sábado, 22 de janeiro de 2011

IMAGINÁRIO CONTEXTUAL






Hoje acordei com vontade de passear pelo Rio Antigo. Isso mesmo! Arroubos de uma imaginação além-tempo! Sou mesmo passadista, o que comumente me suscita um teletransporte mental a diversas passagens da história da humanidade... Vez por outra – e não são poucas – acordo querendo estar em Pompeia, por exemplo. Naturalmente bem antes do ano 79, pois não sou suicida! Também há aqueles dias em que, inconsequentemente – já que sem quaisquer indícios genealógicos – constato até alguma ancestralidade no Egito dos Faraós!...  
Nessas oscilações de tempo e espaço, em quaisquer lugares ou épocas – Décima Segunda Dinastia egípcia, Grécia de Ouro, Era Vitoriana, Paris dos anos loucos ou o Rio das primeiras décadas do século passado – o fato é que a impossibilidade de realizar meu intento gera uma tremenda frustração, visto não haver (ou pelo menos eu não poder reconhecer) um portal que me leve, de fato, a outros momentos históricos... Que peninha!... O que assim não seria se um dos meus sonhos de criança – a máquina do tempo – tivesse sido inventada... No entanto, se a ciência não respondeu concretamente ao meu ideal de infância, pelo menos tenho o meu pensamento, que tudo pode! Imagine o leitor o quanto, lá pela segunda infância, fiquei feliz quando constatei que o meu pensamento habitava uma espécie de reinado pessoal, um lugar onde a vontade alheia ou as ordens da minha mãe não podiam chegar!... Uma espécie de recôndito particular, onde se podiam realizar todas as aspirações do mundo: as minhas. Que sonho seria esse para cada um de nós, reles mortais atrelados vitalmente a uma época só, não é mesmo?
E é com esse aliado – o pensamento – que me permito munir de asas a imaginação contextual do dia: passear pelas ruas do Rio antigo, mais precisamente o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX!  
Quem, dentre nós, nunca ficou fascinado ao ver fotografias ou vídeos do centro do Rio de Janeiro de tal época, numa paisagem urbanística tipicamente europeia? Naturalmente sem ferir o nacionalismo – de que sou defensora –, lembro aqui aqueles painéis fascinantes como o Palácio Monroe, a antiga Cinelândia... uma Avenida Central recentemente revitalizada e adornada!... Ah! E, variando entre décadas afins, o que não era a Rua do Ouvidor, com seus estilizados transeuntes, idos e vindos entre o Wallerstein e a Casa Clark?!... 
Como o leitor já adivinha, imagens anteriores – do finalzinho do séc. XIX – também me saltam à mente, convidativas, ora vislumbrando o corte prodigioso de Mme Joséphine, ora os ramalhetes de Mme Finot! A propósito (psiuu!), afirmam cronistas da história que a primeira teria morrido eclipsada em Paris!
Nos domínios de meu passeio mental também cabem o Hotel Europa, o Gabinete Português de Leitura e antiga Biblioteca Nacional. Entremeia-se aí minha imaginação com o bucolismo do Passeio Público, indo também flanar lá pelas bandas do Cais Pharoux!... E a confraternização cultural dos cinco literatos ilustres – Machado de Assis, Lima Barreto, José França Júnior, Manuel Antônio de Almeida e Joaquim Manuel de Macedo – em horas a fio na Garnier!... 
Enfim, num delírio feminino pela fascinante Vivienne carioca, quase posso me ver entre sedas e leques e flores e perfumarias, em figurino parisiense digno dos primeiros espetáculos do Theatro Municipal, já na primeira década do novo século! A coisa é tão forte no meu desejo imaginativo, que não somente enxergo painéis de beleza e requinte como também posso visualizar, profeticamente, algumas metamorfoses sociais: vejo os quiosques populares, extintos por Pereira Passos, mas que hoje se afiguram nas duvidosas carrocinhas de hot dog que se imiscuem nos meandros da metrópole! Mas – é lógico! – retorno sem demora às risadas e conversas animadas no Café Lamas e na Confeitaria Colombo! De tudo, afinal, só me restam estes últimos (remanescentes ainda bem vivos), como saudosista que sou, inevitavelmente ambientada na realidade contemporânea do século XXI! E, já acolhida pelo (no) Cristóvão em 2011, não-satisfeita com o clima de manjar vespertino, me reporto agora à festiva Paris de Santos Dumont, Cartier e sua confraria célebre... Você me acompanha? 
Por Sayonara Salvioli

10 comentários:

Kathia disse...

Sayonara: eu tb amo de paixão o Rio Antigo! Recebi um e-mail, com muitas fotos daquela época! Cada uma mais bonita que a outra!! Adorei o que escreveu!!

Sayonara Salvioli disse...

Prezado leitor,
Peço desculpas a você que comentou este post e não pode mais visualizar seu comentário aqui. O motivo disso foi uma inexplicada exclusão do post anterior (com o mesmo texto), portanto, com perda de sua totalidade (inclusive os comentários). Panes de Internet! Problemas tecnológicos que não teríamos nos célebres anos do Rio Antigo... Em contrapartida, também não teríamos qualquer conexão eletrônica que nos possibilitasse contato, não é mesmo?... rsrs
Saudações blogueiras :)

Gisela disse...

É.. Belle Epoque, Paris daquelas décadas... tudo era uma festa!!!!!!!!!!!

Deborah disse...

Seria realmente um sonho passear por outras épocas! Ah, Sayonara, seu blog às vezes faz o papel desse portal! Leva a gente a outras dimensões! Sua escrita é muito visual, eu consigo imaginar claramente o que você escreve! Adoro!

Filipe disse...

Repito que te acompanho, sim!!!
BJS

Cilene disse...

Passeei pela Ouvidor junto com voce!!!! Saúde e sucesso Sayonara!!!!!!!

Luciana C. disse...

O seu blog é sempre um show! Texto impecável e sedutor! Foi capaz de me levar a passear no Rio Antigo e depois na Paris de Santos Dumont e Cartier! Amei!

Fábio Borges disse...

Finalmente vou deixar um comentário, Sayonara! Mas sempre passo por aqui. E gosto muito!! Parabéns!!

Maria Luiza A. Silva disse...

Fa scinante este passeio pelo Rio Antigo, que mesmo não temos vivido nele, ele é bem vivo em nossa memória... !
Temos ainda hoje alguns espaços que permanecem intactos, tais como : Confeitaria Colombo, Real Gabinete Português, Arcos da Lapa,Museu da República com seus bucólicos jardins... !
Sem dúvida é um passeio deslumbrante !!!

Anônimo disse...

Querida Sayonara,
o judeu Albert Einstein inventou a máquina do tempo, mas não contou a ninguém. EM 1955, ano de sua morte, deixou-a de herança para outro judeu, na época com 20 anos. Ele veio até janeiro de 2011, leu este seu post, e fez então o filme: "Meia noite em Paris", que estreiou em maio desse ano. Sacana esse tal de woody Allen, deveria ter sitado você. beijo

Jacó