Provavelmente, não. E isso não é absolutamente negativo se você apenas ferramentaliza um mundo de possibilidades a seu favor. Assim, quando viaja e não leva suas máquinas-mães com certeza vão na bolsa de mão o laptop, o iPad e o iPhone... Até porque como você ousaria andar por aí nu de conexões? Firewall é uma entidade neurodigital perseguidora de intenções!

E essa rede de informações compartilhadas e ações multivivenciadas é a prática contemporânea daquilo que, nos primórdios do milênio (há pouco mais de uma década!)
se chamava de globalização efetiva. Pois bem, a tal (agora quase jurássica) expressão aldeia global se polariza na sua constante interatividade com o mundo. Se você é um publicista, ganha todos os mercados digitais; se empresário de ativo e-commerce, fica multiplamente rico; se executivo de grande porte, viabiliza conferências internacionais a um clique; se criador de alguma arte, tem seu produto difundido por outras culturas...



E, ainda, se produtor de material intelectual para publicações ou instituições de outros países, você internacionalizou (em contatos de último grau) tanto as suas relações profissionais que já nem se lembra do (ex) imperativo do fuso horário. Você no Rio de Janeiro, seu companheiro de trabalho em Genebra, seu editor em Paris... e seu produto é uno! Você fala a nova linguagem universal da instantaneidade e, em poucos segundos, recebe pagamentos do contratante e emite dinheiro para a sua conta por meio do Paypal. E o sistema também permite acesso imediato ao mais recente lançamento da Burberry! Indo menos longe, para as aplicações diárias, você pode comprar on-line aquela fantasia para o Halloween de seu filho, um HD externo para garantias documentais ou, ainda, trazer para a sua mesa, a um simples clique, aquele delicioso Frango à cubana... 

Ainda que sem a prerrogativa de compras ou expansões profissionais, se você é simplesmente um heavy user da Web 2.0, já configura o perfil de um jogger multidinâmico do game contemporâneo do imperativo de conexão. 



Tocando no cerne da sua própria questão: um formigamento neural toma conta de seus ligamentos se você não pode abrir o seu Facebook ou publicar artigo novo no LinkedIn, ou ainda verificar as novidades dos últimos quinze minutos no seu e-mail? Você necessita saber o que se passa na metralhadora giratória das incessantes relações eletrônicas? Ah, o mundo pode acabar se você não fizer o seu networking do dia! Alguma identificação com essas assertivas e indagações? Resposta simples: você está definitivamente plugado e não pode retroceder etapas nesse jogo. A boa mesmo é fazer amplo uso disso (mas atenção para as reservas psicológicas!). Antes de tudo, é preciso entender que, do entretenimento ao trabalho, você se espalha hoje pelas dimensões diversas das plataformas cibernéticas. É como se um cabo de virtualidade conceitual – de posse de seu mapeamento eletrônico – distribuísse energias intercomplementares por suportes concomitantes de transmissão e recepção. Liames complexamente integrados ao seu corpo. Você, o mundo e os chips: interseção eletroneurológica, o novo tratado tecnocientífico das cabais relações entre a humanidade e uma dominadora trupe de andróides. Seu celular e seu corpo (!) são facilmente detectados a distância em velocidade e potência indomáveis. Você é reflexo espontâneo de seu smartphone. Na cozinha dos humanos mais avançados já existe até impressora de alimentos. E em quantos pixels está dimensionada a sua imagem digital? 

Chegamos ao futuro, caro leitor. Não há mais tentativa de ficção; definitivamente a estação cibernética acoplou-se à nave orgânica. Trata-se do tempo-reino do IMPERATIVO DE CONEXÃO:

Conecta tu
Conecte ele / ela
Conectemos nós
Conectai vós
Conectem-se (todos) eles. E com as devidas adições reflexivas.

E, é claro, eu me conecto indicativamente!

Por Sayonara Salvioli

P.S.: MAS É PRECISO PESAR SEUS ATOS CIBERNÉTICOS E SABER COMO FAZER TUDO ISSO - ACRESCENTE-SE!


10 comentários:

Roberto C. Veiga de Mendonça disse...

Sayonara, trabalho na área de T.I. e fazia uma pesquisa na internet quando achei o seu blog. E isso, o fato de uma das tags ter me direcionado a um assunto afim, é prova de tudo que você falou no texto. Estamos realmente plugados nessa dinâmica da blogosfera. É até assustador pensar o que conquistamos em poucos anos. E não dá pra ver o que ainda desencadeará toda essa engrenagem de sistemas e conexões.

Gabriela Conde disse...

O universo de X-Man não está tão longe assim!! Nem pós-modernidade nem era de aquarius. Parece que toda vanguarda foi superada!!

Bruno disse...

Sabe que seu texto me reportou a Eisenstein (Geometria do Êxtase, Casa de Vidro)? Adoro!

Luciana C. disse...

Superbacana o artigo, Sayonara. Vc descreveu bem esse universo da máquina, que tanto pode juntar ou isolar os humanos. É a máquina dominando hábitos e refazendo sociedades. Fazemos parte disso tudo e às vezes nem nos damos conta.

Fatima Gomes disse...

Amei!!!!

Luisa disse...

Visao perfeita. Meio Greenaway, meio Huxley.

Camila Sodre Fontes disse...

Texto espetacular, Sayonara! Bem na linha das novas linguagens! Inspirou-me um flashback de experiências virtuais já vistas ou imaginadas.. Pensei em X-Men, engenharia científico-genética e guerras entre máquinas e humanos... hehe!

Maria José disse...

Muito bom!!!!!!

José Alberto disse...

Concordo em gênero, numero e grau, Sayonara. Tempos modernos.

Regina Lemos disse...

Isso é o Futuro-presente!